segunda-feira, 27 de julho de 2015

Raimundo Magalhães Júnior - Um Operário da Inteligência

Cláudio César Magalhães Martins

Acredito que poucos saibam quem foi Raimundo
Magalhães Júnior, um cearense brilhante e que nasceu em um
município muito próximo à cidade de Ipu.
Explico-me: o personagem objeto deste artigo veio ao
mundo na cidade de Ubajara, em 12 de fevereiro de 1907.
Seu pai, o jornalista Raimundo Magalhães, foi autor do
VOCABULÁRIO POPULAR, obra publicada em 1911. Aos 17
anos, transferiu-se para a cidade de Campos (RJ), onde fez os
estudos de Humanidades e se iniciou no jornalismo. Em 1930,
mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e, já
no ano de 1934, lançou o seu primeiro livro de contos sob o
sugestivo título “Impróprio para Menores.”
Espírito irrequieto, foi um dos fundadores do Diário
de Notícias, secretário da revista “A Noite Ilustrada” e diretor
das revistas “Carioca”, “Vamos Ler” e “Revista da Semana.”
Em 1930, como redator de “A Noite”, foi enviado ao Paraguai
para cobrir a Guerra do Chaco, que aquele país travava contra
a Bolívia..
Em 1933, casou-se com Lúcia Benedett i, escritora e autora
de peças para o público infantil. Em 1938, escreve a peça
Mentirosa, a qual foi premiada pela Academia Brasileira de
Letras. Entre 1939 e 1942, seis peças de sua autoria entram em
cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. São elas: O Testa de
Ferro, Carlota Joaquina, Um Judeu, a Família Lero-Lero, Casamento
no Uruguai e Trio em Lá Menor.
Fugindo à perseguição política da ditadura de Getúlio
Vargas, seguiu para os Estados Unidos em 1942, onde permaneceu
até 1945, passando a trabalhar no escritório de Nelson
Rockefeller, que, à época, era Coordenador de Assuntos
Interamericanos. Neste período, foi colaborador do The New York
Times, Pan-American Magazine, American Mercury e Theatre Arts.
Ao retornar ao Brasil, participou da redação da revista Brazilian-
American, que então era publicada em inglês no Brasil.
Como tradutor do escritor americano Tenessee Williams,
verteu para o português as peças Anjo de Pedra, A Rosa Tatuada
e Gato em Teto de Zinco Quente. Poliglota que era, traduziu
para a nossa língua inúmeras obras teatrais do inglês, francês,
italiano e espanhol, obras essas que eram representadas
no Teatro Maria Della Costa e Teatro Brasileiro de Comédia.
Embora suas traduções fossem elogiadas pela crítica por sua
fi delidade aos textos originais, o mesmo não ocorreu com as
adaptações que realizou.
Na década de 1950, adaptou para o cinema, sob o título
João Gangorra, a peça Essa Mulher é Minha, que vinha sendo
protagonizada no teatro por Procópio Ferreira. Na mesma década,
escreveu O Imperador Galante, biografi a dramática de D.
Pedro I, encenada no teatro pela Companhia Dulcina-Odilon.
Neste período, logrou eleger-se vereador do Distrito
Federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), exercendo dois
mandatos: 1951-55 e 1955-59. Em 1953, publicou a biografia de
Arthur Azevedo, primeira de uma série de biografias, entre
as quais se destacam Martins Pena e Sua Época e As Mil e Uma
Vidas de Leopoldo Fróes. Publicou também contos, antologias
poéticas, dicionários de citações, provérbios e frases feitas.
Em 9 de agosto de 1956, foi eleito para a cadeira nº 34
da Academia Brasileira de Letras, anteriormente ocupada por
João Manuel Pereira da Silva, pelo Barão do Rio Branco, pelo
Gal. Lauro Müller e por D. Francisco de Aquino Correia. Foi
o 5º cearense a chegar à Academia. Antes dele, lá estiveram
Araripe Júnior, Clóvis Bevilácqua, Heráclito Graça e Gustavo
Barroso. Como acadêmico, exerceu por muitos anos a função
de redator-chefe da revista Manchete. Teve atuação destacada
como autor de radionovelas, que eram apresentadas na Rádio
Nacional. Criou o programa Acredite se Quiser, o qual apresentava,
