quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A crônica do Dia das Crianças!
O Variedades da edição de hoje do Diário Catarinense é especial pelo Dia das Crianças, como explica o texto abaixo, publicado na capa do caderno:
O Variedades de hoje é uma homenagem ao Dia das Crianças e, também, ao Dia Nacional da Leitura. As reportagens desta edição foram escritas de maneira a facilitar a compreensão dos baixinhos. Nas páginas seguintes, eles vão encontrar uma entrevista com o escritor Ziraldo, a análise de uma exposição de artes plásticas chamada Era Uma Vez e o lançamento do último livro de Asterix e Obelix, entre muitas outras coisas legais. Então, passe logo o caderno para seu filho ler e curtir.
Fiz minha parte.
O ursinho abandonado
Você ou alguém que você conhece tem um ursinho de pelúcia? Porque você sabe: quem possui um ursinho de pelúcia costuma tratá-lo muito bem, às vezes até como se ele fosse um ser vivo. A gente dá um nome para ele, veste com roupas de criança, perfuma, dá comida de mentirinha que é para ele não passar fome, põe para dormir na cama. Em geral, a gente tem muito orgulho do ursinho, e sente um ciúme danado dele. É por isso que a gente guarda o ursinho no quarto, em cima do armário, encostado em uma estante, sentado em uma cadeira ou em cima de um travesseiro. Ele fica bem à vista, para todo mundo vê-lo! É muito legal ver um ursinho de pelúcia bem novinho.
Mas agora eu preciso dizer que eu conheci um ursinho de pelúcia diferente. Foi assim: na semana passada, eu precisei ir da Ilha para o Continente e do Continente para a Ilha todos os dias – de segunda a sexta –, então eu andei bastante de ônibus. Quando eu voltava para a Ilha, às vezes o ônibus passava pela ponte bem na pista da ponta, em que dá para ver o mar. E toda vez que o ônibus passou por essa pista da ponta, eu vi um ursinho de pelúcia na passarela de pedestres da outra ponte, a que liga a Ilha ao Continente. Ele estava ali, junto com uns trapos, como se estivesse em uma casa qualquer, mas pegando chuva, vento e sereno. Era um ursinho de pelúcia feioso, tristonho, esfarrapado. Ele estava sempre sozinho: nunca tinha ninguém perto dele.
O mundo é o lugar mais bonito que existe, mas nas ruas a gente vê muita coisa triste: trombadinhas pedindo dinheiro na porta de um restaurante ou na mesa de um bar, mendigos dormindo sob a marquise de uma loja ou na entrada de uma igreja, ladrões mascarados roubando o dinheirinho de uma lan house ou o valioso ouro de uma joalheria no shopping center, casebres de madeira que a gente vê quase pendurados nos morros da cidade.
Mas agora pense nesse ursinho de pelúcia abandonado que eu descobri: ele parece não ter ninguém para brincar com ele, cuidar dele com carinho. A gente sabe que há nos orfanatos um monte de meninos e meninas que não têm pai nem mãe, nem ninguém que goste deles, ninguém para cuidá-los, mas um ursinho abandonado eu não conhecia, nunca tinha visto. Não é triste saber que ele ainda pode estar lá, solitário? É como se ele ficasse todo dia, o dia inteiro, pedindo esmolas, pedindo por favor que alguma criança que passa no ônibus e não consegue percebê-lo desça e vá lá brincar com ele.


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