terça-feira, 9 de setembro de 2014

PERSUASÃO

O poder de persuasão do Amadeu é nato. Narrarei esse fato para ilustrar com clareza, os acontecimentos nele contidos falam por si.
Era o sábado gordo do carnaval de um ano dos fins da década de cinqüenta, ia realizar-se um baile muito animado na casa do Nenên Pimenta, futuro cunhado do Amadeu.
Amadeu trabalhava como escriturário num fornecimento de operários que estavam construindo a estrada que hoje liga Guaraciaba do Norte a Reriutaba. Ele havia assumido a gerência daquele estabelecimento, uma vez que o gerente, José Honório Neto, tinha se licenciado para disputar uma vaga de vereador. É desnecessário dizer que era ano de eleições. Seu patrão, Antônio Meton Silvano Gomes, era candidato a prefeito (e foi eleito), Amadeu estava lotado, no momento, no Sitio Bananeira, distante seis quilômetros da cidade e mais dezoito até os Morrinhos, aonde o baile ia se realizar.
Ele saía do trabalho às cinco da tarde e o baile deveria começar às nove da noite, tinha como desafio vinte e quatro quilômetros e como meio de transporte apenas uma bicicleta. Os primeiros seis ele os transpôs em sua bike, foi então que ele teve uma idéia genial. Procurou D. Fransquinha Batista, esposa de Seu Meton e falou com ela.
– D. Fransquinha, eu sou cabo eleitoral e representante do futuro prefeito naquele lugar. Não fica bem chegar lá às onze da noite, depois duas horas do baile ter começado, suado, cansado e pedalando uma bicicleta. Não dá credibilidade para nosso futuro prefeito. Preciso do JEEP vou mostrar que somos poderosos.
– Claro! Vou falar com o Meton.
– Amadeu não dirige.
– Sem problema, o motorista é seu primo (Zé Luciano) – resolvido!
Ao chegar ao bar do Mané Lito, ele já tinha um Jeep para ir ao baile, então, convidou todos os presentes para o evento. Alguém disse “eu vou”, outros também, em poucos minutos havia dezoito candidatos. Acontece que estava formado outro problema: no Jeep só há lugar para quatro pessoas. Foi aí que no bar também estava o Mané Damásio, dono de um caminhão. Todavia ele falou com o Damásio.
– Olha aqui, você um rapaz solteiro, numa noite de sábado, numa cidade que nem luz tem, enquanto isso está se realizando um animado baile nos Morrinhos, porque não vamos no caminhão?
– Claro, disse ele, vamos no caminhão.
Amadeu já tinha um Jeep e um caminhão. Foi aí que olhando num canto do bar ele viu um rapaz que ele não o conhecia. Perguntou quem era, disseram-lhe que era o motorista do ônibus que iria às cinco da manhã para Fortaleza. Amadeu dirigiu-se ao rapaz e perguntou:
– Você já viu um baile na roça?
– Não – respondeu ele.
– Então não vamos perder tempo, vamos no ônibus, você é meu convidado.
– Porque não, vamos no ônibus.
Amadeu chegou ao baile com um Jeep, um Caminhão e um Ônibus. Foi uma grande festa, tinha também vindo um caminhão com gente de Carnaubal. Foi legal, uma festa muito animada, faz aproximado meio século esse fato, no entanto ainda estão vivos muitos dos personagens que estiveram naquele evento para provarem a veracidade dos fatos narrados, entre eles o Zé Luciano, motorista do JEEP e minha mulher, na época minha namorada que foi a razão de tudo aquilo.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos” de Amadeu Lucinda.

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