quarta-feira, 29 de julho de 2015

Esquerda que não se endireita x Direita Sinistra

João Martins de Souza Torres

ESQUERDA QUE NÃO SE ENDIREITA VERSUS DIREITA SINISTRA
ELEITOR versus ELEITO
Em 2005, quando do meu ingresso como membro titular
da Academia Cearense de Medicina, fiz no convencional
discurso de posse um pronunciamento referente à situação,
progressivamente deteriorante da política brasileira, centrado,
especialmente, no aspecto ético.
À época, confessei-me bastante apreensivo, dizendo
textualmente “ser o Brasil uma vítima fragilizada em
conseqüência de uma pérfida combinação política constituída
por uma ESQUERDA que não se endireita versus uma
DIREITA sinistra”.
No decorrer destes oito anos venho constantemente me
perguntando: Teria eu sido ingênuo nesta assertiva ou o Rei
Tempo (Chronos) da Mitologia grega me dera razão? A segunda
hipótese, infelizmente, me parece a verdadeira.
Faz-se necessário um breve retrospecto histórico para
melhor compreensão, especialmente dos mais jovens.
Ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Ceará no início de março de 1964. Havia, até então
e por muito anos, apenas uma escola médica no Ceará. Hoje
são sete. Também em março do mesmo ano, no dia 31, deu-se
a Revolução Militar, assim cognominada por seus promotores
e simpatizantes, enquanto os opositores a chamavam de
Ditadura Militar.
Abolidos todos os partidos políticos, foram criados pelo
sistema apenas dois: ARENA e MDB. O primeiro - ALIANÇA
RENOVADORA NACIONAL - apoiava, irrestritamente, o
governo militar. Era a DIREITA civil e servil. O segundo partido
era o MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, de
oposição, a chamada ESQUERDA. Seus componentes foram
os políticos que não aceitaram e combateram, como podiam, o
regime militar. Contavam com o apoio da maioria dos intelectuais,
dos artistas e da Igreja.
O regime militar durou vinte anos. Pela ordem foram
seus presidentes: Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, Gal Artur da Costa e Silva, Gal Emílio Garrastazu
Médici, Gal Ernesto Beckmann Geisel e, por último, Gal João
Baptista de Oliveira Figueiredo.
Há de se reconhecer que coisas boas também foram
feitas, destacando-se a unificação dos Institutos de Pensão
e Aposentadoria na área da Previdência e da Saúde, o INPS
(Instituto Nacional da Previdência Social) que evoluiu para o
atual SUS e INSS.
Em 1964, foi criado também o Banco Central do Brasil,
entidade que desempenha o papel de autoridade monetária
no país.
Outro feito de grande alcance social foi a justíssima aposentadoria
rural do homem e também da mulher do campo até
então abandonados. Trouxe significante segurança e dignidade
ao trabalhador rural envelhecido. É, de longe, o principal
responsável pela sustentabilidade econômica das regiões mais
pobres do país a chamada aposentadoria dos idosos.
A economia do Brasil mostrou evidências de significativo
crescimento, dando espaço para ser denominada de “milagre
econômico”.
No campo político, a ditadura, toda poderosa, fez o
que quis. Cassou corruptos e, lastimavelmente, importantes
líderes políticos que lhes pudessem oferecer obstáculos.
Exemplo maior foi o caso do carismático Presidente Juscelino
Kubitschek que, além de cassado e exilado, quando de seu retorno
ao Brasil teve morte, ainda hoje, enigmática.
O maior dos benefícios do regime militar, embora totalmente
desnecessário, foi convencer que ditadura é coisa
deplorável. Não importa se de direita ou de esquerda, ela é
visceralmente danosa à democracia. À sociedade, lhe é execrado
o imprescindível exercício da cidadania. Todo sistema
que tolhe a liberdade, especialmente com o uso da força bruta,
da violência e/ou da tortura, deve ser banido sempre e para
sempre. Vale o antigo dizer: A ditadura é sempre má nem que
o ditador seja, eventualmente, bom.
Após incessantes e ferrenhas lutas da obstinada oposição
com crescente importante apoio da população, tendo a
decisiva participação da Igreja, dos artistas e intelectuais, em
sua nítida maioria, deu-se a custo alto, inclusive de muitas
vidas, a redemocratização, pondo fim a um logo período de
governo militar (vinte anos).
Embora com o fracasso inicial da majestosa e gigantesca
campanha das DIRETAS JÁ, Tancredo Neves se elegeu, por
via indireta, Presidente da República. Veio a falecer poucos
dias antes da posse, havendo forte comoção nacional.
Sob grande tensão política, José Sarney, seu vice, assumiu
a presidência. Foi um período conturbado e muito permissivo,
especialmente na questão ética. A direita reacendeu
seus vícios de modo insaciável.
A inflação perdeu o controle. Criou-se o PLANO
CRUZADO muito mal sucedido. Conseguindo mais um ano
de mandato à custa de inconfessáveis matreirices, Sarney,
mestre no assunto, governou por um quinquênio.
Fernando Collor de Melo, ex-governador das oligarquias
alagoanas, por via direta e num partido político desconhecido
e pequeno, se elege presidente da República, tendo
como vice o ex-governador de Minas Gerais, Itamar Franco
(PMDB), de grande respaldo ético. Sua principal bandeira da
