A VIRGEM DOS LÁBIOS DE MEL
O folheto em questão é uma bela adaptação do
célebre romance de José de Alencar, vertido para o cordel, provavelmente na
década de 1930. O Dicionário Bio-Bibliográfico de
Repentistas e Poetas de Bancada (Volume 2) de Átila de Almeida e José
Alves Sobrinho, publicado pela Editora Universitária de João Pessoa-PB, em
1978, atribui a autoria deste romance a Alfredo Pessoa de Lima (pág
610). Já o volume 3 da Coleção Povo e Cultura, intitulado A
Literatura Popular em Questão, lançado pelo Centro de Referência Cultural
da Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, em 1982, diz que a
adaptação do célebre romance de José de Alencar “é atribuída a Luís Gomes de
Albuquerque (PB, 1905 - 1959), e também a Alfredo Pessoa de Lima, outro poeta
paraibano.”
Existem edições, como a que serviu de base para
composição deste opúsculo, editada em Juazeiro do Norte-CE aos 08 de outubro de
1981 pela tipografia “Lira Nordestina”, onde figura como autor João Martins de
Athayde.
Acreditamos que o verdadeiro autor seja Alfredo
Pessoa de Lima, poeta de formação erudita, considerado “um grande orador” por
Roberto C. Benjamim, em entrevista que realizou (em parceria com Mário Souto
Maior) com Dona Sofia, viúva de João Martins de Athayde.
Iracema, na visão de um designer
gráfico moderno
No volume 1 do Dicionário Bio-Bibliográfico
de Repentistas e Poetas de Bancada, José Alves Sobrinho e Átila de Almeida
dão as seguintes informações sobre o poeta:
“Alfredo Pessoa de Lima (Solânea-PB - João Pessoa-PB),
advogado, magistrado, temperamento forte, agressivo, polêmico, mas poeta
popular. Quando estudante de direito em Recife, escreveu alguns romances que
vendeu a João Martins de Athayde. Escreveu folhetos políticos, de ataque
pessoal, ou transformando em vítimas réus que ia defender no júri. Deixou
vários livros escritos, todos polêmicos ou sobre questões jurídicas. Usou o
acróstico CALUNGUINHA.”
No folheto O Neto de Cancão de Fogo, também
de sua autoria, temos o acróstico ALFREDO, na última estrofe.
TRECHOS:
O Ceará é a terra
Prometida a humanidade
Para a alegria do amor
Para a angústia da saudade
Terra bendita onde Deus
Deixou com os carinhos seus
O fruto da liberdade.
Terra da Luz, onde outrora,
Como um doirado vergel
Brotaram as lendas da raça
Sob o estrelado do céu
Onde o arco e a tangapema
Fazem lembrar Iracema
Virgem dos Lábios de Mel.
Recanto de minha terra
Que Alencar tanto amor
Eu vou traduzir em trovas
O que ele em prosa falou
É meu tributo e homenagem
À raça bruta e selvagem
Que o tempo a correr levou.
Nas terras do Ceará
Habitava antigamente
Tribos de índios selvagens
Raça bravia e valente
Entre os quais os Potiguaras
E os valentes Tabajaras
Brigavam constantemente.
Na branca areia da praia
Sombreada de coqueiros
Nunca se encontrou um rastro
Marca de pés estrangeiros
Só os índios potiguaras
Nas suas toscas iguaras
Cruzavam os mares ligeiros.
Desta nação brava e forte
A fama corria as terras
Seus artifícios guerreiros
Eram ouvidos pelas serras
Poty, seu chefe temido,
Cem vezes tinha vencido
Nos combates de cem guerras.
Jacaúna era outro chefe
Daquele povo guerreiro
Depois do chefe Poty
Seu tacape era ligeiro
Era o mais forte e temido
Tinha o corpo parecido
Com o vulto dum coqueiro.
Nunca a nação Potiguara
Fora derrotada em guerra
O grito dos seus guerreiros
Reboava além da serra
O gavião nas alturas
Não tinha as asas seguras
Como os seus pés sobre a terra
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