PREFÁCIO
A história de
nossa cidade remonta ao século XVII com os primeiros habitantes, época em que
já aflorava a revolução cultural através do barroco e a revolução científica,
principalmente na Europa, com Galileo, Isaac Newton, Descartes e Pascal. Já em
meados do século XVIII, um grupo de clérigos, em missão missionária
catequética, iniciaram o processo de edificação da primeira capela. Em poucos
anos surgiam os primeiros conflitos decorrentes da disputa por terras e pela
hegemonia local entre portugueses, colonos e indígenas, legítimos proprietários
já que antecederam aos demais. Somente no ano de 1840 a então freguesia é
elevada à condição de vila (Decreto Imperial nº 200 de 26 de março daquele ano)
e em 1885 se transforma em cidade (Lei nº 2037 de 27 de outubro de 1883).
Ganhou grande impulso no seu desenvolvimento a partir da inauguração da estrada
de ferro de Sobral no ano de 1894, e sua ligação com o ramal de Camocim,
possibilitando o comércio a partir do porto daquela cidade e aproximando a
capital, Fortaleza. No início do século XIX algumas famílias ou clãs já se
destacavam, entre elas os Araújos,
os Aragão, os Chaves, os Mello, os Mourão, os Feitosas, os Lopes e os Martins,
não apenas no Ipu mas na macro-região que se estendia pela serra da Ibiapaba e
sertão, Nova Russas, Crateús, Independência, Tamboril. No século XX o Ipu é
escolhido, entre outras cidades, para sediar um campo de concentração, ou curral humano. Os campos de concentração
eram mantidos pelo estado e pelo governo
federal para confinar flagelados da seca de 1932. A prática já havia sido utilizada
na seca de 1915, retratada no romance “O Quinze” da escritora cearense de
Quixadá Rachel de Queiroz, e visava evitar invasões e saques nas cidades, mesmo
que isso custasse a vida de muitas pessoas presas nos “currais do governo”,
vigiados por soldados e mantidos com uma pequena ração a base de farinha. A
morte, a fome e as epidemias eram companheiras permanentes, estima-se que nos
períodos mais agudos morriam até sete pessoas diariamente. O Ipu foi escolhido
exatamente pela existência da estrada de ferro e estação ferroviária, condição
para a escolha do município. Além do Ipu haviam dois currais em Fortaleza, no Alagadiço e no Pirambu, que ficou
conhecido como Campo do Urubu, os demais em Carius, Quixadá, Quixeramobim,
Crato e Senador Pompeu. O interventor municipal (não havia prefeito eleito
devido ao golpe de estado de Getúlio Vargas de 1930) indicado por Carneiro de
Mendonça, e coordenador do Campo era o
Sr. Joaquim Lima, auxiliado por seu irmão, o Monsenhor Gonçalo de Oliveira
Lima, que fazia o trabalho de consolação e de bênçãos aos flagelados. São
personagens que ilustram as páginas do livro. Ipu de Antônio Marrocos,
estudioso de fatos ligados a cultura regional, dono de uma das maiores
bibliotecas particulares de que se tinha notícia em sua época e que contava com
milhares de exemplares, escreveu, entre outras coisas, sobre o tema do campo de
concentração em Ipu. A cidade conta ainda com a genialidade e o empreendedorismo
de Delmiro Gouveia, idealizador de Paulo Afonso, gerando energia e riqueza para
o nordeste, numa época onde escasseavam recursos e sobravam desconfianças numa
obra de tamanha envergadura. Nada foi obstáculo para este ipuense.
O país vive um século de
instabilidade política, o golpe de Vargas, a renúncia de Jânio, o golpe de 64,
o atentado na Toneleiros, a morte de Kubitscheck em 1976 em circunstancias até
hoje não bem esclarecidas, a eleição indireta de Tancredo, a morte de Tancredo,
o movimento Diretas Já, o impeachment de
Collor e a redemocratização. O Ipu não passa ao largo desses acontecimentos e o
processo político municipal acompanha a efervescência e fatos políticos em
nível nacional. A partir da segunda metade do século XX, a cidade experimenta um período de
decadência que acompanha o processo de transformação das ferrovias, modal que
passou a não mais interessar ao governo federal ainda nos anos 60 e 70. Decadente,
sem industria forte e com agricultura de subsistência e vivendo períodos de
instabilidade climática, a cidade transforma-se numa área fértil para as
oligarquias, e a partir desses fenômenos a prefeitura passa a ser a maior empregadora
do município. Fato político marcante em 1987, o Ipu perde importante região,
que se emancipa Pires Ferreira. Nas décadas de 80 e 90 a cidade vive um de seus
maiores momentos ao longo de sua história nas festas mominas, com espetáculos
que atraiam moradores de todas as cidades vizinhas e até de regiões mais distantes
para celebrar a alegria do carnaval em paragens ipuenses. Destacados
personagens dessa época também desfilam nas páginas do livro.
Hoje o Ipu conta com
pouco mais de 40 mil habitantes de acordo com o senso de 2010 do IBGE, e é
nesse cenário que decidimos reeditar o livro “Ipuenses”, com novos e antigos
personagens e suas histórias de vida, como elementos que se enlaçam e se
misturam, formando a alma da cidade.
Dr.
Jerônimo A. e Sá Júnior
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