O CLÃ DE SANTA
QUITÉRIA
Resumo de "O
clã de Santa Quitéria".
MACÊDO, Nertan. O clã de Santa Quitéria. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1967.
(Deixei o computador fazer a correção gramatical da época da publicação).
Segundo o autor, do português João Pinto de Mesquita, unindo-se a indivíduos
das Vilas de Sobral, Santa Quitéria e Granja etc. descendem as famílias Pompeu,
Paula Pessoa, Catunda e mesmo Acioly (por adesão matrimonial).
O SARGENTO-MOR PINTO DE MESQUITA
A família Pinto de Mesquita fugiu à regra, na sociedade cearense, da tradição
predatória e decadente, anunciada por João Brígido, para quem aos pais ricos
sucedem sempre filhos nobres – e a estes, netos empobrecidos pela
irresponsabilidade e incapacidade na gestão da riqueza acumulada. P. 17
Também foram os Pinto de Mesquita, ao longo da história da formação da
sociedade pastoril cearense, uma outra exceção: o clã, numeroso, rico e
fidalgo, não produziu, como seria de esperar, cangaceiros e valentões,
vingadores do rifre e do punhal, a talar os sertões que habitavam com os seus
cavalos relinchantes e bárbaros, afeito à fumaça dos combates e tropelias
selvagens. P. 17.
Ao contrario dos Montes e Feitosas, dos Melos e dos Mourões, cujas prosápias de
nobreza são duvidosas e obscuras, os Pinto de Mesquita eram de fato “homens
bons” no exato conceito e quem a sociedade reinol e colonial traduzia essa
expressão.
●Os “homens bons”:
Os “homens bons”, acrescenta Oliveira Viana, constituíam uma elite
reduzidíssima, “uma minoria insignificante em face da massa numerosa de nossa
população”: ... “tinham os seus nomes inscritos nos “Livros da Nobreza”,
existentes nas Câmaras. Em conseqüência disso, só eles podiam ser eleitores.
[...]. 18.
Sua presença na vila era obrigada, apenas, pelas solenidades do culto religioso
ou pelas atividades da vereança, a coisa pública, “uma dignidade, um munis, uma
honraria”, lembra o autor de “Instituições Políticas Brasileiras”. 18.
Os desses “homens bons” foi o patriarca dos Pinto de Mesquita, o Sargento-Mor
João Pinto de Mesquita, varão sisudo, de sangue velho e limpo, que há mias de
duzentos anos ostentava nos campos de Santa Quitéria os seus vastos e opulentos
criatórios, além dessa prosápia de tradições milenárias (sic), oriundas da sua
nobreza peninsular, bem própria da sua raça monarquista, feudal e católica. 19.
Chegou João Pinto de Mesquita ao Brasil em companhia de um irmão, Manoel
Santiago Pinto, indo residir nas terras que adquirira por sesmaria no rio
Jacurutu, situando a sua primeira fazenda de gados no curso médio desse rio, no
local hoje denominado Jacurutu-Velho, não muito distante da povoação do Riacho
dos Guimarães, que era, então, ao tempo, o único núcleo populoso de pequena
importância e comércio na região. 21.
●Casamento de colono branco com mulher índia:
Esse irmão do Sargento-Mor, Manoel Santiago Pinto, foi, por sua vez, residir na
Vila Viçosa Real da América, atual cidade de Viçosa do Ceará.
Naquela vila, casou Manoel com Dona Luiza Pereira de Santiago, de origem
tabajara. Possuía muitas propriedades na serra da Ibiapaba e no sertão do
Acaraú. [...] . p. 22
●Curiosidade: ia-se buscar parceiro matrimonial por paragens muito distantes:
Pouco tempo depois, em 1726, casou-se com Dona Tereza Rodrigues de Oliveira,
filha do Capitão Luiz de Oliveira Magalhães, natural de Sergipe d’El Rei, e de
Dona Isabel Rodrigues Magalhães, natural do Rio Grande do Norte e irmã do do
Capitão-Mor Antonio Rodrigues Magalhães, dono de muitas fazendas de criação,
entre as quais a Fazenda Caiçara, hoje cidade de Sobral, de cujas terras, por
escritura pública, de 10 de dezembro de 1756, fez doação de duzentas braças
para a constituição do patrimônio de Nossa Senhora da Conceição, e sob a
invocação desta santa se erigiu a igreja que é hoje a Catedral do Bispado de
Sobral. P. 22.