eufórica campanha foi a apetitosa promessa de implacável
combate à corrupção, com sua emblemática caça aos marajás.
No final de 1992, o Congresso Nacional, com esmagadora
maioria, cassa Collor (impeachment), após a memorável
manifestação de rua dos “caras pintadas” de verde-amarelo.
Assume, constitucionalmente, seu vice, o honrado
Itamar Franco. Acontece o Plano Real, orquestrado pelo ministro
da Fazenda, o sociólogo e senador Fernando Henrique
Cardoso. A inflação é, realmente, controlada. Com o sucesso
do Plano Real, Fernando Henrique se elege, em primeiro
turno, presidente da República, em 1994. Por ter sido reeleito,
também em primeiro turno, governou por oito anos.
O instituto da reeleição, até então inédito no Brasil, custou
acordos políticos muito danosos ao país. Apesar de ter
controlado com eficiência a inflação e ter implantado reformas
por meio de questionáveis e nebulosos métodos de privatização,
o país esboçou progresso econômico e social, alcançando,
inclusive, visibilidade internacional.
Em 2002, na terceira tentativa, Luís Inácio Lula da Silva
vence as eleições. Usou como arma de campanha o combate
à corrupção da direita, ostentando, garbosamente, a sagrada
bandeira da ética, da qual o Partido dos Trabalhadores (PT)
muito se ufanava. Contou com o apoio predominante dos
intelectuais, dos artistas e da Igreja adepta da Teologia da
Libertação, tendo como alvo favorecer as classes menos privilegiadas
que se constituíam em esmagadora maioria.
Carismático e habilidoso no jogo político, Lula conseguiu
melhorar, visivelmente, as condições socioeconômicas
dos desvalidos, especialmente nas regiões mais pobres (Norte
e Nordeste). Seu principal plano midiático FOME ZERO foi
efetivo, projetando-o nacional e internacionalmente.
No campo da macroeconomia, elevou substancialmente
as reservas cambiais do país e retirou o Brasil da tutela do
Fundo Monetário Internacional (FMI), pretensão considerada
quase impossível.
Com o instrumento de utilização de vários tipos de
bolsa, buscando oferecer apoio financeiro às camadas mais
pobres, sem exigir delas nenhum trabalho, tal fato tem se
constituído, na minha visão pessoal, educativamente muito
deletério, viciando o cidadão que incorre no risco de perder o
respeito ao trabalho.
Muito mais que o PT foi o presidente Lula, por seu carisma
e capacidade no jogo político, o principal responsável pela
eleição de Dilma Rousseff à presidência do Brasil, a primeira
mulher brasileira a ocupar este posto.
Ainda no governo Lula, as crises econômicas internacionais
tiveram pouca repercussão na economia nacional.
Contudo, atualmente, já se fazem sentir os efeitos das crises
internacionais. O crescimento do país não tem atingido os índices
anuais previstos pelo próprio governo.
A corrupção no Brasil vem crescendo na freqüência e
no montante, porém detectada, sem dúvida, em decorrência
de um melhorado diagnóstico graças, principalmente, à ação
destacada do Ministério Público e da Polícia Federal. O mais
frustrante é isto ocorrer no governo do PT que sempre ostentou
a bandeira da ética como seu principal instrumento de
persuasão. Vide o emblemático MENSALÃO que, em nada, é
inédito no Brasil, apenas ocultado.
Em junho de 2013, o povo mais uma vez, especialmente
a juventude, decepcionado e indignado com tantos e vultosos
escândalos da mais descarada e diversificada corrupção, foi
às ruas das principais cidades brasileiras (Clamor das Ruas).
Protesta veementemente contra o “status quo”, usando as redes
sociais como principal instrumento de comunicação. Rejeita
firmemente a participação de todos os partidos políticos, negando-
lhes credibilidade e respeito.
Estes, os partidos políticos e o Poder Executivo, surpresos
e, aparentemente, apavorados, à semelhança de grandes
pecadores, esboçam superficiais e desacreditadas promessas e
votos de mudanças moralizadoras no tabuleiro político.
O povo está incrédulo, desamparado, inseguro, sentindo-
se enganado e desenganado. Não acredita nos governantes
executivos, do prefeito ao presidente. Desaprova, visceralmente,
o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Este, com as
leis atuais vigentes, além dos vícios que porta, se sente limitado
na função primordial de fazer justiça. Este sistema não está
bem. Basta ver: as cadeias abrigam apenas a classe pobre; os
ricos escapam quase todos.
Como fica? A DIREITA é sinistra e a ESQUERDA não é
direita.
Resta-nos revisar o binômio ELEITOR versus ELEITO.
Cada um de nós, eleitor, tem que exercer com decência,
vigor e rigor a cidadania que significa cumprir o dever e exigir
o direito. Colocar a culpa de tudo só no eleito – o político,
representante de nós cidadãos – é pouco, incompleto e até injusto.
Cabe-nos escolher com seriedade os candidatos e deles
exigir. Nós temos o principal tribunal sob nossa responsabilidade:
O PODER DO VOTO.
A sociedade, como um todo, tem que participar. É isto
que ocorre em países democraticamente mais sólidos.
Resta-nos o óbvio convencimento de que tudo para melhorar
o nosso país passa pela EDUCAÇÃO.

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