quarta-feira, 11 de novembro de 2015

PREFÁCIO
                             A história de nossa cidade remonta ao século XVII com os primeiros habitantes, época em que já aflorava a revolução cultural através do barroco e a revolução científica, principalmente na Europa, com Galileo, Isaac Newton, Descartes e Pascal. Já em meados do século XVIII, um grupo de clérigos, em missão missionária catequética, iniciaram o processo de edificação da primeira capela. Em poucos anos surgiam os primeiros conflitos decorrentes da disputa por terras e pela hegemonia local entre portugueses, colonos e indígenas, legítimos proprietários já que antecederam aos demais. Somente no ano de 1840 a então freguesia é elevada à condição de vila (Decreto Imperial nº 200 de 26 de março daquele ano) e em 1885 se transforma em cidade (Lei nº 2037 de 27 de outubro de 1883). Ganhou grande impulso no seu desenvolvimento a partir da inauguração da estrada de ferro de Sobral no ano de 1894, e sua ligação com o ramal de Camocim, possibilitando o comércio a partir do porto daquela cidade e aproximando a capital, Fortaleza. No início do século XIX algumas famílias ou clãs já se destacavam, entre elas os Araújos, os Aragão, os Chaves, os Mello, os Mourão, os Feitosas, os Lopes e os Martins, não apenas no Ipu mas na macro-região que se estendia pela serra da Ibiapaba e sertão, Nova Russas, Crateús, Independência, Tamboril. No século XX o Ipu é escolhido, entre outras cidades, para sediar um campo de concentração, ou curral humano. Os campos de concentração eram mantidos pelo estado e pelo governo federal para confinar flagelados da seca de 1932. A prática já havia sido utilizada na seca de 1915, retratada no romance “O Quinze” da escritora cearense de Quixadá Rachel de Queiroz, e visava evitar invasões e saques nas cidades, mesmo que isso custasse a vida de muitas pessoas presas nos “currais do governo”, vigiados por soldados e mantidos com uma pequena ração a base de farinha. A morte, a fome e as epidemias eram companheiras permanentes, estima-se que nos períodos mais agudos morriam até sete pessoas diariamente. O Ipu foi escolhido exatamente pela existência da estrada de ferro e estação ferroviária, condição para a escolha do município. Além do Ipu haviam dois currais em Fortaleza, no Alagadiço e no Pirambu, que ficou conhecido como Campo do Urubu, os demais em Carius, Quixadá, Quixeramobim, Crato e Senador Pompeu. O interventor municipal (não havia prefeito eleito devido ao golpe de estado de Getúlio Vargas de 1930) indicado por Carneiro de Mendonça, e coordenador do Campo era o Sr. Joaquim Lima, auxiliado por seu irmão, o Monsenhor Gonçalo de Oliveira Lima, que fazia o trabalho de consolação e de bênçãos aos flagelados. São personagens que ilustram as páginas do livro. Ipu de Antônio Marrocos, estudioso de fatos ligados a cultura regional, dono de uma das maiores bibliotecas particulares de que se tinha notícia em sua época e que contava com milhares de exemplares, escreveu, entre outras coisas, sobre o tema do campo de concentração em Ipu. A cidade conta ainda com a genialidade e o empreendedorismo de Delmiro Gouveia, idealizador de Paulo Afonso, gerando energia e riqueza para o nordeste, numa época onde escasseavam recursos e sobravam desconfianças numa obra de tamanha envergadura. Nada foi obstáculo para este ipuense.
                                  O país vive um século de instabilidade política, o golpe de Vargas, a renúncia de Jânio, o golpe de 64, o atentado na Toneleiros, a morte de Kubitscheck em 1976 em circunstancias até hoje não bem esclarecidas, a eleição indireta de Tancredo, a morte de Tancredo, o movimento Diretas Já, o impeachment de Collor e a redemocratização. O Ipu não passa ao largo desses acontecimentos e o processo político municipal acompanha a efervescência e fatos políticos em nível nacional. A partir da segunda metade do século XX, a cidade experimenta um período de decadência que acompanha o processo de transformação das ferrovias, modal que passou a não mais interessar ao governo federal ainda nos anos 60 e 70. Decadente, sem industria forte e com agricultura de subsistência e vivendo períodos de instabilidade climática, a cidade transforma-se numa área fértil para as oligarquias, e a partir desses fenômenos  a prefeitura passa a ser a maior empregadora do município. Fato político marcante em 1987, o Ipu perde importante região, que se emancipa Pires Ferreira. Nas décadas de 80 e 90 a cidade vive um de seus maiores momentos ao longo de sua história nas festas mominas, com espetáculos que atraiam moradores de todas as cidades vizinhas e até de regiões mais distantes para celebrar a alegria do carnaval em paragens ipuenses. Destacados personagens dessa época também desfilam nas páginas do livro.
                           Hoje o Ipu conta com pouco mais de 40 mil habitantes de acordo com o senso de 2010 do IBGE, e é nesse cenário que decidimos reeditar o livro “Ipuenses”, com novos e antigos personagens e suas histórias de vida, como elementos que se enlaçam e se misturam, formando a alma da cidade.

Dr. Jerônimo A. e Sá Júnior


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