Nesse ano, João Pinto de Mesquita casa, na velha povoação do Riacho dos
Guimarães, hoje cidade de Groairas.
Em 19 de setembro de 1733, o Capitão-Mor da Capitania do Ceará, Leonel de Abreu
e Lima, concedia a João Pinto de Mesquita a data de sesmaria de “uma sorte de
terras de três léguas, no riacho Maritipoã (hoje Sussuanha), sobre a serra da
Ibiapaba”, mas antes já ele obtivera datas de sesmarias em quase todas as
terras marginais ao rio Jacurutu, que tem um curso de 90 quilômetros, além de
muitas outras adquiridas por compra nos rios Groairas e Jaibara. 23.
●Principais famílias colonizadoras da região norte do Ceará:
Daí a rapidez com que eles logo se entrelaçaram com outras famílias, no seio
das quais imprimiram a sua marca racial, na formação de ramos unilaterais,
nascidos de casamentos de seus descendentes com pessoas de outras linhagens e
de outro sangue.
Os Magalhães, os Tôrres, os Vasconcelos, os Cavalcanti de Albuquerque, os Alves
da Fonseca, os Paula Pessoa, os Sabóia, os Gomes parente, os Barbosa Cordeiro,
os Frota, os Acioly, os Bezerra de Menezes, os Viriato de Medeiros, os Arruda,
os Jucá, os Sanford, os Brito, os Castro, os Lessa, os Pires Ferreira, os Alves
Pequeno, os Linhares, os Figueiredo, os Miranda, os Holanda, os Farias, os
Pinhos, os Bessa, os Lopes Freire, os Martins, os Pontes, os Fontenele, os
Memórias, os Araújo, os Andrade – todas essas famílias, originárias umas de
Pernambuco e do Rio Grande do Norte, outras da Paraíba e do Piauí, aliando-se,
pelo casamento, às matrizes raciais da casa senhorial do português João Pinto
de Mesquita, concorreram para ampliar a fronte da sua árvore genealógica.
Mas o velho sobrenome – Pinto de Mesquita – não desapareceu, não se diluiu
neste profundo cruzamento com outras casas e linhagens. Ainda hoje ele perdura
e se repete no prolongamento de uma parentela imensa que cobre grandes áreas
dos municípios cearenses de Santa Quitéria, Sobral, Acaraú, Reriutaba,
Uruburetama e outros. [...] . 24.
●Eleições para Juiz ordinário da ribeira do Acaraú:
Rico de terras e rebanhos, João Pinto de Mesquita desfrutaria também do que
vinha por acréscimo aos chamados “homens bons” do tempo: [...] os cargos
públicos.
Em eleições procedidas no Senado da Câmara da antiga Vila da Fortaleza, foi
eleito, sucessivamente, nos anos de 1748, 1752, 1760 e 1764, para o cargo de
Juiz Ordinário da ribeira do Acaraú. [...] [e] por Carta Patente, de 2 de
outubro de 1755, dom José I, Rei de Portugal, o confirmou no posto de
Sargento-Mor de Cavalaria do Regimento de Acaraú. 24.
O Sargento-Mor exerceu, também, as funções de membro e presidente do Senado da
Câmara da antiga Vila Distinta e Real de Sobral e de Juiz-Presidente da
Irmandade do Santíssimo Sacramento da mesma.
Morrerá, assim, detentor de tanto poder e honrarias, ele que já era senhor de
muitos chãos, de muitos escravos, de uma legião de vaqueiros, crias e mucamas.
