TRINCHEIRA NOS
ALICERCES DA IGREJA
Naquela época, o
Ceará estava pegando fogo! Era governador o cearense e coronel-de-exército
Marcos Franco Rabelo, e dominavam, no tempo, dois fortes partidos: os Marretas
e o Democratas. Tivera fim a Revolução de Juazeiro e acontecera a deposição de
Franco Rabelo.
No interior do
Estado, a situação era por demais melindrosas. A perseguição aos opositores era
incrível. Houve uma pacificação entre duas correntes, e, por isso, até
desavenças no seio familiar de cada uma delas. Cada qual queria ser mais
poderosa e mais valente. Os inconformados com a perda do poderio e do prestigio
político antes absolutos, procuravam por todos os meios perseguir os
adversários, auxiliados pela polícia desenfreada, composta em sua totalidade de
cangaceiros armados, afeitos ao crime. Pisavam o pé de um adversário, de firme
proposito, e no caso de este se incomodar com a grosseria... “o cacete
cantava”. Era assim o nosso Ceará naquele tempo!
Como já frisei lá
nas bandas do Juazeiro de Padre Cícero, aportaram nesta cidade, como policiais
do destacamento, quatro soldados de nomes Assunção, Mó, Pereira e Batista,
sendo que o primeiro era sargento e comandante do destacamento, composto por
jagunços sanguinários.
Não demorou
muito, o novo destacamento policial entrou na dança das desordens, começando
com Luiz Clemente (Catuaba) e Pedro dos Santos, que no mercado público foram
moralmente desfeiteados e espancados.
Dias depois, oito
de dezembro, no bilhar de seu cunhado, coronel José de Farias, o soldado
Pereira aproximou-se de Osório Martins, que se encontrava no balcão do
estabelecimento, com indagações fúteis e sem qualquer explicação, passou a
espanca-lo violentamente, sob os olhares incrédulos das demais pessoas ali
presentes. Osório, que pertencia à numerosa família, além de ser membro da
oposição da politica local, era do Partido Democrata e obviamente
desprestigiado pelo Governo do Estado.
A noticia da bela
surra que Osório levara do policial espalhou-se rapidamente por toda cidade,
surgindo comentários de que seu tio João Martins, da Jaçanã, bastante conhecido
na região, logo que soubesse do acontecido viria revidar a desfeita ao sobrinho.
Dito e
acontecido. Um “positivo” foi expedido relatando o fato e quando João Martins
recebeu a carta, logo se preveniu de seus cangaceiros e de outras pessoas
amigas, fornecendo-lhes arma para vir ao Ipu proceder à vingança, qual fosse
matar o autor da agressão, no caso o jagunço, embora soldado.
No dia seguinte nove
de dezembro de 1914, pelas cinco horas da manhã, o grupo comandado por João
Martins deu entrada na cidade, todos montados em cavalos e fortemente armados.
Investiram atirando contra a cadeia, julgando que os soldados estivessem ali
aquartelados.
Antônio
Rodrigues, conhecido por Chapéu Grande, cangaceiro famigerado e temido, em
companhia de outros, entrincheirou-se nos alicerces da igreja a ser construída,
que ficava no alto da praça da cadeia, atirando de pontaria. Dois dos soldados
conseguiram se aproximar da cadeia e da calçada atiraram em direção ao nascente
e também para o lado norte, no rumo dos alicerces, de onde vinham os balaços de
Chapéu Grande e seus companheiros.
No resultado do
fogo, morreu o soldado Batista. Só que os atacantes não fizeram o serviço
direito, como o desejavam, porque o pessoal do grupo desconhecia por completo
onde ficava o quartel dos policiais. Também pela incapacidade de Jandaia
Passos, que se juntou ao grupo, mandando abrir fogo logo ao entrar na cidade, o
que tornou difícil a realização e o desejo do coronel João Martins.
Pelas tantas das
nove horas, o fogo terminou e se fez a retirada do grupo, de volta à Jaçanã. Antes
cortaram os fios do telégrafo da Estação Ferroviária de Sobral, a fim de evitar
as comunicações com a capital.
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