1. Recriar as relações
A
Igreja inicia um novo tempo: a Quaresma. O tempo, que é sempre dádiva de
Deus, representa na Quaresma a grandeza da misericórdia de Deus. Um
convite generoso para que nós, seus filhos e filhas, sejamos os
recriadores da misericórdia do próprio Deus. Recriar a misericórdia
equivale a dizer reorganizar os espaços para que a convivência entre os
humanos seja pautada pelo respeito, pelo reconhecimento da dignidade que
carregamos. Significa restaurar a imagem do rosto de Deus quebrado no
rosto desfigurado dos excluídos de todo gênero. Implica em reconhecer que
as diferenças são dom e graça da criatividade de Deus para que possamos
recriar a beleza da convivência pacífica e criativa. Recriar a
misericórdia de Deus é a arte de recolocar na avenida da vida todos
aqueles que são vítimas de sistemas injustos, ou excluídos da convivência
dos “normais” por serem diferentes: por pensarem de forma autônoma,
fugindo desta forma dos paradigmas que reivindicam para si o direito de
conduzir a História segundo seus próprios critérios. Os paradigmas da
dominação pautados pela arrogância dos que pretendem ter o direito de
dizer, segundo seus critérios, que rumo deve tomar a história de todos.
Recriar a misericórdia de Deus representa, antes de qualquer coisa,
recriar nossa relação de intimidade, de companheirismo com o próprio
Deus. Significa adquirir capacidade para olhar o mundo com os olhos do
próprio Deus. A Quaresma não é simplesmente o tempo que se inicia na
folclórica quarta-feira de cinzas para terminar em montanhas de chocolate
na Páscoa. Trata-se de um tempo dedicado a recolocar as bases para a
construção de um mundo sustentável, politicamente correto, capaz de
vislumbrar, pelo menos, sinais de relações humanas pautadas pelo
respeito, pela compreensão e, principalmente, pela solidariedade.
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10. Releituras possíveis, entre outras...
Rasgar
o coração é romper com uma vasta gama de situações, coisas e fatos que no
nosso cotidiano podem até parecer, sob certos aspectos, de grande valor,
mas será que são ainda eficazes para nossa ação evangelizadora? O desafio
está lançado: que a Palavra possa mostrar caminhos!
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11. O Evangelho: Mc 1,9-13
O
Evangelista Marcos abre seu relato dizendo: “Começo da Boa Notícia de
Jesus, o Messias, o Filho de Deus” (Mc 1,1). É desta informação
emblemática que o Evangelho indicado para a Liturgia da Palavra do
primeiro domingo da Quaresma, Mc 1,9-13, começa a ser ilustração.
Contagiados pelo carnaval podemos afirmar que o enredo de Marcos tem como
refrão: “Quem é Jesus?” E o carro do “abre alas” traz como destaque a
solenidade da afirmação: “Nesses dias, Jesus chegou...”, uma referência
que localiza o acontecimento nas coordenadas da História. E o enredo
passa a ser desenvolvido: “Jesus chegou de Nazaré da Galiléia”... A
indicação de origem representa um choque frontal com as expectativas
messiânicas de muitos, afinal, o Messias era esperado sim, mas não de um
lugar tão insignificante e periférico como Nazaré, que nem sequer é
mencionada no Antigo Testamento. Desta forma, Jesus nada tem a ver com o
centro político, administrativo, econômico e religioso. A Galiléia,
província do Norte, abriga em seu território as terras mais produtivas e
paradoxalmente abriga também a maior concentração de desempregados, de
sem-terra, de sem-colheita. A Galiléia é de poucos, mas a Galiléia é
também dos resistentes: é de lá que surgiram movimentos nacionalistas
como o de Judas, o Galileu; é lá que devem ser buscadas as raízes dos
zelotas (sem fazer deles um movimento apenas rural, pois existiam também
na versão urbana). Quem vem da Galiléia, vem com o rótulo da suspeita.
