A melodia
"Moonlight Serenade", de Glenn Miller e Mitchell Parish, cuja
tradução para o nosso idioma é "Serenata ao Luar", uma das músicas
mais lindas, é sempre requisitada nos concertos da nossa "Lira Serra
Negra", que a executa muito bem, me inspirou a escrever esta crônica, cujo
título deveria ser "Serenata Frustrada".
Vou
relatar um fato curioso, acontecido há muitos anos, no início da década de 60.
Numa
noite de inverno, reunidos no bar do Nardo Civera e do Cabeludo, o saudoso
"Bar do Cinema", o Antônio Oraggio e seu inseparável violão; o
alfaiate, Tanin Accorsi; o garçom do Rádio Hotel, Ari Gouvetti e eu resolvemos
fazer uma serenata.
O relógio
da Matriz acabava de dar as badaladas, anunciando meia-noite. Munidos de um
litro de gim e algumas garrafas de tônica, partimos para a nossa empreitada
romântica. Decidimos que a mesma seria lá pelas bandas do cemitério (local não
muito apropriado para se fazer uma serenata, não acham?).
Caminhando
pela antiga linha de trem, na escuridão (não havia iluminação naquele lugar),
com um frio de derreter pinguim, fomos nós, muito animados. Aquele lado da
cidade ainda era pouco habitado.
O
Oraggio, que dedilhava habilmente as cordas do violão e tinha um vozeirão, era
o cantor-mor. Defronte a residência das garotas das quais éramos fãs, parávamos
e o Oraggio interpretava os sucessos da época, principalmente músicas do
repertório de Nelson Gonçalves: "Boemia", "Deusa do
Asfalto", "Atiraste uma Pedra", "Renúncia" e outras.
Uma
canção, uma dose de gim-tônica e a madrugada friorenta iam, esquentando. Quando
o cantor titular cansava, nós nos revezávamos como improvisados cantores. A
certa altura, interpretávamos como nossos poucos recursos vocais, uma melodia,
quando, alguém que, com certeza queria dormir sossegado, soltou um gigantesco
cachorro para nos atacar. Ao depararmos com o bicho furioso, de olhos acesos,
resolvemos fugir em alta velocidade para salvar a pele. No trajeto, deixamos
cair as garrafas de bebidas que levamos como estimulante. Mas, o pior foi a
decepção que tivemos no dia seguinte. Encontramos, no "footing" do
jardim da praça, um grupo de mocinhas para as para as quais dedicamos nossos
números musicais. Conversando com elas, na esperança de receber elogios, fiquei
decepcionado quando uma delas assim se expressou: "Daqui uns vinte anos
"talvez" você se torne um bom cantor, nem deu para saber quais as
músicas que você cantou".
Depois
dessa serenata frustrada, o negócio foi desistir, definitivamente, de fazer
outra.
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