Resgatando
a época dos alto-falantes
Artigo
de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de janeiro de
1988
A feliz ideia de implantar rádios populares na
periferia de Curitiba, num trabalho de integração comunitária, é uma espécie de
sofisticação dos antigos serviços de alto-falantes, que durante décadas se
constituíam em válida forma de comunicação nos bairros e cidades do Interior.
Especialmente nos fins de semana, em festas paroquiais, junto aos circos e
parques de diversões - que praticamente desapareceram a partir dos anos 70 - os
serviços de alto-falante, com sua linguagem própria, rodando antigos sucessos
em frágeis 78 rpm (quando ainda não existia o elepê), levavam a alegria e a
comunicação a muitas comunidades. xxx Até hoje, nunca houve preocupação de se
estudar a função social-cultural que os serviços de alto-falante representam em
todo o Brasil (e que ainda subsistem em algumas comunidades menores). Muitos
profissionais do rádio começaram dentro de serviços de alto-falante, como
locutores e técnicos. Bonitas vozes se revelaram e a improvisação que os
"animadores" faziam especialmente nas "dedicatórias" das
músicas - "o rapaz de terno de linho branco oferece a guarânia
"Índia" para a moça de blusa vermelha e saia azul que está na roda
gigante" - marcava uma época. xxx Em Curitiba chegaram a existir mais de
dez serviços de alto-falante, alguns dos quais representaram, por anos, a
sobrevivência profissional de algumas famílias. Hoje, praticamente inexistem em
termos autônomos - e através da rádio popular, a Fundação Cultural estará
oferecendo aos bairros um veículo que fala de assuntos locais, transmitindo
inclusive partidas de futebol (o fim do chamado "futebol de várzea" é
outro aspecto a ser estudado na transformação urbana), substituindo,
felizmente, a linguagem pasteurizada, cansativa e imposta com o pior da música
- tanto nacional como internacional - que as AMs e, especialmente, as FMs,
trouxeram nestes últimos anos. Uma reação popular, humilde - mas profundamente
honesta e coerente, com gosto de povo, à falsa elite e a linguagem pernóstica,
falsamente acariocada, que os jovens "comunicadores" das rádios
particulares insistem em impor junto aos ouvintes.
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