quinta-feira, 26 de maio de 2016

Cláudio César Magalhães Martins

DISCURSO PROFERIDO NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ, EM 16.03.16, APRESENTANDO O LIVRO "PODES CRER, AMIZADE"!, DE LUCIANO DE PAIVA

                "PODES CRER, AMIZADE !" - Que título sugestivo para um livro, ainda mais se tratando de uma obra autobiográfica! O autor - Francisco Luciano de Paiva - meu conterrâneo e colega no Seminário Seráfico de Santo Antônio, conhecido por Ipuarana, dirigido pelos franciscanos, na cidadezinha de Lagoa Seca, vizinha a Campina Grande, na Paraíba, por volta da segunda metade dos anos 50, que já longe vão, desnuda a sua alma nesta obra que surpreende pela sinceridade e pela riqueza de detalhes preciosos que enfeitaram a vida de seu autor.
                A história começa na bucólica cidade de Ipu, terra de Iracema, a índia romântica idealizada por José de Alencar, e de Delmiro Gouveia, o empreendedor pioneiro e visionário que, no início do século XX, implantou, em pleno sertão alagoano, uma indústria movida à energia gerada pelas águas do Rio S. Francisco, onde hoje se situa a usina de Paulo Afonso.
                 Logo no início da obra, indaga Luciano : "De onde vim ?", "Onde estou ?" "Para onde vou ?" - Perguntas essas que, ao longo dos séculos, têm sido feitas por filósofos, cientistas e místicos, sem que, até hoje, tenham-lhes sido dadas respostas totalmente esclarecedoras e definitivas. Conclui o autor que, qualquer que seja nossa crença no pós-morte, o bem que fazemos ao nosso próximo é, sem dúvida, o passaporte seguro para uma eternidade feliz.
                A descrição de sua infância em Ipu passa, em seguida, a ocupar as páginas do livro. Grandes dificuldades afetaram sua família, que, no entanto, soube sobrepujá-las com galhardia e fé em Deus. Luciano não se envergonha de descrever, com todas as tintas, a extrema pobreza em que viveu boa parte de sua infância e juventude. Entretanto, tal adversidade serviu para evidenciar sua têmpera de lutador que, enfrentando enormes desafios, logrou atingir o status de mestre e doutor em Agronomia.
                As peripécias de sua estadia na Cidade do México e em Paris são narradas com riqueza de detalhes. Na Cidade do México cursou a Escuela de Agronomia de Chapingo, onde concluiu brilhantemente o mestrado; em Paris, fez doutorado no Instituto OSTOM (Office de la Rechesse Scientifique et Technique Outre Mer), onde obteve o título de Doutor, também de forma brilhante, não obstante as dificuldades de adaptação que teve de enfrentar na capital francesa.
                O que impressiona em toda narrativa autobiográfica de Luciano é a riqueza de detalhes com que descreve ambientes e as inúmeras relações pessoais que fez ao longo de toda a sua carreira de acadêmico e, posteriormente, de professor da Faculdade de Agronomia, em  Fortaleza. O aspecto humano emerge fortemente em seus relacionamentos com familiares, amigos, colegas de cursos (principalmente no exterior) e amores fortuitos.
                É importante ressaltar que o livro não se exime de comentários de caráter político, nos quais são denunciadas as mazelas nacionais, em especial a repressão perpetrada pelo regime militar e o descaso dos governantes de ontem e de hoje no que se refere à educação. O capítulo "Candidaturas" mostra duas tentativas do autor de eleger-se para mandatos políticos. Contudo, o campo movediço da política impediu-o de contribuir efetivamente para a melhoria das condições de nosso povo.
                O amor à terra natal e à mãe Natureza também se destaca na presente obra. Ao aposentar-se da Universidade, o autor voltou a morar em Ipu, primeiramente  na sede do Município e, posteriormente,  na Serra da Ibiapaba, a uma altitude de 900 m, fugindo dos incômodos e da insegurança da cidade grande.  Tal postura relembra um pouco a saga de Eça de Queiroz no seu clássico romance A Cidade e as Serras, onde a beleza do contato com a natureza contrasta com o desconforto, a futilidade  e a insegurança da cidade grande.
                O gran finale do livro, que é dedicado à sua filha, merece especial destaque. Nele, Luciano resume sua concepção de vida, onde, no relacionamento com as pessoas, devem preponderar sentimentos de amor, compreensão e perdão, ao invés de ódio, rancor, egoísmo, ira, cobiça, ambição, vingança e desídia. Cabe aqui citar, por oportuno,  um pensamento de Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar.” Além desse aspecto eminentemente espiritual, vale ressaltar que, mais uma vez, o amor à Natureza é colocado como essencial, preocupação esta que, no momento atual, constitui um dos pressupostos indispensáveis à sustentabilidade.
                Prezados senhores, eis aí uma obra que tem muito a dizer a cada um de nós. As vitórias e percalços narrados pelo autor em sua trajetória de vida também fazem parte, "mutatis mutandis", da jornada que temos de percorrer ao longo de nossas vidas.
                Parabéns, portanto, ao Luciano pela inspiração e pela qualidade contidas neste liv

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