A
crônica do Dia das Crianças!
O
Variedades de hoje é uma homenagem ao Dia das Crianças e, também, ao Dia
Nacional da Leitura. As reportagens desta edição foram escritas de maneira a
facilitar a compreensão dos baixinhos. Nas páginas seguintes, eles vão
encontrar uma entrevista com o escritor Ziraldo, a análise de uma exposição de
artes plásticas chamada Era Uma Vez e o lançamento do último livro de Asterix e
Obelix, entre muitas outras coisas legais. Então, passe logo o caderno para seu
filho ler e curtir.
Fiz minha parte.
O ursinho abandonado
Você ou alguém que você
conhece tem um ursinho de pelúcia? Porque você sabe: quem possui um ursinho de
pelúcia costuma tratá-lo muito bem, às vezes até como se ele fosse um ser vivo.
A gente dá um nome para ele, veste com roupas de criança, perfuma, dá comida de
mentirinha que é para ele não passar fome, põe para dormir na cama. Em geral, a
gente tem muito orgulho do ursinho, e sente um ciúme danado dele. É por isso
que a gente guarda o ursinho no quarto, em cima do armário, encostado em uma
estante, sentado em uma cadeira ou em cima de um travesseiro. Ele fica bem à
vista, para todo mundo vê-lo! É muito legal ver um ursinho de pelúcia bem
novinho.
Mas agora eu preciso
dizer que eu conheci um ursinho de pelúcia diferente. Foi assim: na semana
passada, eu precisei ir da Ilha para o Continente e do Continente para a Ilha
todos os dias – de segunda a sexta –, então eu andei bastante de ônibus. Quando
eu voltava para a Ilha, às vezes o ônibus passava pela ponte bem na pista da
ponta, em que dá para ver o mar. E toda vez que o ônibus passou por essa pista
da ponta, eu vi um ursinho de pelúcia na passarela de pedestres da outra ponte,
a que liga a Ilha ao Continente. Ele estava ali, junto com uns trapos, como se
estivesse em uma casa qualquer, mas pegando chuva, vento e sereno. Era um
ursinho de pelúcia feioso, tristonho, esfarrapado. Ele estava sempre sozinho:
nunca tinha ninguém perto dele.
O mundo é o lugar mais
bonito que existe, mas nas ruas a gente vê muita coisa triste: trombadinhas
pedindo dinheiro na porta de um restaurante ou na mesa de um bar, mendigos
dormindo sob a marquise de uma loja ou na entrada de uma igreja, ladrões
mascarados roubando o dinheirinho de uma lan house ou o valioso ouro de uma
joalheria no shopping center, casebres de madeira que a gente vê quase
pendurados nos morros da cidade.
Mas agora pense nesse
ursinho de pelúcia abandonado que eu descobri: ele parece não ter ninguém para
brincar com ele, cuidar dele com carinho. A gente sabe que há nos orfanatos um
monte de meninos e meninas que não têm pai nem mãe, nem ninguém que goste
deles, ninguém para cuidá-los, mas um ursinho abandonado eu não conhecia, nunca
tinha visto. Não é triste saber que ele ainda pode estar lá, solitário? É como
se ele ficasse todo dia, o dia inteiro, pedindo esmolas, pedindo por favor que
alguma criança que passa no ônibus e não consegue percebê-lo desça e vá lá
brincar com ele.
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