“Pode vir coisa boa da Galiléia?” (Jo 1,43). Está composto o primeiro
retrato de Jesus: um galileu pobre que traz em si a marca de ser uma
ameaça. Mas que mal poderia haver no fato de que mais um galileu pobre se
associa à procissão dos penitentes que vão para receber o Batismo de
João, no rio Jordão? O v. 10 é marcado por movimentos significativos:
“sair/subir” e descer têm seu ponto de encontro no céu que se rasga como
pano velho. Assim, ao subir, Jesus eleva consigo os submergidos na dor,
na pobreza, na doença... afundados nas águas impiedosas do legalismo que
ao lado da dor da exclusão social lhes impõe a dor da exclusão religiosa;
ao descer, o Espírito confirma a missão de Jesus: “O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e
aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, para
proclamar um ano de graça do Senhor”.(Lc 4,18s). É no subir de Jesus e no
descer do Espírito que o céu se rasga, isto é, deixando de ser distante,
controlado pelos “profissionais da religião” para se tornar próximo e
palpável. Em Jesus, as relações de Deus com a humanidade se tornam, de
novo, familiares: “E do céu veio uma voz: “ Tu és o meu Filho amado; em
ti encontro o meu agrado”. O que restabelece o espaço para as relações
justas e fraternas. O novo céu e a nova terra já não têm por prática
rasgar roupas, pois o coração rasgado abriu espaço para a justiça: “O que
nós esperamos, conforme a promessa dele, são novos céus e nova terra,
onde habitará a justiça”(2Pd 3,13). Nos vv. 12-13 a cena é tomada pelo
confronto entre o pobre Galileu, ameaçador e subversivo e Satanás,
representante autorizado das forças do anti-reino. O encontro se dá no
deserto, que não é uma realidade marcada por areia e nada mais. É, antes
de tudo, um espaço significativo para decisões. Na ausência de
seguranças, no deserto é necessário optar: por Deus ou contra Deus. É no
deserto que Jesus é abordado pelo enviado “da turma do deixa disso”; é
convidado para deixar de lado a idéia de que o Reino de Deus é marcado
pela inclusão e vida para todos. Satanás não vem de fora: é gente de casa
(Mc 3,20-30). Está entre os discípulos (Mc 8,33); ele representa os que
são incapazes de compreender que em Jesus está o verdadeiro Messias (Mc
8,14-21). Marcos apresenta ainda outra oposição: feras x anjos. No
simbolismo bíblico animais ferozes representam forças do mal que ameaçam
os humanos; os anjos representam mensageiros de Deus e que estão neste
texto servindo a Jesus.
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12.Releituras
- Rasgar o
coração e não as roupas representa a coragem de mudar o que, de
fato, tem efeito. Melhorar as aparências pode não ser melhoria na
qualidade da Evangelização.
- Identificar
os “gafanhotos urbanos” que devastam nossas plantações é apenas
parte da nossa tarefa. É preciso plantar a justiça para poder colher
a paz: “O fruto da justiça será a paz”. De fato, o trabalho da
justiça resultará em tranqüilidade e segurança permanentes. Meu povo
habitará em lugar pacífico, em residência segura, em habitação
tranqüila; mesmo que o bosque seja cortado e a cidade seja arrasada.
(Is 32,17ss).
- O Batismo
fez de Jesus um membro ativo na procissão dos desqualificados pelas
instituições humanas; o céu rasgado é o rompimento com a “idéia
vendida” de que Deus é alguém distante. Deus se faz presente nos que
acreditam na solidariedade.
- O “retiro
de Jesus” se deu no deserto e ele optou por Deus (os anjos o
serviam); nosso retiro se dá na cidade: a que Deus servimos?
A
resposta a estas e a outras perguntas igualmente legítimas e possíveis
determina o teor de nossas ações pastorais, que podem estar rasgando as
roupas, mas não o coração.
Quaresma é tempo de ouvir e acolher as orientações de Deus, deixando que
elas rasguem nossos corações para que deixemos de rasgar as roupas. Deste
modo, estaremos permitindo que a Palavra de Deus seja significativa para
nós em nosso tempo.
