Cabaré do
IPU.
A luz da
turbina instalada ao pé da serra, onde as serranias se mesclam com o verde
maravilhoso da nossa Ibiapaba, uma luz branca que não atendia mais a demanda do
consumo da cidade ofuscava logo as primeiras horas da noite. Os transeuntes justamente
às nove da noite eram pouquíssimos na cidade, salvo alguns “Guardas Noturnos”,
o “Zé Brasilino e o Zé Torres” de cacete na mão com um casaco de lã para se
protegerem do frio e umas boas doses de pinga para aguentar a virada da noite.
E por mais que fôssemos como dizemos, solteiríssimos, tinha-nos a preocupação
para não sermos vistos indo para o Cabaré. Os temíveis preconceitos, o conceito
de cada um que estava em pauta para não manchar o seu nome perante suas
namoradas e a sociedade como homens que frequentavam os Cabarés ou o Cabaré da
cidade. Que sociedade? Hipócrita por excelência sempre com a precípua preocupação
com a vida do outro.
Nos, ou no
Cabaré muitas mulheres sempre aguardando os seus pretendentes ou qualquer um
que aparecesse ou aquele que (pintasse no pedaço). No período das festas
religiosas o número de mulheres crescia e o fluxo aumentava de forma
considerável, dados os festejos que moti- vavam a vinda de muitos ipuenses
distantes e das circunvizinhanças. Existiam aquelas que não frequentavam o
“Borel”, ou seja, a “Vila Nova”. Eram as perambulantes da noite. Ressalto
nestes escritos a famosa “Suçuarana”. Nome de batismo: Maria. Era filha de um
vendedor de frutas, homem muito alto e fino, apelidado de Lenheiro, não ficava
zangado com a alcunha que recebera, pois o seu nome oficial era José. Suçuarana
teve as suas primeiras experiências sexuais com um Juiz que efemeramente estava
na Comarca de Ipu. Depois de parida passou a andejar pegando um e outro. Não
usava calcinhas, salvo naqueles dias. As suas características eram: mulher
alta, corpo bem feito, mas de rosto feioso. Era caridosa a todos que a
procuravam ela atendia visando o faturamento do coito. Desapareceu há muitos
anos, não sabemos o seu paradeiro ou até mesmo se está viva ou morta, isso era
nos anos 1960, a rascoeira Suçuarana talvez tivesse a idade de 15/16 anos.
Outra viandante da noite era a Vassoura. Uma mulherzinha baixa e muito e feia.
Sensual, atendia apenas por uma olhada de qualquer homem. Era a doméstica da
casa do Sr. Luiz Belém que ficava no Quadro, onde hoje é a casa do seu filho
Antônio Belém. Foi outra piturisca que desapareceu misteriosamente. Outra
“andarilha de nome “Biscuit” ou Diacuí”, não me recordo bem a sua antonomásia,
mas era mais ou menos assim. Era baixinha e muito feia e já com alguns anos
pesando em seus ombros ou na sua vida, mas estava sempre a procurar os homens
que lhe aparecessem. “Tinha os ‘olhos cheios de’ Sapiranga” ou
cientificamente “O Tracoma”, mas mesmo
assim fazia as suas peripécias. Outras que percorriam as noites era a mulher do
Sebastião Galo, um exótico que apesar de meio tresloucado, era também um bicho
de chifre. A Socorro Coco também compunha o quadro das volantinas da noite,
carregando os seus candidatos para o “Chatô” ou “Chateau” da velha “Maria
Maga”, no início do Alto das Pedrinhas.
A IUTE era
uma tronga mais requintada, pertencia aos mais oirudos e na falta destes a
garotada tomava conta. O festival do bacanal era na Ponte do Trem, que não era
a Ponte Seca e sim a Ponte Molhada, por onde corre o Riacho Ipuçaba; na areia
fina, fria e branca por onde corria a límpida água da Bica. Era mais ou menos
assim o movimento das marafonas em nossa Ipu nos fins dos anos 1950 e início
dos anos 60. Era um perigo, pois, na época ainda não existia o anticoncepcional
e a camisinha era coisa rara, mas, mesmo assim acontecia de tudo. As doenças
venéreas eram pertinentemente visíveis, e a gravidez era evidente, um risco a
cada encontro amoroso. Para quem contraía as tais doenças a medicação indicada
era o BISMUTO, muitas das vezes sem nenhuma resposta ao tratamento e o
resultado final era o ato cirúrgico. Não queremos esquecer duas Biscaias de uma
forte expressão, que marcaram de verdade uma época de ouro dos nossos cabarés,
refiro-me a “Boloza” e a “Bezerra de Ouro” duas mulheres da preferência da
maior parte dos homens (abastados, funcionários públicos) que frequentavam o
Cabaré do Ipu, ou seja, a Vila Nova. Citamos ainda: Ana Paula, Ana Pires,
Teresa Sena, Maria Tamboril, Chica e Teresa Bival. Além da Vila Nova, Maria Maga,
existia ainda a Rua da Mangueira, o Gato Preto, e o Xenxém, todos, lugares de
prostitutas.
Se foram!
Hoje a fuampada corre frouxa nas esquinas e beira de calçadas de qualquer rua
para qualquer um. Os Cabarés se acabaram.
P.S. Cancão,
figura que se identificava com sua profissão, era um pincho se prestava ao
papel de dar recados das mulheres de vida fácil daquele tempo aos homens
preferidos por elas. Carregava bilhetes e cartas da mulherada dos cabarés nos
tempos idos. Assim fazia mandados e compras para todos e todas que lhe
solicitasse. O rúfio Cancão. Morreu em idade avançada sem deixar a profissão.
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