quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quaresma

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Nota: Para outros significados de Quaresma, ver Quaresma (desambiguação).


A Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e algumas protestantes marcam para preparar os crentes para a grande festa da Páscoa. Durante este período, os seus fiéis são convidados a um período de penitência e meditação, por meio da prática do jejum, da esmola e da oração.


Na Quaersma, é comum encontrarmos imagens veladas: sentido de penitência
Começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na tarde de quinta-feira santa, antes a Missa da Ceia do Senhor, que inicia o Tríduo Pascal. Ao longo deste período, sobretudo na liturgia do domingo, é feito um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem viver como filhos de Deus.
A Quaresma dura 47 dias, embora para o calendário litúrgico os domingos não contem, perfazendo então 40 dias. A duração da Quaresma está baseada no simbolismo do número quarenta na Bíblia que significa provação. Nesta, fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egipto.
A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de acção: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade, esta última como uma consequência da penitência.
1. Recriar as relações
A Igreja inicia um novo tempo: a Quaresma. O tempo, que é sempre dádiva de Deus, representa na Quaresma a grandeza da misericórdia de Deus. Um convite generoso para que nós, seus filhos e filhas, sejamos os recriadores da misericórdia do próprio Deus. Recriar a misericórdia equivale a dizer reorganizar os espaços para que a convivência entre os humanos seja pautada pelo respeito, pelo reconhecimento da dignidade que carregamos. Significa restaurar a imagem do rosto de Deus quebrado no rosto desfigurado dos excluídos de todo gênero. Implica em reconhecer que as diferenças são dom e graça da criatividade de Deus para que possamos recriar a beleza da convivência pacífica e criativa. Recriar a misericórdia de Deus é a arte de recolocar na avenida da vida todos aqueles que são vítimas de sistemas injustos, ou excluídos da convivência dos “normais” por serem diferentes: por pensarem de forma autônoma, fugindo desta forma dos paradigmas que reivindicam para si o direito de conduzir a História segundo seus próprios critérios. Os paradigmas da dominação pautados pela arrogância dos que pretendem ter o direito de dizer, segundo seus critérios, que rumo deve tomar a história de todos. Recriar a misericórdia de Deus representa, antes de qualquer coisa, recriar nossa relação de intimidade, de companheirismo com o próprio Deus. Significa adquirir capacidade para olhar o mundo com os olhos do próprio Deus. A Quaresma não é simplesmente o tempo que se inicia na folclórica quarta-feira de cinzas para terminar em montanhas de chocolate na Páscoa. Trata-se de um tempo dedicado a recolocar as bases para a construção de um mundo sustentável, politicamente correto, capaz de vislumbrar, pelo menos, sinais de relações humanas pautadas pelo respeito, pela compreensão e, principalmente, pela solidariedade.
  
10. Releituras possíveis, entre outras...
Rasgar o coração é romper com uma vasta gama de situações, coisas e fatos que no nosso cotidiano podem até parecer, sob certos aspectos, de grande valor, mas será que são ainda eficazes para nossa ação evangelizadora? O desafio está lançado: que a Palavra possa mostrar caminhos!

  