entre outras histórias, casos de aparições de fantasmas.
Participou, nos anos 50, do processo de implantação da televisão
no Brasil, sendo um dos diretores da TV Tupi. Indagado
sobre como arranjava tempo para suas múltiplas atividades,
respondeu: “O dia dura 36 horas, quando sabemos esticá-lo
por ambas as extremidades. Uma consiste em dormir tarde.
Outra consiste em acordar cedo.”
No ano de 1964, lançou sua obra mais polêmica: Rui: o
Homem e o Mito, onde procura desconstruir o mito criado em torno
de Rui Barbosa, apontando contradições e impropriedades
em suas ações políticas e em suas obras. O livro provocou a ira
dos admiradores de Rui, como se vê no texto abaixo, de Américo
Jacobina Lacombe, então diretor da Casa de Rui Barbosa:
 “Das páginas daquele cartapácio, quem sai realmente
arrasado não é Rui Barbosa; é o título de biógrafo pretendido
pelo organizador. Se ele tivesse ao menos realizado uma compilação
de velhos inimigos de Rui Barbosa: Laet, Moniz Sodré,
Barcelos, Seabra, Bagdócimo, fazendo uma antologia contra o
biografado, teria reeditado muita calúnia destruída, mas teria
fornecido ao público algumas páginas de boa literatura.
Querendo dizer coisa nova, não conseguiu ultrapassar o mau
panfleto. Do ponto em que colocou o estudo não é possível
partir para fazer a revisão de qualquer figura histórica a que
fazem referência os noticiaristas apressados”.
Sobre a personalidade de Raimundo Magalhães Jr., assim
se expressou Murillo Melo Filho, seu colega na ABL e na
revista Manchete:
“Tinha um apetite de escritor e pesquisador, simplesmente
insaciável, que não conhecia limites. Aí também pudemos
admirá-lo como um brasileiro honesto e honrado em
suas posições políticas e convicções ideológicas, um fanático
na disciplina e na pontualidade de entregar, nos prazos certos,
os seus projetos literários, de livros, peças teatrais e traduções,
um exemplo de correção e de lisura em suas atitudes de intelectual
digno e capaz, um companheiro leal e correto, generoso
e atencioso, e que por algum tempo esteve entre aqueles
poucos boêmios com os quais qualquer colega gostaria de fazer
uma grande farra” .
O mesmo colega o descreve, sob o ponto de vista físico,
como sendo baixo e atarracado, com apenas 1,60 m de estatura,
 “algo vesgo e estrábico, características que não o aproximavam
muito de um elegante Apolo. Mas era, ao mesmo tempo,
um homem encantador, de prosa culta e erudita, ajudado por
uma memória prodigiosa.”
Em certa ocasião, Adolpho Bloch, proprietário da
Manchete, mandou desligar a refrigeração do seu ambiente
de trabalho. Em sinal de protesto, Magalhães tirou a camisa,
revelando o seu busto assaz feio e ameaçando tirar o resto da
roupa, o que fez Adolpho Bloch retroagir de sua determinação.
Sua morte foi trágica e inesperada. Em 12 de dezembro
de 1981, ao descer de um ônibus no sinal da Rua Silveira
Martins com a Praia do Flamengo, no Rio, e tentar cruzar o
asfalto para chegar ao seu local de trabalho, na redação da
Manchete, foi atropelado por um carro em alta velocidade,
vindo a falecer. Tinha, então, 74 anos de idade.
Eis um breve perfil do ubajarense Raimundo Magalhães
Júnior, personagem que honrou a cidade onde nasceu e o
próprio Estado do Ceará. Ubajara prestou-lhe justa homenagem,
ao inaugurar, em 23 de dezembro de 2008, uma Casa de
Cultura que leva o seu nome, a qual abrigará o Memorial de
seu filho ilustre.
Por sua inteligência, produtividade e amor ao trabalho,
Murillo Melo Filho o cognominou de “um operário da inteligência”,
título que dá nome ao presente artigo.
Nota do autor:
As informações contidas neste trabalho foram obtidas
através do GOOGLE, mediante consulta aos títulos “RAIMUNDO
MAGALHÃES JR” e “RUI, O HOMEM E O MITO.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário