sábado, 7 de novembro de 2015

A crise da Bica


Rainha fui, em tempos memoráveis,
Que beleza rara eu fui,
Com fúlgidas estrelas coroada.
Nas escarpas alteradas eu morava,
Da soberba majestosa serrania
O meu trono colocado nas altura,
Trilha por pedestal a dura rocha
Da sinuosa cordilheira ibiapabana.
A minha fronte era coroada.
Com fulgurantes diademas,
Formados pelas cristalinas águas da cascata altiva,
Que extasia a todos que deslumbra a terra.
A minha fama correu os quatro ventos,
Vivi nos comentários da grande imprensa.
Corri os mundos, fui levada a longínquos continentes,
Os vates mais exímios me entoaram lôas,
Escritores e romancistas me exaltaram
Dizendo dos encantos que me enxornavam a fronte.
Fui berço de vultos legendários.
Da esbelta Iracema do Guerreiro Branco,
As minhas águas se transformavam em véu
Batidas pelo sopro macio da matutina aragem.
Lindas tranças formavam minhas torrentes,
Que dos meus ombros de precipitavam a esmo
No formidando abismo CEM METROS,
Serpenteando entre as rochas em desalinho
No leito rústico do velho Ipuçaba.
Hoje, de vez tudo mudou,
A natureza inclemente o cerne.
Fisionomicamente não sou mais conhecida,
Estancou-se tristemente, a minha fronte,
O Arco-Íris fugiu de mim espavorido,
Eclipsada foi a minha fama,
Não tenho água, não tenho mesmo água.
Perdi a decantada e esvoaçante cabeleira,
Não tenho mais alvinicantes tranças,
Não tenho mais o deslumbrante véu de noiva.
Não tenho mais o soluço pra acordar as gentes
Nas noites solitárias e ermas,
Não dou inspiração aos nossos seresteiros
Não tenho atrativos, não tenho nada,
Resumiu a minha história num rochedo,
Hoje sou pedra... PEDRA...e tão somente pedra.


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