terça-feira, 3 de novembro de 2015

QUERO FALAR DO BOAVENTURA OU DO PINTURA como a meninada o chamava.
Era um tipo físico exótico. Rosto magro enriquecido por um farto bigode de pontas viradas e espessas que lhe caia aos peitos. Era um pouco calvo, mas seu cabelo atrás era farto e abundante além de comprido.
Trazia sempre ao pescoço um Rosário, cujos mistérios eram entremeados de medalhas de nossa senhora. Parecia um daqueles Parias da Índia, devido a sua camisa ser de “manapulão” bem frouxa e de mangas compridas. Era sorridente, porém seu sorriso estampava mais tristeza que alegrias. Seus olhos eram tristonhos e lânguidos. Falava a sós. Não sei com quem dialogava, talvez com a esposa que ele mesmo anos atrás matara a facadas, o que lhe rendeu pesada pena.
Dizia-se que passava o dia andando pelas encostas da Serra onde se alimentava de frutos silvestres e animais, até Lagartixa. A noite ia dormir no cemitério, talvez, quem saiba, ao lado do túmulo da amada que matara. Por ter cometido esse tresloucado gesto, passou a auto-impor-se toda essa vida de sofrimento. Hoje tenho certeza, seu pecado foi perdoado, ainda em vida. Seu purgatório deu-se aqui mesmo na terra, e deve-o estar em bom lugar, pois Deus é misericordioso.
Pobre Boaventura, ainda conservo-o mentalmente a tua imagem, que, em menino despertava-me medo, hoje sinto saudade de ti, daí ter lembrado de ti, hoje tu ainda vives, pelo menos para mim.
Que ironia do destino uma pessoa ter o nome de Boaventura e sua vida foi uma má VENTURA.


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