segunda-feira, 23 de novembro de 2015


Era mais um dia normal de trabalho. O Sol estava quente, o relógio cronometrava o tempo, os passos e as ideias para uma reunião importante na Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres do Gabinete do Governador. As pautas do Conselho Estadual dos Direitos na Mulher já estavam organizadas, a sala já estava refrigerada, mas, por alguns minutos, toda a minha energia foi canalizada para uma imagem, por uma visão que me fez levantar a cabeça e dar aquele sorriso. Era ela: A Bica do Ipu.
Bom, não era “Ela”, mas sua representação que, com certeza, fez a vida pulsar mais forte na “Selva de Pedra” da Rua Silva Paulet, Fortaleza - Ceará. A tagarela aqui, de pronto, começou a perguntar sobre o quadro, onde ele esteve todos esses anos, quando tinha sido alocado naquela parede e, com uma ponta de orgulho, intercalava as indagações com o bom e velho “Minha família é de lá”.
As recordações falaram mais forte. Lembrei que olhar a Bica é uma das primeiras coisas que procuro fazer quando chego ao Ipu ainda na claridade. Se a viagem é noturna, olhar a Bica no outro dia, bem cedo, não pode faltar. “Oi? Cheguei! Como tem passado? Como vai o inverno?”
Bendito quadro. Ali estava ele. Bem como eu tentava fazer nos desenhos da escola com os meus lápis de cor.
Vieram lembranças da água marrom, barrenta após uma forte chuva, do verde da serra, do clima agradável, das pedras molhadas e escorregadias, “das curvas da estrada da Bica”, dos respingos no rosto, das roupas cheirosas secando na Ponte da Beinha, das piabas nas piscinas naturais do Ipuçaba. De tudo, tudo mais que as águas da Bica significam para aquele município.
Nem tudo são flores e, infelizmente, nem chuva mais anda caindo do céu. Nem Bica, hoje, tenho mais pra olhar. Motivos vários. A reunião estava próxima e chegava a hora de discutir a violência contra a mulher no Ceará. Naquele momento, veio, muito nítida, a imagem da pedra seca, quente, cinza, tristonha, mas o compromisso de trabalho chamava. Bem assim: colocar uma angústia no bolso para enfrentar a outra.
No íntimo, pedi a Deus, que olhasse por elas - as mulheres do Ceará e a Bica do Ipu - para que, apesar das dores, possam ressurgir das cinzas, cheias de vida, como a Fênix da mitologia grega.
Lívia Xerez - Ipu-CE


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