11. O Evangelho: Mc 1,9-13
O Evangelista Marcos abre seu relato dizendo: “Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus” (Mc 1,1). É desta informação emblemática que o Evangelho indicado para a Liturgia da Palavra do primeiro domingo da Quaresma, Mc 1,9-13, começa a ser ilustração. Contagiados pelo carnaval podemos afirmar que o enredo de Marcos tem como refrão: “Quem é Jesus?” E o carro do “abre alas” traz como destaque a solenidade da afirmação: “Nesses dias, Jesus chegou...”, uma referência que localiza o acontecimento nas coordenadas da História. E o enredo passa a ser desenvolvido: “Jesus chegou de Nazaré da Galiléia”... A indicação de origem representa um choque frontal com as expectativas messiânicas de muitos, afinal, o Messias era esperado sim, mas não de um lugar tão insignificante e periférico como Nazaré, que nem sequer é mencionada no Antigo Testamento. Desta forma, Jesus nada tem a ver com o centro político, administrativo, econômico e religioso. A Galiléia, província do Norte, abriga em seu território as terras mais produtivas e paradoxalmente abriga também a maior concentração de desempregados, de sem-terra, de sem-colheita. A Galiléia é de poucos, mas a Galiléia é também dos resistentes: é de lá que surgiram movimentos nacionalistas como o de Judas, o Galileu; é lá que devem ser buscadas as raízes dos zelotas (sem fazer deles um movimento apenas rural, pois existiam também na versão urbana). Quem vem da Galiléia, vem com o rótulo da suspeita. “Pode vir coisa boa da Galiléia?” (Jo 1,43). Está composto o primeiro retrato de Jesus: um galileu pobre que traz em si a marca de ser uma ameaça. Mas que mal poderia haver no fato de que mais um galileu pobre se associa à procissão dos penitentes que vão para receber o Batismo de João, no rio Jordão? O v. 10 é marcado por movimentos significativos: “sair/subir” e descer têm seu ponto de encontro no céu que se rasga como pano velho. Assim, ao subir, Jesus eleva consigo os submergidos na dor, na pobreza, na doença... afundados nas águas impiedosas do legalismo que ao lado da dor da exclusão social lhes impõe a dor da exclusão religiosa; ao descer, o Espírito confirma a missão de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, para proclamar um ano de graça do Senhor”.(Lc 4,18s). É no subir de Jesus e no descer do Espírito que o céu se rasga, isto é, deixando de ser distante, controlado pelos “profissionais da religião” para se tornar próximo e palpável. Em Jesus, as relações de Deus com a humanidade se tornam, de novo, familiares: “E do céu veio uma voz: “ Tu és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado”. O que restabelece o espaço para as relações justas e fraternas. O novo céu e a nova terra já não têm por prática rasgar roupas, pois o coração rasgado abriu espaço para a justiça: “O que nós esperamos, conforme a promessa dele, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça”(2Pd 3,13). Nos vv. 12-13 a cena é tomada pelo confronto entre o pobre Galileu, ameaçador e subversivo e Satanás, representante autorizado das forças do anti-reino. O encontro se dá no deserto, que não é uma realidade marcada por areia e nada mais. É, antes de tudo, um espaço significativo para decisões. Na ausência de seguranças, no deserto é necessário optar: por Deus ou contra Deus. É no deserto que Jesus é abordado pelo enviado “da turma do deixa disso”; é convidado para deixar de lado a idéia de que o Reino de Deus é marcado pela inclusão e vida para todos. Satanás não vem de fora: é gente de casa (Mc 3,20-30). Está entre os discípulos (Mc 8,33); ele representa os que são incapazes de compreender que em Jesus está o verdadeiro Messias (Mc 8,14-21). Marcos apresenta ainda outra oposição: feras x anjos. No simbolismo bíblico animais ferozes representam forças do mal que ameaçam os humanos; os anjos representam mensageiros de Deus e que estão neste texto servindo a Jesus.

  

12.Releituras
  • Rasgar o coração e não as roupas representa a coragem de mudar o que, de fato, tem efeito. Melhorar as aparências pode não ser melhoria na qualidade da Evangelização.
  • Identificar os “gafanhotos urbanos” que devastam nossas plantações é apenas parte da nossa tarefa. É preciso plantar a justiça para poder colher a paz: “O fruto da justiça será a paz”. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranqüilidade e segurança permanentes. Meu povo habitará em lugar pacífico, em residência segura, em habitação tranqüila; mesmo que o bosque seja cortado e a cidade seja arrasada. (Is 32,17ss).
  • O Batismo fez de Jesus um membro ativo na procissão dos desqualificados pelas instituições humanas; o céu rasgado é o rompimento com a “idéia vendida” de que Deus é alguém distante. Deus se faz presente nos que acreditam na solidariedade.
  • O “retiro de Jesus” se deu no deserto e ele optou por Deus (os anjos o serviam); nosso retiro se dá na cidade: a que Deus servimos?
A resposta a estas e a outras perguntas igualmente legítimas e possíveis determina o teor de nossas ações pastorais, que podem estar rasgando as roupas, mas não o coração.
Quaresma é tempo de ouvir e acolher as orientações de Deus, deixando que elas rasguem nossos corações para que deixemos de rasgar as roupas. Deste modo, estaremos permitindo que a Palavra de Deus seja significativa para nós em nosso tempo.