25.
●Inventario: o valor de um escravo em 1782:
[E na fazenda Jacurutu Velha] ... faleceu o Sargento-Mor, com oitenta aos de
idade, no dia 23 de março de 1782, viúvo de Dona Tereza Rodrigues de oliveira
[...].
Foram ambos sepultados na capela do Riacho dos Guimarães.
No inventário de João Pinto de Mesquita, [...] [feito em Sobral] além da
prataria, moveis e imóveis, foram arrolados: 782 vacas parideiras, avaliadas todas
pela quantia de 857$280; 120 novilhas, por 120$000; 100 garrotas, 620$000; 300
bezerras, por 300$000; 50 bois de açougue, por 100$000; 180 novilhas, por
190$000; 152 garrotes, por 40$000; 152 bezerros, por 29$000; 40 éguas, por
800$00; 20 poldras, por 32$000; 25 poldrinhas, por 25$000; 50 cavalos, por
250$000; 10 poldros, por 300$00019poldinhos, por 25$000; 12 burros, por
600$000; 2 cavalos de sela, por 140$000 – num total de 2.012 animais, entre,
entre bovinos e cavalares.
Foram igualmente arrolados 28 escravos, avaliados num total de 1.960$000.
Era grande a fortuna do Sargento-Mor João pinto de Mesquita, um dos “homens
bons” da época do povoamento. 25.
OBS: Daí montamos esta tabela:
Valor deduzido de um escravo no ano de 1782
28 escravos: ....................................1.960$000 Um escravo:
........................................70$000
50 cavalos: .........................................250$000 Um cavalo:
............................................5$000
Ou seja, um escravo valia o equivalente a 14 cavalos!
A PROLE DO SARGENTO-MOR
Em riqueza e fama cresciam os filhos [...] [do] patriarca do Acaracu.
Antonio Pinto de Mesquita, ainda a exemplo do pai, exercia os postos de Capitão
das ordenanças e depois os de Capitão-Mor e presidente do Senado da Câmara da
antiga Vila Distinta e Real de Sobral e nesta morreu, no dia 4 de março de
1807, com idade de setenta e um anos. P. 26-27.
Vicente Alves da Fonseca (genro de Antonio Pinto de Mesquita), [...] foi, como
o sogro, fazendeiro rico e por demais influente nas ribeiras do acaraú, social
e politicamente. [e uma filha de Vicente casa-se com Francisco de Paula Pessoa,
de Granja].
●Francisco de Paula Pessoa, o senador dos bois:
De Vicente e [sua esposa] Antonia nasceu também uma única filha, Francisca
Maria Carolina, em Santa Quitéria, a 15 de março de 1807, que se casou com
Francisco de Paula pessoa, natural de Granja, filho do português Capitão-Mor
Tomaz Antônio pessoa de Andrade e de Dona Francisca de Brito Pessoa, nascida na
mesma Granja. 27.
Esse Francisco [...] Terminaria Senador do império e mais conhecido por Senador
Paula. 27.
Possuía tanto gado que os Conservadores, seus adversários na política,
chamavam-no de o “senador dos bois”.
Ninguém o excedeu, naqueles tempos, em poder e riqueza na região, onde ocupou
os postos de maior relevo da governança local: Sargento-Mor das Ordenanças,
Capitão0Mor, presidente do Senado da Câmara, Coronel-Chefe da legião,
Coronel-comandante Superior da Guarda Nacional, Deputado Provincial e
Vice-Presidente da província.
Por Carta Imperial de [...] 1848, foi nomeado Senador do Império [...] p.
27-28.
OBS: Era longa a circulação por parceiros; Granja, Sobral, Santa Quitéria,
Crateús, Pernambuco etc.!
OBS: Vejamos o que os Anais da Biblioteca Nacional trazem sobre este cara:
Caro Amº e Comp(e) [...]
