Serenata
Era noite de lua! Estávamos todos no
Bar Alvora de propriedade do Gessy Torquato.
Violões afinavam suas primas e
bordões, o cantor aquecia a sua voz saltando agradavelmente alguns agudos de
sua voz, outro se manifestava e sugeria o repertório para serem executados nas casas
de suas amadas e tudo mais. Eram os preparativos para mais uma noite de
serenata, daquelas férias de mil novecentos e antigamente.
E a lua como sempre a nos acompanhar
com sua luz argêntea para inspiração das mais doces cavatinas.
E seguíamos em cada casa a mesma e as
preferidas por nós nas residências de nossas namoradas muitas delas hoje nossas
esposas.
Um silencia! Diz o meu amigo Marcos
Lima (Baú), que eu era exigente e pedia que todos fizessem o mais profundo e
absoluto silencia, para que a magnitude das músicas ali executa tivessem um
efeito saído alma e do coração.
A flauta sonorizava as modinhas
executadas naquela noite com o seu gorjeio e o soluçar em notas esmaecidas de
saudades e de uma dolência sem igual
Estávamos, pois noite adentro ou madrugada
infinda pelas ruas onde sentíamos a reciprocidade daqueles momentos que até
hoje chamamos de encantado.
Nas ruas, do Papoco, da Goela, da
Itália, Cel. Felix e na Praça da Estação eram roteiros certíssimos de nossa
musicas em profundo deveio.
Já dizia o cantor “Lua é um disco em
que o criador gravou uma canção”, e nós ali estávamos gravando para perpetuação
da memoria a antiga serenata que até hoje falamos. A Lua não gravou, mas nós
gravamos e até falamos e cantamos as nossas SERENATAS....as Serenatas de
antigamente.
Um
apêndice para contar esta Serenata que chamei de: SERENATA MALOGRADA.
...o
Mello dedilhava habilmente as cordas do violão e eu um vozeirão, era o
cantor-mor. Defronte a residência das garotas das quais éramos fãs, parávamos e
o Mello e Eu interpretávamos os sucessos da época, principalmente músicas do
repertório de Nelson Gonçalves: "Boemia", "Deusa do
Asfalto", "Atiraste uma Pedra", "Renúncia" e outras.
Uma
canção, uma dose de gim-tônica e a madrugada friorenta iam esquentando. Quando o
cantor titular cansava, nós nos revezávamos como improvisados cantores. A certa
altura, interpretávamos com nossos poucos recursos vocais, uma melodia, quando,
alguém que, com certeza queria dormir sossegado, soltou um gigantesco cachorro
para nos atacar. Ao depararmos com o bicho furioso, de olhos acesos, resolvemos
fugir em alta velocidade para salvar a pele. No trajeto, deixamos cair às
garrafas de bebidas que levamos como estimulante. Mas, o pior foi à decepção
que tivemos no dia seguinte. Encontramos, no "footing" do jardim da
praça, um grupo de mocinhas para as para as quais dedicamos nossos números
musicais. Conversando com elas, na esperança de receber elogios, fiquei
decepcionado quando uma delas assim se expressou: "Daqui uns vinte anos
"talvez" você se torne um bom cantor, nem deu para saber quais as
músicas que você cantou".
Depois
dessa serenata frustrada, o negócio foi desistir, definitivamente, de fazer
outra.
As
serenatas percorriam ruas e mais ruas. Vou deixar aqui alguns conceitos meus
sobre ruas.
Ruas. Imprescindível não
caminharmos diariamente nas nossas ruas. Achei por bem afirmar que as ruas são
os lugares onde passam diariamente transeuntes por nossas artérias que são os
nossos principais locais por onde caminhamos.
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