  

2. Relendo a História
A Liturgia da Palavra, que a cada domingo celebramos em nossas comunidades, tem uma função pedagógica: conduzir por caminhos que facilitam nossa aproximação com Deus. E na “estação primeira” desta Quaresma somos convidados pela primeira leitura a contemplar o caminho já percorrido. Olhar o passado constitui-se em aprendendizado, sem contudo caracterizar este passado como o tempo ideal; olhar o passado deve se tornar convite à continuidade, mas também é ruptura. Mesmo as melhores coisas que já se fizeram precisam ser recriadas para que tenham sentido novo.

  

3. Sentido e origem da Quaresma
Não se sabe exatamente qual foi o tempo que desencadeou o processo que gerou o que hoje chamamos de Quaresma. As primeiras indicações de um período preparatório, nós as encontramos no século IV, seja no Oriente, seja no Ocidente. Uma praxe preparatória à Páscoa que incluía o jejum pode ser observada entre os cristãos desde a metade do século II. Pode-se presumir que as comunidades cristãs primitivas, dentro do processo de distanciamento prático do judaísmo e ao mesmo tempo em sua continuidade, tenham relido todo simbolismo bíblico referente ao número 40 (40 dias do dilúvio, 40 dias de Moisés no Sinai; 40 dias de Elias caminhando para o Horeb, 40 dias de Jonas; 40 anos no deserto; 40 dias de Jesus...) e a partir desta leitura reelaborado um novo sentido. Deram vida nova ao símbolo, tornaram-no força dinamizadora. Para se chegar ao formato que a Quaresma tem hoje, dois fatos contribuíram de modo significativo: a disciplina penitencial para a reconciliação dos pecadores praticada pelas comunidades cristãs primitivas e as exigências do catecumenato como preparação imediata ao Batismo que era celebrado na vigília da Páscoa. A Quaresma, como outros fatos na vida das comunidades cristãs, foi se amoldando, respondendo às novas exigências. Como outros acontecimentos que marcam a vida de nossas comunidades, também a Quaresma não pode ser vista como resíduo arqueológico de práticas ascéticas de outros tempos, fossilizados e replantados para nossa realidade. Nascida de um núcleo central – preparação para a festa da Páscoa – ao longo do tempo, a configuração da Quaresma que hoje conhecemos foi acolhendo práticas e símbolos como se fosse um rio que em seu curso recebe as águas de outros afluentes. Acolheu outros elementos e, sem perder de vista seu essencial, acolherá ainda muitos outros no caminhar das comunidades que celebram este tempo de Deus. Mesmo assim, a Quaresma é para nós, hoje, e será para outros, depois de nós, tempo de renovação, tempo de experiência viva na participação do Mistério Pascal e Redentor de Cristo, como parte integrante da pedagogia de Deus. Trata-se de um tempo concedido a nós por Deus para que nos coloquemos de modo renovado na obra redentora realizada por Cristo como sacramento vivo da misericórdia de Deus (Rm 8,17). Na Quaresma, somos convocados a refletir a trajetória de Jesus, que recebeu da parte dos homens uma resposta de morte; da parte de Deus, esta mesma trajetória recebeu o selo da superação da morte: a Ressurreição. Que é o atestado de que Jesus não veio como “cabra marcado para morrer” e sim para ensinar que a ordem é viver. Como comunidade cristã, somos pela Quaresma convocados a dar testemunho da vida nova em Cristo, presente em nós e urgente para o mundo, não como doutrina, mas como prática. Representa, por fim, para cada cristão, um tempo de reconciliação e renovação na graça de Deus, de modo que não possamos ser amoldados pelas estruturas deste mundo e nos transformemos, pela renovação da mente, o que nos dá condições de distinguir qual é a vontade de Deus (Rm 12,1-2).

