Caros conterrâneos e amigos de Ipu:
É com grande tristeza e dor na alma que vejo os prédios históricos de Ipu
serem tombados a picareta, trator e escavadeira.
Em comparação com Viçosa do Ceará e Icó, Ipu está anos-luz atrás no que
concerne ao tombamento de prédios históricos e à preservação da cultura.
Precisamos preservar a nossa memória histórica, pois cidade que não
conserva viva sua história está condenada a perder o que de mais precioso
tem, ou seja, a sua identidade.
A especulação imobiliária está devastando o centro histórico de Ipu. Está
irrefreável. Mas grande culpa disso cabe aos proprietários desses prédios,
normalmente casarões, ou aos herdeiros deles. É que as somas de dinheiro
que são oferecidas por eles são irrecusáveis.
Verdade é, também, que os herdeiros precisam, muitas vezes, alienar essas
preciosidades históricas, pois estão precisando de dinheiro para tocar a
vida na educação da família e na saúde dela.
Aí, é que deve entrar o poder público. A Câmara de Vereadores deve estudar
o problema com toda a atenção e cuidado requeridos. Projeto de lei deve ser
votado para preservar a memória histórica de Ipu. Não sou versado em leis,
mas deveria ser feito um levantamento pelos órgãos públicos de todos os
casarões de Ipu de importância histórica e cultural. A partir daí,
proceder-se ao tombamento, através dos órgãos competentes, dar incentivos
fiscais aos proprietários. E, também, incentivos creditícios para sua
conservação e utilização, preservando suas fachadas, conforme prevê a lei.
O que falta em Ipu são mecenas que beneficiem a cultura e as artes. Não é
costume nosso esse tipo de atividade cultural. Exemplo da família de
Osvaldo Araújo, doando a casa antiga à Paróquia, é um ato isolado. Hoje, a
Casa Osvaldo Araújo abriga a Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes
(AILCA) e a Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (AFAI), onde se
desenvolve uma atividade cultural intensa em prol da sociedade.
Precisamos lutar pela preservação da nossa história cultural. Temos três
ícones ímpares em Ipu: a Bica - presente da natureza -, a Igrejinha e a
Estação Ferroviária.
A Bica do Ipu (Fall of Ipu) foi consagrada, no ano de 2013, em selo de
circulação nacional e internacional que está a girar pelo mundo afora para
deleite dos colecionadores.
A Igrejinha foi restaurada e mostra todo o seu esplendor do passado. A
Estação recebeu nova roupagem de acordo com os moldes originais.
E a Estação está prestes a ganhar um novo presente. O DNIT doou à
Prefeitura Municipal de Ipu, graças aos esforços do dinâmico, atuante,
competente e empreendedor prefeito Sérgio Rufino, do Eng.º José Hamilton
Pereira (REFFESA) e de um pequeno grupo de ipuenses, uma locomotiva diesel
para ornamentar a Praça da Estação. Dois vagões também foram solicitados.
A Estação de Ipu vai reviver seu passado glorioso. Os mais velhos vão matar
saudades daqueles belos tempos. E os mais jovens vão ter a noção do que o
transporte ferroviário representava para Ipu. O conjunto de uma locomotiva
e de dois vagões vai configurar o quanto a Estrada de Ferro foi importante
para Ipu nos aspectos arquitetônico, econômico, urbanístico, social,
artístico e cultural.
Com efeito, a Estação de Ipu é um dos principais e conhecidos ícones da
cidade, ao lado da Bica (Fall of Ipu) e da Igrejinha, como me referi
anteriormente. E foi parte integrante da minha infância e da minha
juventude, pois, como disse a nossa escritora Raquel de Queiroz, “ menino
criado em beira de linha fica com o trem no sangue”.
Era a Estação o ponto de encontro diário de grande parte da população da
cidade e daqueles que, ocasionalmente, vinham dos distritos, sítios e
fazendas. Ao toque da sineta, anunciando a chegada próxima do trem, as
pessoas se dirigiam em correria para lá. A Estação presenciou, sem dúvida,
grandes momentos e episódios marcantes. Eram partidas e chegadas de entes
queridos, encontros e desencontros, alegrias e tristezas, boas-vindas e
despedidas, sorrisos e lágrimas, beijos e tapas, juras de amor e chiliques
de ciúmes, inícios e términos de namores e flertes. Enfim, as alegrias e as
vicissitudes que povoam os fundos arcanos da misteriosa e insondável alma
humana.
Cordialmente,
Olívio Martins de Souza Torres
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