PACIFISTA- Dom. Helder Câmara.
Igreja Católica inicia processo de canonização de Dom Hélder Câmara
O arcebispo de Olinda e Recife (PE),
dom Antônio Fernando Saburido, vai dirigir domingo (3), a partir das 9h, na
Igreja da Sé, em Olinda, celebração para marcar a abertura do processo de
canonização de Dom Helder Câmara (1909-1999), que esteve à frente daquela
Arquidiocese e foi um dos responsáveis pela criação da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB). Por sua bondade, senso de justiça, humildade e defesa
da não violência ativa, foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Não
ganhou, mas o pacifista Dom Helder, natural de Fortaleza, foi considerado, por
muitos, muito mais: “um santo em vida”, como afirmou à ABN o pesquisador e
colecionador de discos, filmes e fotos Christiano Câmara, sobrinho do
religioso.
Christiano recorda do então “Padre
Hélder” - como a família se habituou a chamar o Dom
- visitando sua casa e pedindo conselhos ao tio Gilberto
Câmara, por volta de 1936. “Eu era pequeno, mas lembro. Ele sempre foi contra
as injustiças. Perguntava a meu pai como devia se portar”, conta. E que
conselho recebia? “Para moderar um pouco”, revela. Se para muitos a miséria
causa violência, Christiano comenta que, para Dom Helder, “a miséria já é a
própria violência”.
Caridoso e desapegado de bens
materiais, o Dom, segundo Christiano, muitas vezes deixava as freirinhas do
convento, onde ele morava em Recife, preocupadas. “Na hora do almoço, elas
ficavam vigiando a porta porque se aparecesse algum pobre pedindo esmola, ele
dava o prato que estava comendo”.
O espírito solidário e justo sempre
moveu o religioso. No tempo em que viveu no Rio de Janeiro, sendo bispo
auxiliar, esteve à frente de inúmeras iniciativas em favor dos pobres. Atos
simples como distribuição de sopa e outros maiores como a criação do Banco da
Providência, para ajudar os desvalidos e a Cruzada São Sebastião para dar casa
a moradores de favelas.
Quando foi Arcebispo de Olinda e Recife
(1964-1985), Dom Helder quebrou protocolos. “Pobre tinha hora para ser
atendido, mas ele dizia que a fome não tem hora”, relembra o sobrinho. Tanta
abertura pôs a vida dele em risco, certa vez. “Atendeu um homem que tinha ido
lá para matá-lo, mas diante dele caiu ajoelhado. A bondade de Dom Helder o
desarmou”, relata Christiano.
Nos tempos difíceis da Ditadura
Militar, quando o Dom se tornou um nome de referência mundial na defesa dos
direitos humanos e contra o arbítrio, Christiano lembra o quanto o religioso
sofreu com as perseguições. Se vinham dos militares vinham também da ala
conservadora da Igreja Católica, que não via com bons olhos a atuação
progressista do Dom. “Mas mesmo na Ditadura, uns generais tinham admiração pelo
‘Padre Helder’”, garante Christiano.
E como o sobrinho pesquisador se sente
ao saber que o tio religioso é um possível Santo da Igreja Católica? “Me sinto
todo aperreado. Agora não vou poder fazer mais nada, nenhuma sem-vergonhice, nem
olhar passar um ‘avião’”, responde Christiano, brincando, ele que é casado há
58 anos com a Dona Douvina.
DO PADRE PARA O DOM
Em Fortaleza, o Padre Geovane Saraiva,
vice-presidente da Previdência Sacerdotal e
Pároco de Santo Afonso, na Parquelândia, é grande conhecedor
da vida e obra de Dom Helder. Em resposta a perguntas feitas pela ABN, ele
enviou um belo artigo: "Apesar de não ter convivido com Dom Hélder, ao
ingressar no seminário em 1974, comecei a admirá-lo. Tive a sorte de ficar com
ele em três ocasiões. Sua vida foi um verdadeiro hino de louvor a Deus. Em 1948
como padre novo no Rio de Janeiro se expressou de modo muito profundo e em tom
poético: 'Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas
dos desesperados'.
Na foto: Pe. Geovane Saraiva com Dom
Helder, na Catedral de Brasília, em julho de 1980, aguardando o Papa João Paulo
II.
ENTENDA O PROCESSO DE CANONIZAÇÃO
Foi no último dia 6 de abril que a
Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu do Vaticano a carta declarando
que “nada obsta, da parte da Santa Sé, a que a Causa de
Beatificação e Canonização do Servo Deus dom Helder Pessoa Câmara possa ser
realizada”. Dois dias depois, a Arquidiocese lançou o edital convocando todos
os fieis e interessados em fornecer quaisquer documentos pertencentes ou
referentes a Dom Helder que sejam úteis ao processo.
Neste domingo, começa, então, a etapa
diocesana do processo. Dom Saburido irá apresentar a comissão responsável por
estudar os textos publicados em vida e analisar os testemunhos de pessoas que
conheceram o Dom. O processo passará por outras comissões, como a teológica e a
jurídica até o papa conceder ao religioso o título de venerável servo de Deus.
Depois disso, o próximo passo é a beatificação e, posteriormente, caso se
comprove um milagre dele, é que se dá a canonização.
Fonte: Agência da Boa Notícia, com
informações da Arquidiocese de Olinda e Recife
Nenhum comentário:
Postar um comentário