segunda-feira, 27 de julho de 2015




Recebi a Revista Acadêmica, muito obrigado. Vocês todos estão de parabéns pela excelência do trabalho, textos, poesias. Já estou degustando. Gosto, especialmente, de \" Noites Chuvosas de Abril\" que recorda a infância de todos nós. O pingar das goteiras nas bacias e nas panelas, era uma sinfonia que nos convidava ao sono, debaixo das asas protetoras de nossos queridos pais. No outro dia acordávamos cedo e, nosso primeiro olhar era para a bica, ruidosa e rouca, despejando suas águas no saudoso riacho Ipuçaba, lugar preferido de minhas peraltices. O banho de chuva era nosso presente mais esperado: jacarés, açudes, barragens e, finalmente uma sopa quentinha que só uma mãe sabia fazer.
Muito engraçada a felicidade: só nos deixa percebê-la quando já se foi, quando já é saudade, quando já é lembrança, recordação. Pena que tudo isso tenha passado tão rápido em nossa ânsia de crescer, de sermos adultos, de sairmos do ninho, de alçar vôo rumo ao infinito de nossas existências, procurando a felicidade na vida adulta, nos namoros, no casamento, na profissão, em lugares distantes, e nos perdemos na imensidão de nossas responsabilidades, nos estudos, nos filhos, na luta pelo pão de cada dia.
De repente queremos voltar, reviver velhos sonhos, dançar outra vez a música de nossa infância longínqua, perdida numa casinha humilde, numa rua singela, num pedacinho da Terra de Iracema.
Finalmente, voltamos, mas não encontramos mais nosso Ipu, nossos amigos, as paqueras, a chuva já não é a mesma, as goteiras já não pingam mais. Nossas recordações e lembranças não batem com o Ipu de hoje, porque o nosso é uma cidade que morreu, que só existe em nossos pensamentos, em nossos sonhos e lembranças. Recusamos-nos a aceitar o de hoje, este intruso, que insiste em matar aquele. Olhamos para o atual e não o reconhecemos, andamos por suas ruas à procura daquele e nada encontramos. Aqui e acolá vislumbramos um aspecto mortal daquele de nossa geração e nos assustamos porque alquebrado, triste e envergonhado, por tentar manter-se vivo, quando quase tudo já foi embora, morreu ou modificaram. O triste nesta confrontação do nosso com o atual, é termos que aceitar este novo quando verdadeiramente desejamos o outro que foi embora.
Ao escrever estas saudosas palavras, não posso impedir que a criança perdida dentro de mim, reapareça com lágrimas nos olhos, que é a resposta do corpo, quando a saudade espreme nosso coração.
Pedro Fortuna

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