terça-feira, 1 de março de 2016

    REMINISCÊNCIAS DO IPU

Recentemente aqui, falei sobre o fascínio e a beleza da venusta e vetusta “Bica”, que domina e caracteriza a paisagem tópica e estética da pacata e acolhedora Ipu, gleba alcandorada dos meus penates. Hoje, recordo desvanecido o dia da inauguração da primeira sorveteria comercial daquela movimentada urbe. No vértice da sua fachada esquinada, balouçava uma placa com a legenda: “Bar e sorveteria O Cruzeiro”. Mas a sabedoria popular, logo a simplificou para apenas: “O Cruzeiro”. Esse título constelar foi uma apologia ao novo sistema monetário nacional, que substituiu o antigo réis, e passou a valer a partir de Nov/42. Se não me falha a memória, a inauguração referida, aconteceu no final daquele ano. Foi um dia festivo, dominical, marcado por música e fogos de artifícios. Crianças, jovens e adultos, foram atraídos desde então, pela curiosidade e pelo entusiasmo da degustação. Diariamente afluíam para ali, não apenas populares, mas a fina flor da sociedade Ipuense, não para “beber”, mas para saborear finos e variados sorvetes com coberturas de “chantilly”, (alguns o faziam pela primeira vez), servidos por garçonetes à libré, em mesinhas com toalhas alvíssimas e em taças reluzentes e cristalinas. Era uma oportunidade ímpar para entretenimento e lazer, inclusive para a consecução de novas amizades e consolidação das já iniciadas. Outra atração irresistível: a boa música, que era executada, ao vivo, por uma orquestra primorosa e bem ensaiada. Ademais, os seus “habitués” podiam apreciar uma vasta pinacoteca, exposta nos desvãos parietais internos daquela sorveteria, com paisagens locais e regionais, elaboradas por um expressivo mestre da pintura contemporânea cearense. Em suma: tudo era festa, onírica e real, vivida graças à verve e ao dinamismo do nosso inolvidável e honrado Pedro Tavares.

(Fonte Almanaque Ipuense – 1963)

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