A
saudação de Paz e Bem
A
saudação franciscana de “Paz e Bem” tem sua origem na descoberta e na vocação
do envio dos discípulos, que São Francisco descobriu no Evangelho e, que ele
colocou na Regra dos Frades Menores – “o modo de ir pelo mundo”. Lucas (10,5)
fala na saudação “A paz esteja nesta casa”, e Francisco acrescenta que a
saudação deve ser dada a todas as pessoas que os frades encontrarem pelo
caminho: “O Senhor vos dê a paz”.
No
seu Testamento, Francisco revela que recebeu do Senhor mesmo esta saudação.
Portanto, ela faz parte de sua inspiração original de vida: anunciar a paz.
Muito antes de São Francisco, o Mestre Rufino (bispo de Assis, na época em que
Francisco nasceu), já escrevera um tratado, “De Bono Pacis” – “O Bem da paz” e,
que certamente deve ter influenciado a mística da paz na região de Assis.
Haviam, então, diferentes formas de saudação da paz, entre elas a de “Paz e
Bem”.
A
paz interior como fundamento da paz exterior
Na
Legenda dos três companheiros (58), São Francisco dá para seus frades, o
significado único para a paz:
“A
paz que anunciais com a boca, mais deveis tê-la em vossos corações. Ninguém
seja por vós provocado à ira ou ao escândalo, mas todos por vossa mansidão
sejam levados à paz, a benignidade e à concórdia. Pois é para isso que fomos
chamados: para curar os feridos, reanimar os abatidos e trazer de volta os que
estão no erro”.
Trata-se
da paz do coração que conquistaram. Francisco exorta seus frades a anunciar a
paz e a testemunhá-la com doçura, porque este é o único caminho de comunicação
para atrair todos os homens para a verdadeira paz, a bondade e a concórdia.
A
saudação da paz, como primeira palavra que os frades dirigem aos outros, tem o
objetivo de abrir os corações à paz, isto é, à força espiritual interior: a paz
interior da bem-aventurança e a paz proclamada e dirigida a todos, constituem
uma única e mesma realidade.
O
Bem da paz – o “Sumo Bem”
Deus
Sumo Bem é a experiência fundamental de Francisco, o ponto de partida de sua
espiritualidade. Nela se fundamenta a vida franciscana como resposta de amor,
configurando o amado ao Amor. Portanto, “Bem” é Deus-Amor, é a caridade.
Deus,
o Sumo Bem, chamou a todos a participarem do seu Ser, não no sentido de “soma
de todos os bens divinos”, mas Deus, enquanto “bem único”. Por isso, a atitude
típica de São Francisco é o êxtase adorante e a decisão de estar sempre a
serviço deste Deus; um serviço que nasce da alegria da gratidão. É a atitude
que projeta em Deus a completude de si mesmo, que leva a renúncia a tudo, até à
posse de Deus. Francisco descobre neste “vazio”, a presença de Deus, unicamente
como “dom”.
E
é justamente este o sentido da resposta humana, a da conversão ao Bem, ao “Sumo
Bem”: aceitar Deus como centro absoluto da própria existência, e inserir-se no
seu projeto tornando-se seu colaborador. Desta experiência nasce a “doçura”,
que enche a vida de Francisco, a sua necessidade de entregar tudo a Deus
(pobreza), de render-lhe graças e louvá-lo sem cessar. Desta experiência nasce
também a confiança de tudo arriscar, sabendo que Deus não o deixará
desamparado.
“Paz
e Bem” – A paz se constrói pela caridade
Portanto,
a saudação franciscana de “Paz e Bem” é um programa de vida, é uma forma
evangélica de viver o espírito das bem-aventuranças. Nestas duas ‘pequenas’
palavras se esconde um dinamismo e uma provocação: saudar alguém com “Paz e
Bem” é o mesmo que dizer: o amor de Deus que trago em meu ser, é a mesma pessoa
que reconheço nos outros e no mundo e, por causa d’Ele, devemos viver a
caridade – o Bem – entre nós.
Daí
que, a paz só se constrói por meio da caridade (o Bem), porque a caridade é
“forte como a morte” (ct 8,6); à qual ninguém resiste e, quando vem, mata o mal
que fomos para que sejamos outro bem. A caridade gera a paz. A caridade está na
paz assim como o espírito da vida está no corpo. A caridade sozinha mantém
firmemente unidos na paz os filhos da Igreja; faltando a caridade, esta paz se
dissolve. A caridade vivifica os membros de Cristo, os une e os faz estar em
harmonia num só corpo. Ela é como um cabo, em cuja parte superior foi aplicado
um gancho que liga a divindade à humanidade, o cordão que o senhor colocou na
terra e com o qual ergueu o homem para o céu”.
(
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