Bica de Ipu
Na qualidade de
filho de Ipu, foi com imensa tristeza que li, no O POVO, a matéria “Barragens e
desvios ilegais de água secam a Bica do Ipu” (16/11), que descreve a situação
em que está a Bica de Ipu, principal cartão-postal da cidade e um dos mais
destacados pontos turísticos do Ceará.
O problema é
antigo. Desde minha infância, nos idos da década dos anos 1950, comentava-se,
na cidade, que agricultores proprietários de terras na região da Serra da
Ibiapaba represavam as águas do riacho Ipuçaba para irrigar suas plantações.
Nunca, no entanto, a Bica havia secado. O problema se agravou ultimamente, uma
vez que, além desses, donos de carros-pipa se apropriam da água para vender,
auferindo lucro. Eis aí uma nova versão da abominável indústria da seca, que
prosperou no Nordeste em tempos que já pareciam pertencer ao passado.
É doloroso chegar
ao Ipu e visualizar o paredão rochoso de onde corria a Bica sem a belíssima
queda d’água que lhe dava vida e encanto. Tal fato se deve não apenas à longa
estiagem que afeta o Ceará, mas à ganância dos agricultores e dos donos de
carros-pipa, supracitados, que demonstram total desprezo para com o município e,
sobretudo, para com as leis ambientais que visam coibir tais abusos. A
consequência desses desmandos foi o desaparecimento total da famosa queda
d’água onde, segundo a lenda, a índia Iracema costumava banhar-se.
De acordo com a
reportagem acima mencionada, a legislação que coíbe tal prática se fundamenta
no decreto que criou a APA em que está a Bica de Ipu, abrangendo uma área de
3.484,66 hectares. Entre as ações proibidas pelo referido decreto, está a
implantação de ações potencialmente degradadoras e a intervenção em nascentes e
encostas.
E aqui vai um apelo
às nossas autoridades, principalmente à Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e
à Secretaria Estadual do Meio Ambiente: apliquem a lei ambiental! Salvem a Bica
de Ipu!
Cláudio César Magalhães Martins
claudiocmartins@msn.com
Presidente da
Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes
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