  

4. Mudanças que fazem diferenças: Jl 2,12-17
Jl 2,12-17 é o texto indicado para ser proclamado na celebração de quarta-feira de cinzas como alternativa ao texto de Isaias 58,1-12. Ambos os textos se constituem em convite à mudança de prática. Remetem a novas – mas não desconhecidas – formas de relacionamento Joel convida para uma mudança que vai além das aparências. “Rasguem o coração e não as roupas! Voltem para Javé, o Deus de vocês!” É com este apelo que o profeta se dirige a sua comunidade.

  

5. O contexto do profeta Joel
Poucos são os dados de caráter histórico que ajudam a situar o escrito dentro de um espaço e tempo determinados. Não é possível estabelecer sob qual reinado Joel tenha proferido suas sentenças. Em 2,20 lemos: "Mandarei para longe o invasor do norte: a vanguarda para o mar do oriente e a retaguarda para o mar do ocidente. Aí ele vai cheirar mal e feder, porque foi longe demais ” O profeta poderia estar falando da Assíria, bem como poderia estar fazendo referencia à Babilônia. O texto de Joel em 4,2 faz menção à dispersão de Israel entre os povos como acontecimentos. Ou ainda permite a possibilidade de ver um texto bem tardio: “Vocês venderam aos gregos os filhos de Judá e de Jerusalém, somente para afastá-los da sua terra. Pois agora, eu vou tirá-los do lugar para onde foram vendidos ” (4,6-7) Algumas questões podem nortear nossa busca de compreensão:
  • Quais eram as reais condições em que a comunidade interlocutora de Joel vivia?
  • Como compreender o apelo de Deus feito a esta comunidade através do profeta Joel?
  • Como compreender o livrinho do profeta Joel?
Estamos diante de um livrinho difícil de ser enquadrado no tempo e no espaço. Não há unanimidade quanto a data e local, o que não tira do livrinho sua característica fundamental: a de ser Palavra catalogada entre os escritos canônicos – que servem de medida – e assim sendo, traz a palavra de Deus que se torna instrumento de orientação das comunidades.

  

6. Algumas pistas para a leitura
  • Joel, em seu pequeno relato, narra nos cc. 1-2 uma devastação do país, por meio de invasores descritos como gafanhotos. Não há como demonstrar concretamente que Joel esteja se referindo a gafanhotos de verdade, ou se a devastação foi produzida por invasores estrangeiros, metaforicamente apresentados como gafanhotos. O efeito final é o mesmo e recai fatalmente sobre a população: fome, doença e morte são conseqüências inevitáveis. Pouco importa que gafanhotos.
  • Nos cc. 3-4 Joel convida os sobreviventes a uma grande liturgia restauradora, apresentada como Dia de Javé.
  • Uma leitura que leve em consideração a realidade vivida por Israel e Judá – destruição do reino do Norte em 722 e destruição de Jerusalém em 587 -, a linguagem simbólica abre espaço para a compreensão de informações que vão além do símbolo.
    • 1,2 – Convite dirigido primeiramente aos chefes, constituídos para serem protetores, antes de tudo, do seu povo (cf Dt 17,14-20);
    • 1,5 -  Os bêbados são convidados a acordar. As vinhas foram devastadas ou pelo menos ocupadas por outros;
    • 1,6 -  Uma sinalização não tanto metafórica: uma nação poderosa invadiu o país;
    • 1,10-12 – Evidencia um quadro de uma nação economicamente devastada;
    • 2,20 – “Mandarei para longe o invasor do Norte” (Assíria e Babilônia estão situadas ao norte do território de Israel).
Estas informações visualizam que os gafanhotos compõem a metáfora usada para descrever fatos históricos concretos. Inserida em um contexto litúrgico, a linguagem simbólica assume sua dinâmica própria: faz uma leitura de revisão da História (visão retrospectiva) e, ao mesmo tempo, convoca a não fazer do lamento a última palavra frente à dura realidade de devastação (1,4-7; 2,2-10); o lamento remete aos apelos ao jejum e à mudança (1,13-14; 2,12-17) e, chega-se por fim, ao oráculo de Javé que apresenta um futuro, marcado pela fartura no campo e finalizado por um enfático recordar da aliança (2,27; Ez 34,23-31).