[...] limitarei-me a [narrar] hum acontecimento em Sobral, que tras todo o
cunho de ser Paula Pessoa connivente nelle. Naquella Vª prendeu-se hum
valentão, de quem dois sequases de dº Paulo se temião, e estando sentenciado a
dois meses de prisão tramarão huma silada pª se descartarem delle: mandarão-no
seduzir pª fugir, e lhe indicarão o beco, por onde deveria correr. Chegada a
occasião [...] quando entrou no beco, foi-se encontrando com os dois sequases
do Paulo hum com huma granadeira, que lhe foi arrumando com o coice della nas
cruzes, que o fes beijar o chão, e o outro com huma espada, [...] [que] foi-lhe
atirando hum golpe ao pescoço, o desgraçado metteu o braço adiante, e viu
saltar-lhe a mão pela munheca; foi gritando, [que] o não matassem, que estava
preso; as pessoas [...] o forão acompanhando na sua suplica, mas o desumano
foi-lhe correndo duas estocadas, que o deixou por morto, e como de facto poucos
dias depois morreu dellas.
Amigo e correligionário do Padre José Martiniano de Alencar, presidente da
província, [...].28.
Morto Alencar, Francisco, juntamente com seu primo afim, o Senador Thomaz
Pompeu de Souza Brasil, tomariam a direção-geral do Partido Liberal do Ceará.
28.
Faleceu o Senador Paula a 16 de julho de 1879, em Sobral [...].
O Senador Paula pessoa teve um filho natural, o Desembargador Leocádio de
Andrade Pessoa, que legitimou e de cuja educação cuidou. 29; este sujeito
aparece como juiz municipal do Ipu em pesquisa de Oswaldo Araújo (O Povo, 04 de
setembro de 1970. p. 9).
...Cruzaram, ainda, os filhos do Capitão Pinto de Mesquita com os Veras, de
Crateús, com os Pires Ferreira, do Piauí, com os Andrades, de onde vem o
Coronel José Júlio de Andrade, capitalista, dono de imensos seringais na
Amazônia e Senador pelo Estado do Pará [...]. Isabel Pinto de Mesquita
casou-se, em 1772, com o Capitão José Pestana de Vasconcelos, que foi juiz
Ordinário e Presidente do Senado da Câmara de Sobral, natural de Pernambuco e
filho do Tenente-Coronel Carlos Manuel César de Ataíde e Dona Luiza Francisca
Rosa de Castro, naturais do Minho (Portugal). P. 29-30.
●União de Acioly, Pompeu, Catunda e Souza.
Do seu primeiro matrimonio, teve Dona Isabel [...] Geracina Isabel de Souza,
que se casou com o Capitão das Ordenanças Thomaz de Aquino Souza [...] do Rio
Grande do Norte.
Do casal [...] descendem os Pompeu e os Catunda [...].
Do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, pai dos Doutores Thomaz Pompeu e
Souza Brasil (Júnior), Antônio Pompeu, Hildebrando Pompeu e Dona Maria Tereza
de Souza Acioly, mulher do Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, que foi
Vice-Presidente da Província, Senador da República e três vezes Presidente do
Ceará, descendem Thomaz Pompeu Neto, [...] os Senadores Thomaz e José Acioly, o
Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho, Presidente do Instituto do Ceará, o Embaixador
Hildebrando Acioly, [...] e Dona Branca Acioly Sá, que foi casada com o Senador
Francisco Sá, o qual por duas vezes, ocupo o cargo de Ministro da Viação (era
mineiro) (sic). P. 30.
De Gregório Francisco Tôrres de Vasconcelos descende a família Tôrres, hoje
grandemente disseminada pelos municípios de Santa Quitéria, Ipu, Ipueiras e
Novas Russas (sic).
Toda essa geração numerosa e ilustre, originaria do senhor da casa do Jucurutu,
cruzando com diferentes famílias do Ceará e de outros Estados, multiplicando-se
em gerações sucessivas, alongando em outras linhagens a velha estirpe dos Pinto
de Mesquita, dando ao clã uma continuidade fecunda e perene. P. 31.
