REMINISCÊNCIAS
DO IPU
Recentemente
aqui, falei sobre o fascínio e a beleza da venusta e vetusta “Bica”, que domina
e caracteriza a paisagem tópica e estética da pacata e acolhedora Ipu, gleba
alcandorada dos meus penates. Hoje, recordo desvanecido o dia da inauguração da
primeira sorveteria comercial daquela movimentada urbe. No vértice da sua
fachada esquinada, balouçava uma placa com a legenda: “Bar e sorveteria O Cruzeiro”.
Mas a sabedoria popular, logo a simplificou para apenas: “O Cruzeiro”. Esse
título constelar foi uma apologia ao novo sistema monetário nacional, que
substituiu o antigo réis, e passou a valer a partir de Nov/42. Se não me falha
a memória, a inauguração referida, aconteceu no final daquele ano. Foi um dia
festivo, dominical, marcado por música e fogos de artifícios. Crianças, jovens
e adultos, foram atraídos desde então, pela curiosidade e pelo entusiasmo da
degustação. Diariamente afluíam para ali, não apenas populares, mas a fina flor
da sociedade Ipuense, não para “beber”, mas para saborear finos e variados
sorvetes com coberturas de “chantilly”, (alguns o faziam pela primeira vez),
servidos por garçonetes à libré, em mesinhas com toalhas alvíssimas e em taças
reluzentes e cristalinas. Era uma oportunidade ímpar para entretenimento e
lazer, inclusive para a consecução de novas amizades e consolidação das já
iniciadas. Outra atração irresistível: a boa música, que era executada, ao
vivo, por uma orquestra primorosa e bem ensaiada. Ademais, os seus “habitués”
podiam apreciar uma vasta pinacoteca, exposta nos desvãos parietais internos
daquela sorveteria, com paisagens locais e regionais, elaboradas por um
expressivo mestre da pintura contemporânea cearense. Em suma: tudo era festa,
onírica e real, vivida graças à verve e ao dinamismo do nosso inolvidável e
honrado Pedro Tavares.
(Fonte
Almanaque Ipuense – 1963)
Nenhum comentário:
Postar um comentário