7. Situando o livrinho
Mesmo que o livrinho do profeta Joel não traga em si evidências para que seja colocado no tempo e no espaço, mesmo que os estudiosos não sejam unânimes, nem quanto à data, nem quanto ao gênero literário, as informações acima levantadas, bem como a linguagem apocalíptica proferida em contexto litúrgico, oferecem elementos suficientes para compreender que o profeta tem preocupações que brotam da realidade vivida por sua comunidade, e a liturgia celebrada acontece a partir da leitura dos acontecimentos que propõem novos rumos .

  

8. O texto:  Jl 2,12-17
Como texto que abre a Liturgia da Palavra, neste tempo de Quaresma, o recorte indicado estabelece alguns critérios que ultrapassam o contexto celebrativo de qualquer comunidade: remete a uma prática que vai além de um simples ato religioso ritualista, vazio de sentido e por isso sem nexo com a transformação. O convite “rasguem o coração e não as roupas” (2,13) coloca no centro das atenções a esterilidade das liturgias que se contentam com aparências.
No texto lemos:

    • Um forte tom de convocação: os verbos voltar/retornar, convocar, e a expressão tocar a trombeta evidenciam esta urgência. O texto 2,12-17 é marcado por nove verbos que se encontram no imperativo, ou seja, trata-se de ordens a serem cumpridas.
    • Admitindo que o texto tenha seu berço no período do pós-exílio, compreende-se que a reconstrução não pode ser feita com velhas manias já apontadas pelo livrinho como descaminhos. O estereótipo rasgar as roupas (cf Gn 34,37: 2Sm 1,11; 2Rs 19,1; [rasgar as vestes aparece mais de 30 vezes no AT]), deve ser substituído por uma atitude que vai além das aparências: o coração é o centro que deve ser transformado. Querer adorar a Javé nos moldes que já provaram sua insuficiência é a atitude de quem constrói sua liturgia fora da realidade do cotidiano.
    • O texto assinala que a convocação é para todos (2,15-16).
    • O carnaval colocou a realidade na avenida, os planos do governo propõem mudanças, mas não basta: é preciso que todos se sintam convocados para uma participação mais efetiva, sem a qual continuaremos rasgando vestes e seremos por muito tempo o coro dos mudos que caiu do trem da História. Desafinados com o ritmo do mundo seremos também destinatários da pergunta: “Onde está o Deus de vocês?” (2,17).



9. Algumas conclusões
  • Joel se dirige a chefes, sem deles dizer nomes. Forma usada também por outros textos que avaliam a História (Ez 34);
  • Na parede da memória a devastação é o quadro que dói mais...” Como esquecer?
  • Há em toda extensão do livrinho um enfático apelo ao dia de Javé que funciona como uma espécie de refrão, grito de guerra, motivador da comunidade; um grito que evita acomodações, promove o entusiasmo, convida a superar o desânimo e, principalmente, evita que a comunidade se perca em contar suas próprias lamúrias e tristezas esquecendo que a História continua.
  • O texto de Joel não mascara a História, nem relativiza os fatos. Apontando para um grande acontecimento, o Dia de Javé, leva o seu interlocutor a ver que não é o fim e sim o começo: um novo tempo marcado pela renovação da aliança “Javé-comunidade-Javé”. (observe que os verbos estão predominantemente no futuro).
  • Proponho que se leia o livrinho como sendo um escrito do período do pós-exílio (depois de 538 aC.). Leia-se também Ne 5, que oferece um quadro das relações sócio-econômicas e, em  Is 58,1-12, as relações sócio-religiosas. Esta leitura possibilita a compreensão e o alcance do escrito de Joel.




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