O SENADOR DOS BOIS
Francisco de Paula pessoa disse certa vez:
“Minha madrinha [Nossa Senhora], venho agradecer-vos tudo quanto pedi e me
concedestes. Amansei dois mil bezerros, sou Senador do império e completo hoje
oitenta anos. Mas, minha madrinha, oitenta anos é tão pouco...”
●Francisco de Paula Pessoa, o “Senador dos Bois”, era irmão de Pessoa Anta:
A vida de Francisco de Paula Pessoa não foi fácil. Foi duríssima, de começo.
[...]. Quando já enriquecido pelo trabalho, os bens lhe são confiscados. O
irmão, João de Andrade Pessoa Anta, um dos cabeças da revolução de 1824, é
fuzilado no Passeio Público, em Fortaleza, juntamente com o Padre Mororó e
outros republicanos. 32.
No municipio de Santa Quitéria, sede do clã, situou o Senador Paula o maior
número das suas grandes fazendas de gado e isto ainda mais fixou a sua presença
no seio dos parentes afins, estreitando os laços de convivência e de
solidariedade.
Da probidade de Francisco de Paula Pessoa, conta-se que, ainda quando
comerciante em Sobral, numa das viagens que sempre fazia ao Recife, onde se
provia de mercadorias para a sua casa de comércio, ajustou [...] a compra, por
quarenta e dois contos de réis, de [...] numerosas fazendas de gados [...]
espalhadas pelas ribeiras do Groairas, Macacos, Mundaú, Aracatiaçu e Coreaú,
numa extensão de muitas léguas. 33.
A compra dessas grandes áreas de terras, nas quais se incluíam centenas de
cabeças de gados, escravos e benfeitorias, aumentou consideravelmente os
cabedais de Paula Pessoa [...]. 33.
Francisco de Paula Pessoa começou a negociar aos quinze anos de idade, com
recursos próprios, depois de sair do teto paterno [...] tendo se estabelecido,
aos vinte e quatro anos, em 1819, na cidade de Sobral, onde se fez comerciante
em grosso. [...] Sobral lhe daria reputação sólida e os títulos políticos a que
já aludimos. 35.
...Prossegue na sua ascensão e presta serviços relevantes à ordem na repressão
aos Balaios. Foi mais uma vez, um dos Vice-Presidentes do Ceará e, em 1848
[...] foi escolhido Senador do Império [...]. 33.
Em 1864, com a saúde debilitada, o Senador já não pôde comparecer ao Rio de
Janeiro para tomar parte nos trabalhos [...]. 36.
●Francisco de Paula Pessoa era Primo da Mulher de Thomaz Pompeu de Souza
Brasil.
Era amigo íntimo do Senador Padre José Martiniano de Alencar e seu
correligionário fiel. Ao primo da sua mulher, o Senador Thomaz Pompeu de Souza
Brasil, passaria o comando do Partido Liberal na Província. A escolha de Pompeu
para o Senado do império , em 1864, foi obra de Francisco de Paula pessoa, que
tinha pelo parente afim e amigo dedicado a maior afeição. 36.
Um filho do Senador, Vicente Alves de Paula Pessoa, sentaria também numa das
cadeiras do Senado da Monarquia.
O SEGUNDO SENADOR PAULA
●O primeiro Senador Paula foi Francisco de Paula Pessoa (o pai), e o segundo
foi Vicente Alves de Paula Pessoa (filho daquele).
O segundo Senador Paula, Vicente Alves de Paula Pessoa, não foi um político
militante como o pai, [...].
