“Iracema”, o romance indianista de
José de Alencar.
A história da índia Iracema que se
apaixona por um europeu, Martim Soares Moreno, personagem histórico real,
mistura aspectos mitológicos da cultura indígena com a colonização do Brasil.
Publicado em 1865, “Iracema”, do escritor cearense José de Alencar, é um
romance escrito em prosa poética, o que dá a obra uma dimensão mítica, de
lenda, mas sempre apoiada em um argumento histórico.
“Para alguns críticos o primeiro
brasileiro aparece na figura de Moacir – filho da união da índia Iracema com o
elemento colonizador, Martim. É a formação da identidade nacional simbolizada
nesse encontro”, avalia Marcelo Almeida Peloggio, professor e Coordenador do
Grupo de Estudos José de Alencar, na Universidade Federal do Ceará.
Autor de teses de mestrado e
doutorado sobre o Alencar, Peloggio destaca a importância da compreensão da
simbologia utilizada pelo autor. Mito e história se complementam na obra.
“Iracema vai sendo esmaecida pelo fator histórico, que é a chegada dos
portugueses e a ocupação da terra. É uma representação do que houve com a
população indígena, que foi dizimada ou sofreu aculturação”, afirma o
professor.
Durante a leitura, é importante que
os estudantes estejam atentos a alguns pontos. Peloggio destaca a riqueza
poética, a valorização da natureza, a celebração das características
brasileiras, próprias do romantismo. “É importante perceber a cor local que
Alencar imprime na obra ao valorizar os elementos. Pássaros, árvores, animais,
a linguagem e o cenário do Ceará do século 17.”
Os estudantes também devem notar a
harmonia que havia entre Iracema, sua tribo e sua terra, e como essa relação
pacífica é quebrada a partir do momento em que o elemento histórico (a
colonização portuguesa) avança e domina. “Quando Iracema se entrega a Martim,
ela rompe os laços sagrados com a sua tribo e sai da esfera mítica para entrar
na esfera da história. Alencar mostra a dura realidade do povo indígena e do
combate civilizatório que se travou naquele momento.”
Identidade nacional
A
heroína é idealizada, representante da natureza brasileira e símbolo da
perfeição. Martim é o colonizador: desperta curiosidade e fascínio, traz o amor
e a desgraça para Iracema (representa a destruição para as tribos indígenas). A
narração em terceira pessoa, deixa, por vezes, entrever a primeira pessoa, um
eu (narrador) saudoso de sua terra natal. “É uma obra que busca criar uma
identidade nacional, um símbolo da nacionalidade brasileira que era uma
necessidade da sociedade naquele tempo”, resume Peloggio.
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