A crise da Bica
Rainha fui, em
tempos memoráveis,
Que beleza rara eu
fui,
Com fúlgidas
estrelas coroada.
Nas escarpas
alteradas eu morava,
Da soberba
majestosa serrania
O meu trono
colocado nas altura,
Trilha por pedestal
a dura rocha
Da sinuosa cordilheira
ibiapabana.
A minha fronte era
coroada.
Com fulgurantes
diademas,
Formados pelas
cristalinas águas da cascata altiva,
Que extasia a todos
que deslumbra a terra.
A minha fama correu
os quatro ventos,
Vivi nos
comentários da grande imprensa.
Corri os mundos,
fui levada a longínquos continentes,
Os vates mais
exímios me entoaram lôas,
Escritores e
romancistas me exaltaram
Dizendo dos
encantos que me enxornavam a fronte.
Fui berço de vultos
legendários.
Da esbelta Iracema
do Guerreiro Branco,
As minhas águas se
transformavam em véu
Batidas pelo sopro
macio da matutina aragem.
Lindas tranças
formavam minhas torrentes,
Que dos meus ombros
de precipitavam a esmo
No formidando
abismo CEM METROS,
Serpenteando entre
as rochas em desalinho
No leito rústico do
velho Ipuçaba.
Hoje, de vez tudo
mudou,
A natureza
inclemente o cerne.
Fisionomicamente
não sou mais conhecida,
Estancou-se
tristemente, a minha fronte,
O Arco-Íris fugiu
de mim espavorido,
Eclipsada foi a
minha fama,
Não tenho água, não
tenho mesmo água.
Perdi a decantada e
esvoaçante cabeleira,
Não tenho mais
alvinicantes tranças,
Não tenho mais o
deslumbrante véu de noiva.
Não tenho mais o
soluço pra acordar as gentes
Nas noites
solitárias e ermas,
Não dou inspiração
aos nossos seresteiros
Não tenho
atrativos, não tenho nada,
Resumiu a minha
história num rochedo,
Hoje sou pedra...
PEDRA...e tão somente pedra.
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