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2. Relendo a História
A
Liturgia da Palavra, que a cada domingo celebramos em nossas comunidades,
tem uma função pedagógica: conduzir por caminhos que facilitam nossa
aproximação com Deus. E na “estação primeira” desta Quaresma somos
convidados pela primeira leitura a contemplar o caminho já percorrido.
Olhar o passado constitui-se em aprendendizado, sem contudo caracterizar
este passado como o tempo ideal; olhar o passado deve se tornar convite à
continuidade, mas também é ruptura. Mesmo as melhores coisas que já se
fizeram precisam ser recriadas para que tenham sentido novo.
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3. Sentido e origem da Quaresma
Não se
sabe exatamente qual foi o tempo que desencadeou o processo que gerou o
que hoje chamamos de Quaresma. As primeiras indicações de um período
preparatório, nós as encontramos no século IV, seja no Oriente, seja no
Ocidente. Uma praxe preparatória à Páscoa que incluía o jejum pode ser
observada entre os cristãos desde a metade do século II. Pode-se presumir
que as comunidades cristãs primitivas, dentro do processo de
distanciamento prático do judaísmo e ao mesmo tempo em sua continuidade,
tenham relido todo simbolismo bíblico referente ao número 40 (40 dias do
dilúvio, 40 dias de Moisés no Sinai; 40 dias de Elias caminhando para o
Horeb, 40 dias de Jonas; 40 anos no deserto; 40 dias de Jesus...) e a
partir desta leitura reelaborado um novo sentido. Deram vida nova ao
símbolo, tornaram-no força dinamizadora. Para se chegar ao formato que a
Quaresma tem hoje, dois fatos contribuíram de modo significativo: a disciplina
penitencial para a reconciliação dos pecadores praticada pelas
comunidades cristãs primitivas e as exigências do catecumenato como
preparação imediata ao Batismo que era celebrado na vigília da Páscoa. A
Quaresma, como outros fatos na vida das comunidades cristãs, foi se
amoldando, respondendo às novas exigências. Como outros acontecimentos
que marcam a vida de nossas comunidades, também a Quaresma não pode ser
vista como resíduo arqueológico de práticas ascéticas de outros tempos,
fossilizados e replantados para nossa realidade. Nascida de um núcleo
central – preparação para a festa da Páscoa – ao longo do tempo, a
configuração da Quaresma que hoje conhecemos foi acolhendo práticas e
símbolos como se fosse um rio que em seu curso recebe as águas de outros
afluentes. Acolheu outros elementos e, sem perder de vista seu essencial,
acolherá ainda muitos outros no caminhar das comunidades que celebram
este tempo de Deus. Mesmo assim, a Quaresma é para nós, hoje, e será para
outros, depois de nós, tempo de renovação, tempo de experiência viva na
participação do Mistério Pascal e Redentor de Cristo, como parte
integrante da pedagogia de Deus. Trata-se de um tempo concedido a nós por
Deus para que nos coloquemos de modo renovado na obra redentora realizada
por Cristo como sacramento vivo da misericórdia de Deus (Rm 8,17). Na
Quaresma, somos convocados a refletir a trajetória de Jesus, que recebeu
da parte dos homens uma resposta de morte; da parte de Deus, esta mesma
trajetória recebeu o selo da superação da morte: a Ressurreição. Que é o
atestado de que Jesus não veio como “cabra marcado para morrer” e sim
para ensinar que a ordem é viver. Como comunidade cristã, somos pela
Quaresma convocados a dar testemunho da vida nova em Cristo, presente em
nós e urgente para o mundo, não como doutrina, mas como prática.
Representa, por fim, para cada cristão, um tempo de reconciliação e
renovação na graça de Deus, de modo que não possamos ser amoldados pelas
estruturas deste mundo e nos transformemos, pela renovação da mente, o
que nos dá condições de distinguir qual é a vontade de Deus (Rm 12,1-2).
