terça-feira, 31 de março de 2015

        

 Meu Primeiro Amor.

Abílio Lourenço Martins

 Na pracinha do Quadro, Bruno e seus amigos brincavam descontraidamente. Trisca e esconde-esconde eram as preferidas.
As meninas, indiferentes, se juntavam  para as mesmas brincadeiras.
Extasiados do corre-corre, sentavam-se em uma das calçadas e passavam a alternar as brincadeiras: “Meu lado esquerdo está desocupado”, “passar o anel” e outras mais.
Bruno ao ser indagado: teu lado esquerdo está desocupado. Quem chamas?
Respondia incontinenti. Fernanda. Lá vinha, quase correndo, aquela menina com a saia leve, olhar vivo e risonha, sentar-se ao seu lado.
Ao passar o anel, Bruno deixava-o, sempre, entre as mãos suaves de Fernanda.
Mais tarde percebeu que aquelas brincadeiras eram iniciação à paquera.
Decorridos dias, estava Bruno perdidamente apaixonado, sem conhecer, sequer, os sintomas do amor. Tinha ele entre 10 a 11 anos; Fernanda, alguns meses mais.
A partir daí os seus olhares se cruzavam apaixonadamente.
Seu coração foi sacudido quando certo dia foi surpreendido por Tereza que lhe trazia um recado: “Bruno: Fernanda mandou lembranças”.
Que dia maravilhoso!
Dia seguinte era Bruno quem retribuía. E foram dezenas de lembranças. Idas e vindas.
Fernanda, ao se dirigir ao Patronato, sua escola, ficava Bruno, sempre, a  contemplá-la. Na virada da esquina, o último olhar acontecia seguido de um meigo sorriso. Seus olhares se cruzavam tão apaixonados quanto um beijo demorado.
Cresceram. Fernanda tornou-se mais rapidamente moça que Bruno,  rapaz.
Trocou a saia por um vestido e, também, a paixão de Bruno por um rapaz mais velho, mais maduro.
Partiu no trem dos amores enquanto Bruno continuava na estaçãozinha chamada “saudade”.
Permanecia sua rotina entre a escola e o futebol. Mas, à noite, o seu lado esquerdo estava definitivamente desocupado. Sentia falta de Fernanda.
E, assim como ela, trocou o calção pela calça e sapatos e subiu, também, no trem dos amores.
Na primeira parada encontrou uma linda garota. Apaixonou-se. Mais à frente outra: Meiga, doce e amável, com a qual trocaram beijos até então não dados.
Foram várias as estações percorridas, e, em cada delas, um amor diferente. Inclusive aqueles encontrados em algumas estações vicinais com a placa de “Amores Proibidos”.
Chegou, por fim, à estação final. Olhou para trás e percebeu que em cada estação passada deixou um pouco de si e guardou, com carinho, a recordação de todas elas.
Trocou as calças e os sapatos, não pelo calção, mas pelos chinelos e o pijama do amor.
Abilio, 18 set 2014.

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