segunda-feira, 20 de outubro de 2014


TRINCHEIRA NOS ALICERCES DA IGREJA
Naquela época, o Ceará estava pegando fogo! Era governador o cearense e coronel-de-exército Marcos Franco Rabelo, e dominavam, no tempo, dois fortes partidos: os Marretas e o Democratas. Tivera fim a Revolução de Juazeiro e acontecera a deposição de Franco Rabelo.
No interior do Estado, a situação era por demais melindrosas. A perseguição aos opositores era incrível. Houve uma pacificação entre duas correntes, e, por isso, até desavenças no seio familiar de cada uma delas. Cada qual queria ser mais poderosa e mais valente. Os inconformados com a perda do poderio e do prestigio político antes absolutos, procuravam por todos os meios perseguir os adversários, auxiliados pela polícia desenfreada, composta em sua totalidade de cangaceiros armados, afeitos ao crime. Pisavam o pé de um adversário, de firme proposito, e no caso de este se incomodar com a grosseria... “o cacete cantava”. Era assim o nosso Ceará naquele tempo!
Como já frisei lá nas bandas do Juazeiro de Padre Cícero, aportaram nesta cidade, como policiais do destacamento, quatro soldados de nomes Assunção, Mó, Pereira e Batista, sendo que o primeiro era sargento e comandante do destacamento, composto por jagunços sanguinários.
Não demorou muito, o novo destacamento policial entrou na dança das desordens, começando com Luiz Clemente (Catuaba) e Pedro dos Santos, que no mercado público foram moralmente desfeiteados e espancados.
Dias depois, oito de dezembro, no bilhar de seu cunhado, coronel José de Farias, o soldado Pereira aproximou-se de Osório Martins, que se encontrava no balcão do estabelecimento, com indagações fúteis e sem qualquer explicação, passou a espanca-lo violentamente, sob os olhares incrédulos das demais pessoas ali presentes. Osório, que pertencia à numerosa família, além de ser membro da oposição da politica local, era do Partido Democrata e obviamente desprestigiado pelo Governo do Estado.
A noticia da bela surra que Osório levara do policial espalhou-se rapidamente por toda cidade, surgindo comentários de que seu tio João Martins, da Jaçanã, bastante conhecido na região, logo que soubesse do acontecido viria revidar a desfeita ao sobrinho.
Dito e acontecido. Um “positivo” foi expedido relatando o fato e quando João Martins recebeu a carta, logo se preveniu de seus cangaceiros e de outras pessoas amigas, fornecendo-lhes arma para vir ao Ipu proceder à vingança, qual fosse matar o autor da agressão, no caso o jagunço, embora soldado.
No dia seguinte nove de dezembro de 1914, pelas cinco horas da manhã, o grupo comandado por João Martins deu entrada na cidade, todos montados em cavalos e fortemente armados. Investiram atirando contra a cadeia, julgando que os soldados estivessem ali aquartelados.
Antônio Rodrigues, conhecido por Chapéu Grande, cangaceiro famigerado e temido, em companhia de outros, entrincheirou-se nos alicerces da igreja a ser construída, que ficava no alto da praça da cadeia, atirando de pontaria. Dois dos soldados conseguiram se aproximar da cadeia e da calçada atiraram em direção ao nascente e também para o lado norte, no rumo dos alicerces, de onde vinham os balaços de Chapéu Grande e seus companheiros.
No resultado do fogo, morreu o soldado Batista. Só que os atacantes não fizeram o serviço direito, como o desejavam, porque o pessoal do grupo desconhecia por completo onde ficava o quartel dos policiais. Também pela incapacidade de Jandaia Passos, que se juntou ao grupo, mandando abrir fogo logo ao entrar na cidade, o que tornou difícil a realização e o desejo do coronel João Martins.

Pelas tantas das nove horas, o fogo terminou e se fez a retirada do grupo, de volta à Jaçanã. Antes cortaram os fios do telégrafo da Estação Ferroviária de Sobral, a fim de evitar as comunicações com a capital.

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