IGREJA DA MINHA INFÂNCIA
O
“Quadro” era o nosso mundo em tempos em tempos que já vão longe e a Igrejinha
era o centro daquele mundo povoado de sonhos de uma infância feliz. Lugar do
meu nascimento e de doces recordações. A casa de meus pais era linda situada à
sombra do secular tamarineiro. Do lado direito da Igreja ficava a casa do Mons.
Gonçalo de Oliveira Lima, sacerdote virtuoso, amigo das crianças e considerado
a “Flor do Clero”. Um pouco adiante a casa dos filhos do farmacêutico Thomás de
Aquino Corrêa, músico talentoso, poeta, regente da Banda de Música e médico dos
pobres. O Quadro tinha de tudo: Escolas Reunidas, Escola Normal Rural, o
Engenho do Sr. Plácido, o dentista Antônio Solon, o Bar do Povo, a vivenda do
Dr. Justo Ribeiro, a sede dos Correios, a casa das Magalhães onde realizávamos
dramas e bailados sob a direção de dona Ernestina. Pela casa de D. Maria Ivone
alcançávamos o riacho cujos banhos eram momentos de intensas alegrias. Que
saudades da amplificadora São Sebastião e das músicas românticas de um tempo em
que tudo respirava poesia. E bem no meio
da praça erguia-se a Igrejinha, monumento cultural de muitas gerações,
patrimônio histórico de um povo que se dizia guerreiro, porém assistia
passivamente a destruição das memórias do passado. E a Igrejinha começou a
perder a sua beleza primitiva. Ela envelhecia pela degradação das matas do Ipu;
pela represa das águas da BICA, lá na serra; pela morte do tamarineiro e pela
partida de seus filhos queridos. A Igrejinha começou a inclinar-se quando
percebeu que os jovens deixaram de valorizar as relíquias de seus antepassados…
Muitas crianças nasceram ali, mas poucas guardam na alma a lembrança das noites
de Natal, das festas, das quermesses e dos leilões animados pela banda de
música no Patamar. Saudades da coroação de Maria no mês de maio; das corridas
para olhar o Bom Jesus na sacristia; das vias-sacras na Semana Santa e do
repicar do sino de manhã e à tardinha… Igreja de minha terra que mora na minha
saudade. Mais tarde, quando os primeiros sonhos da juventude brotaram no
coração, como eram emocionantes aqueles pequenos momentos de encontro com o
namorado… Era tudo muito rápido, quase às escondidas, pois monsenhor Gonçalo
não queria namoro no Patamar. Sonhos ingênuos da cor de uma saudade…
Igreja
de minha terra, até que um dia fecharam as tuas portas. O perigo era iminente.
Poderia haver catástrofe. E hoje eu fico a olhar a Igrejinha testemunha de
nossa história, esperando que alguém venha socorrê-la. Cada inverno é uma
ameaça. E no silêncio do tempo ela espera pacientemente pela restauração que
tanto nos faz sofrer. O teto pode desabar a qualquer instante e nós nada
podemos fazer. Ela já foi tombada pelo Patrimônio Histórico, ela será salva,
temos esperanças, porém a demora é um verdadeiro tormento. Que os senhores
responsáveis pela sua restauração sejam sensíveis aos nossos apelos. Venham
logo socorrer a nossa Igrejinha antes que seja tarde demais. Não quero morrer
levando esta saudade. Quero viver para assistir a festa da reinauguração da
bela Igrejinha da minha infância!
Ipu 18 de setembro fr 2007.
Observação_ A Igrejinha foi restaurada
para alegria de todos nós.
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