Filho do Senador Francisco de Paula Pessoa e de Dona Francisca Maria Carolina de
Paula Pessoa, nasceu o Senador Vicente Alves de Paula Pessoa a 29 de março de
1828, na cidade de Sobral. Formou-se em direito, aos 22 anos de idade, pela
Faculdade de Olinda, a 25 de novembro de 1850, voltando de Pernambuco ao Ceará,
onde iniciou sua carreira de magistrado, como Juiz Municipal do Ipu, nomeado
para essas funções por decreto de 2 de março de 1852. Foi Juiz Municipal de
Fortaleza, Juiz de Lagarto em Sergipe, de São José de Mipidu, no Rio grande do
Norte, e em Saboeiro, Aracati e Sobral, do Ceará. Juiz de Direito de Sobral, de
1866 a 1876, foi nomeado Desembargador da Relação do Pará, a 18 de dezembro de
1875 [...]. Dom Pedro II fê-lo Conselheiro em 1879, sendo ele aposentado [...]
com as honras de Ministro do supremo Tribunal de Justiça, por decreto de 21 de
outubro de 1880. p. 38.
Em 1881 [...] foi escolhido Senador pelo Ceará [...].
Morreu [...] na cidade de Sobral [...] [em] 31 de março de 1889: era um
monarquista convicto, e não chegou a ver a Proclamação da República. p. 39.
Em 1877, publicou [...] sua obra mais importante, os “Comentários ao Código do
Processo Criminal do Império”, [...].
●Livro de Vicente de Paula Pessoa: “Comentários ao Código do Processo Criminal
do Império”.
O SENADOR THOMAZ POMPEU, UM PIONEIRO
Thomaz Pompeu.
Pai dele: Thomaz de Aquino Souza.
Aquele era Primo da mulher de F. de Paula Pessoa (36).
Genro de Nogueira Accioly. (49).
Sabe-se que o Senador [Thomaz Pompeu de Souza Brasil] fez o curso primário em
Santa Quitéria, o berço natal dos seus antepassados, os Pinto de Mesquita,
tendo por mestre seu próprio pai, Capitão Thomaz de Aquino de Souza, que era um
homem suficientemente instruído, pois abandonara o Seminário de Olinda quando
já cursava o primeiro ano de Teologia.
O Senador Pompeu era Padre e bacharel em Direito, ordenado e formado em
Pernambuco. 41.
...Foi o Senador quem fundou o velho Liceu do Ceará... 44.
Jornalista, fundaria “O cearense”, órgão liberal, a 16 de outubro de 1846. .p.
46.
...Desde 1844, fôra (sic) eleito à primeira suplência da deputação geral,
tomando parte nos trabalhos dessa legislatura, por falecido o [...] padre Costa
Barros [...] . à Câmara Temporária foi chamado [...] até que em 1864 ocupou uma
cadeira vitalícia no parlamento como Senador do Império. ...47.
●O Partido Liberal:
Os liberais pugnavam pelo trabalho livre, com a abolição dos escravos.
Batiam-se pela temporalidade do Senado, então vitalício; pela autonomia das
Províncias, que viviam sob o domínio da centralização do sistema monárquico,
não tinham Constituição e cujos presidentes eram nomeados pelo Imperador e,
como tais, meros delegados do poder imperial. E queriam ainda a reforma do
sistema eleitoral, além de outras. 49.
Talvez se encontre aí a razão que levou seu sobrinho e afilhado, o Senador
Joaquim Catunda, a aderir, mais tarde, ao ideal republicano.
O próprio Pompeu era um liberal avançado, da linha do chamado grupo ortodoxo do
liberalismo, que tinha fundas raízes nos movimentos republicanos de 1817 e
1824, quando parentes seus, os padres Mororó e Miguelinho, foram imolados aos
seus ideais de liberdade e republicanismo.
Era o Senador um legítimo herdeiro político de José Martiniano de Alencar e do
Coronel pessoa Anta, irmão do primeiro Senador Paula Pessoa, e fuzilado
juntamente com padre Mororó. Não estaria, a essa altura da sua vida pública,
desiludido Pompeu do sistema monárquico reinante e já evoluindo para o ideal
republicano?
●Thomaz Pompeu de Souza Brasil era genro de Acioly.