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4. Mudanças que fazem diferenças: Jl 2,12-17
Jl
2,12-17 é o texto indicado para ser proclamado na celebração de
quarta-feira de cinzas como alternativa ao texto de Isaias 58,1-12. Ambos
os textos se constituem em convite à mudança de prática. Remetem a novas
– mas não desconhecidas – formas de relacionamento Joel convida para uma
mudança que vai além das aparências. “Rasguem o coração e não as roupas!
Voltem para Javé, o Deus de vocês!” É com este apelo que o profeta se
dirige a sua comunidade.
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5. O contexto do profeta Joel
Poucos
são os dados de caráter histórico que ajudam a situar o escrito dentro de
um espaço e tempo determinados. Não é possível estabelecer sob qual
reinado Joel tenha proferido suas sentenças. Em 2,20 lemos: "Mandarei para longe o
invasor do norte: a vanguarda para o mar do oriente e a retaguarda para o
mar do ocidente. Aí ele vai cheirar mal e feder, porque foi longe demais ”
O profeta poderia estar falando da Assíria, bem como poderia estar
fazendo referencia à Babilônia. O texto de Joel em 4,2 faz menção à
dispersão de Israel entre os povos como acontecimentos. Ou ainda permite
a possibilidade de ver um texto bem tardio: “Vocês venderam aos gregos os filhos de Judá e de
Jerusalém, somente para afastá-los da sua terra. Pois agora, eu vou
tirá-los do lugar para onde foram vendidos ” (4,6-7) Algumas
questões podem nortear nossa busca de compreensão:
- Quais eram
as reais condições em que a comunidade interlocutora de Joel vivia?
- Como
compreender o apelo de Deus feito a esta comunidade através do
profeta Joel?
- Como
compreender o livrinho do profeta Joel?
Estamos
diante de um livrinho difícil de ser enquadrado no tempo e no espaço. Não
há unanimidade quanto a data e local, o que não tira do livrinho sua
característica fundamental: a de ser Palavra catalogada entre os escritos
canônicos – que servem de medida – e assim sendo, traz a palavra de Deus
que se torna instrumento de orientação das comunidades.
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6. Algumas pistas para a leitura
- Joel, em
seu pequeno relato, narra nos cc. 1-2 uma devastação do país, por
meio de invasores descritos como gafanhotos. Não há como demonstrar
concretamente que Joel esteja se referindo a gafanhotos de verdade,
ou se a devastação foi produzida por invasores estrangeiros,
metaforicamente apresentados como gafanhotos. O efeito final é o
mesmo e recai fatalmente sobre a população: fome, doença e morte são
conseqüências inevitáveis. Pouco importa que gafanhotos.
- Nos cc.
3-4 Joel convida os sobreviventes a uma grande liturgia
restauradora, apresentada como Dia de Javé.
- Uma
leitura que leve em consideração a realidade vivida por Israel e
Judá – destruição do reino do Norte em 722 e destruição de Jerusalém
em 587 -, a linguagem simbólica abre espaço para a compreensão de
informações que vão além do símbolo.
- 1,2 –
Convite dirigido primeiramente aos chefes, constituídos para serem
protetores, antes de tudo, do seu povo (cf Dt 17,14-20);
- 1,5
- Os bêbados são convidados a acordar. As vinhas foram
devastadas ou pelo menos ocupadas por outros;
- 1,6
- Uma sinalização não tanto metafórica: uma nação poderosa
invadiu o país;
- 1,10-12 –
Evidencia um quadro de uma nação economicamente devastada;
- 2,20 –
“Mandarei para longe o invasor do Norte” (Assíria e Babilônia estão
situadas ao norte do território de Israel).
Estas
informações visualizam que os gafanhotos compõem a metáfora usada para
descrever fatos históricos concretos. Inserida em um contexto litúrgico,
a linguagem simbólica assume sua dinâmica própria: faz uma leitura de
revisão da História (visão retrospectiva) e, ao mesmo tempo, convoca a
não fazer do lamento a última palavra frente à dura realidade de
devastação (1,4-7; 2,2-10); o lamento remete aos apelos ao jejum e à
mudança (1,13-14; 2,12-17) e, chega-se por fim, ao oráculo de Javé que
apresenta um futuro, marcado pela fartura no campo e finalizado por um
enfático recordar da aliança (2,27; Ez 34,23-31).
