quarta-feira, 14 de janeiro de 2015


Caros amigo(a)s,
Gosto muito da música – adoro mesmo -, seja ela clássica ou popular, contanto que esta tenha ritmo, melodia e harmonia.
E hoje lhes brindo com esta bela canção – ROMARIA - da minha cantora brasileira preferida, Elis Regina.  É que, quando menino, na Fazenda Tubiba, às margens do rio Jatobá, fui peão amador, laçando bezerros e garrotes com uma corda especial feita de couro cru com uma argola na ponta. Modéstia à parte, era bom na arte, elogiado até pelo vaqueiro de meus avós maternos, Raimundo Rodrigues Martins e Maria Cecília Martins, conhecida como D.ª Caçula.
Tinha um amigo, filho do vaqueiro, um pouco mais novo que eu, que se chamava Sebastião Saturnino de Moura, ou Bastião, simplesmente. Era meu primo-irmão de laçar bezerros e outras aventuras. Recebi, hoje, a triste notícia de que Bastião falecera, ontem, no Hospital da Marinha, em Brasília. Isto me abalou muito, pois o Bastião era muito amigo. Sua história, a partir da Fazenda Tubiba, é uma odisseia. Menino inteligente, com alto QI, aprendera as primeiras letras na Escola Clóvis Bevilácqua,  na Fazenda Tubiba, cujas aulas eram ministradas pelo Mestre Guilherme, professor itinerante, contratado por meus avós para alfabetizar os filhos dos moradores, em horário integral. Nas nossas férias escolares de Ipu, íamos, meus irmãos e eu, para a Tubiba e lá participávamos, com os filhos dos moradores, das aulas do Mestre Guilherme. Interagíamos com eles.
Foi lá que eu pude averiguar o quanto de garoto(a)s inteligentes existiam no meio rural. Faltava-lhes apenas uma oportunidade na vida. E isto ainda hoje acontece.
Pois bem, já estando em Fortaleza, e trabalhando, ainda bem jovem, no Banco do Nordeste, resolvi inscrever o Bastião  na Escola de Aprendizes Marinheiros. Veio ele a Fortaleza alguns dias antes dos exames. Meu irmão Francisco, que estudava na Escola Preparatória de Cadetes,  e eu  fizemos uma revisão com o Bastião das matérias das provas. Estava ele concorrendo com mais de mil candidatos, tendo muitos deles o curso ginasial completo. Bastião fez as provas e - não para surpresa minha -  classificou-se em 8.º lugar.
Passou um ano em Fortaleza e foi, em seguida, para o Rio de Janeiro, onde fez curso para Cabo da Marinha, sendo, então, promovido. Fez, em seguida, uma viagem em torno do mundo num navio-escola da Marinha.  Depois disso é que começa, propriamente, a saga do Bastião. O país estava em ebulição política e social. Era início de 1964. Sob as bênçãos do Almirante Aragão, os marinheiros, tendo à frente o Cabo Anselmo, invadiram o Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro,  em apoio ao governo de João Goulart. O Bastião estava no meio deles.
Vindo a ditadura, no dia 1.º de abril de 1964, todos os invasores do Sindicato dos Metalúrgicos foram presos, julgados e expulsos da Marinha.
O Bastião foi, imediatamente, para Brasília e lá procurou o Dr. Carneiro, engenheiro do DNOCS, que começara a construção do Açude Araras, na hoje cidade de Varjota. Bastião chegou a trabalhar na construção do açude Araras antes de entrar na Marinha.  Dr. Carneiro tinha uma empresa de construção, em Brasília, que trabalhava para a NOVACAP. Bastião começou a trabalhar no escritório da empresa e, depois de alguns anos, formou-se em Direito pela Universidade de Brasília. Saiu da empresa e começou sua vida de advogado bem sucedido.
Com a redemocratização do país, Bastião foi anistiado, integrado aos quadros da Marinha, recebendo promoções, os salários atrasados desde a sua expulsão e reconquistando os demais direitos. Bastião foi um vencedor. Como o general romano Júlio César, ao conquistar o reino do Ponto, Bastião pode repetir as suas palavras: “Veni, vidi, vici”, ou seja, “Vim, vi, venci”.
Em março de 2013, fui, com dois filhos e uma nora, a Brasília, com dois objetivos: visitar o Bastião e sua família, e os amigos Arlindo e Olga, na chácara deles, nos arredores de Goiânia.
Nos seis dias que passamos em Brasília, mantivemos encontros com o Bastião, sua família e ipuenses lá residentes. Tivemos um encontro agradável, noite adentro, no restaurante Beirute/Líbano, de propriedade de ipuenses. Combinamos um encontro na Fazenda Tubiba no dia 06 de julho de 2013, num sábado. E este encontro se realizou. Bastião veio de Brasília com a mulher e o Zé Situba, que também foi criado na Tubiba.  Organizamos tudo na fazenda para a grande festa junina e fretamos um ônibus para levar os antigos moradores da fazenda e suas famílias que residiam em Ipu. Levamos também um grupo musical para animar a festa. Foi um evento inesquecível.
Esta é a homenagem que quero prestar ao amigo de infância Bastião com a bela música de Elis Regina.  Cada amigo que parte leva consigo uma parte de mim. Descanse em paz, Bastião!
Abraços do
Olívio


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