Tudo indica que sim: seu genro, o futuro Senador Nogueira Acioly, escolhido
(mas não empossado) para a Câmara Alta, nas vésperas da proclamação da
República, adaptou-se e sobreviveu bem ao advento do novo regime, do qual foi
figura exponencial durante muitos anos. 49.
Era considerado o chefe dos liberais do norte do Império e muitas províncias do
Sul lhe delegavam poderes para advogar seus interesses no Parlamento. 50
●Relatório de Thomaz Pompeu falando de educação:
...apresentou relatório ao chefe da província, no qual insiste pelas suas
idéias reformistas [...].
“...A nossa educação secundária, modelada pelos liceus de províncias e colégios
de cursos jurídicos, parece só ter em vista preparar nossa mocidade para esses
cursos e dar-lhes uma educação puramente clássica e teórica, no que certamente
não atende às necessidades educacionais do nosso país. Ela deveria compreender
parte dos conhecimentos científicos que têm (sic) mais relação com as artes e
as indústrias e que tendem a formar homens úteis e de alguns conhecimentos para
a vida prática e produtiva, ficando ao gênio e ao talento especial dedicar-se à
instrução literária e superior”.
E continua: “Nos países adiantados, como é sabido, aplica-se cada jovem àqueles
conhecimentos que tem de utilizar na sua projetada vida futura. Entre nós,
porém, depois de um conhecimento imperfeito de instrução primária, passam os
educandos para o estudo do Latim, Lógica, Retórica, etc., seja qual for a
profissão a que se vão dedicar, e entrados, depois, no terreno da vida prática,
aplicados ao comércio, à agricultura, à criação e às artes, nenhum uso podem
fazer desses conhecimentos, e são forçados a esquecer princípios que não sendo
outra coisa mais do que preparatórios para as ciências superiores, não têm
aplicação nenhuma na vida ativa e laboriosa a que se vão entregar no meio em
que vivem. 51
E conclui: “Julgo, pois, conveniente que se reforme o nosso plano de educação,
no sentido de se dar alguma tendência à nossa mocidade para a indústria e o
trabalho, transmitindo-lhe alguns conhecimentos das ciências naturais,
principalmente da física e mecânica, tão necessárias para o conhecimento da
propriedade dos corpos, ação dos agentes naturais e suas diversas combinações e
aplicações nos processos da indústria e do trabalho em geral. È notável que em
um país onde a agricultura e a criação de gados formam meios de auxiliar a
exploração e o desenvolvimento dos recursos naturais e de evitar os males que
paralisam essas indústrias, meios que poderão encontra-se pela escola, no
conhecimento das ciências práticas”. P. 51-52.
●Pompeu era Sócio da Estrada de Ferro do Baturité.
E quem defendia tais idéias era um humanista completo, de imensa cultura,
bebida nas ciências e nos clássicos da antiguidade, um filósofo e um teólogo,
um padre que era também um bacharel, um típico elemento da elite intelectual
brasileira do século passado. 52.
Organizou a “Companhia Cearense Via-férrea de Baturité”, em 1870, destinada à
construção da estrada de ferro que se estenderia, muitos anos depois, até a
cidade do Crato, no sul do Ceará. 53.
Os trabalhos de construção do leito da estrada tiveram início no dia 20 de
janeiro de 1872, [...].
Depois da sua morte, em 1877, os negócios da “Companhia Via-Férrea de
Baturité”, da qual Pompeu era, desde a sua fundação, o presidente, sofreram
sensível declínio, que poderia ter resultado na paralisação dos trabalhos de
prolongamento da estrada, se o Governo Imperial não a houvesse encampado, como
fez, por decreto de 8 de janeiro de 1878, no qual, também, autorizou o início
da construção da Estrada de Ferro de Sobral. 53.
Raro comparecia às palestras nas “rodas nas calçadas”, hábito de feição
cearense perfeitamente justificado naquela época em que não havia clubes nem casas
de diversão”....(sic).
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