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7. Situando o livrinho
Mesmo
que o livrinho do profeta Joel não traga em si evidências para que seja
colocado no tempo e no espaço, mesmo que os estudiosos não sejam
unânimes, nem quanto à data, nem quanto ao gênero literário, as
informações acima levantadas, bem como a linguagem apocalíptica proferida
em contexto litúrgico, oferecem elementos suficientes para compreender
que o profeta tem preocupações que brotam da realidade vivida por sua
comunidade, e a liturgia celebrada acontece a partir da leitura dos
acontecimentos que propõem novos rumos .
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8. O texto: Jl 2,12-17
Como
texto que abre a Liturgia da Palavra, neste tempo de Quaresma, o recorte
indicado estabelece alguns critérios que ultrapassam o contexto
celebrativo de qualquer comunidade: remete a uma prática que vai além de
um simples ato religioso ritualista, vazio de sentido e por isso sem nexo
com a transformação. O convite “rasguem o coração e não as roupas” (2,13)
coloca no centro das atenções a esterilidade das liturgias que se
contentam com aparências.
No texto lemos:
- Um forte
tom de convocação: os verbos voltar/retornar, convocar, e a
expressão tocar a trombeta evidenciam esta urgência. O texto 2,12-17
é marcado por nove verbos que se encontram no imperativo, ou seja,
trata-se de ordens a serem cumpridas.
- Admitindo
que o texto tenha seu berço no período do pós-exílio, compreende-se
que a reconstrução não pode ser feita com velhas manias já apontadas
pelo livrinho como descaminhos. O estereótipo rasgar as roupas (cf
Gn 34,37: 2Sm 1,11; 2Rs 19,1; [rasgar as vestes aparece mais de 30
vezes no AT]), deve ser substituído por uma atitude que vai além
das aparências: o coração é o centro que deve ser transformado.
Querer adorar a Javé nos moldes que já provaram sua insuficiência é
a atitude de quem constrói sua liturgia fora da realidade do
cotidiano.
- O texto
assinala que a convocação é para todos (2,15-16).
- O
carnaval colocou a realidade na avenida, os planos do governo
propõem mudanças, mas não basta: é preciso que todos se sintam
convocados para uma participação mais efetiva, sem a qual
continuaremos rasgando vestes e seremos por muito tempo o coro dos
mudos que caiu do trem da História. Desafinados com o ritmo do
mundo seremos também destinatários da pergunta: “Onde está o Deus
de vocês?” (2,17).
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9. Algumas conclusões
- Joel se
dirige a chefes, sem deles dizer nomes. Forma usada também por
outros textos que avaliam a História (Ez 34);
- “Na parede da memória a
devastação é o quadro que dói mais...” Como esquecer?
- Há em toda
extensão do livrinho um enfático apelo ao dia de Javé que funciona
como uma espécie de refrão, grito de guerra, motivador da
comunidade; um grito que evita acomodações, promove o entusiasmo,
convida a superar o desânimo e, principalmente, evita que a
comunidade se perca em contar suas próprias lamúrias e tristezas
esquecendo que a História continua.
- O texto de
Joel não mascara a História, nem relativiza os fatos. Apontando para
um grande acontecimento, o Dia de Javé, leva o seu interlocutor a
ver que não é o fim e sim o começo: um novo tempo marcado pela
renovação da aliança “Javé-comunidade-Javé”. (observe que os verbos
estão predominantemente no futuro).
- Proponho
que se leia o livrinho como sendo um escrito do período do
pós-exílio (depois de 538 aC.). Leia-se também Ne 5, que oferece um
quadro das relações sócio-econômicas e, em Is 58,1-12, as
relações sócio-religiosas. Esta leitura possibilita a compreensão e
o alcance do escrito de Joel.
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