Francisco das Chagas Paz.
Esta, minha terra.
E tudo isto é meu.
E bem poderia ser de
muitos se como eu sentisse reinar de si este prazer. Prazer de ter vivido numa
terra somente. Não sei o porquê disso.
Para mais de oito
decênios.
Quantos se comportaram
se contiveram acomodados em seu torrão quando as facilidades já sejam
encontradas a porta?
Mas, é que eu fiquei para
filmar as cousas da minha terra, terra sempre amada.
E aqui está o
resultado. Tudo cousa de minha terra, do círculo de conhecimentos presenciado
por mim. Cousas que eu vi, cousas que conheci, assisti, estive com elas. E
todas fazem jus ao pesquisador, ao apreciar e porque não dizer, ao admirador.
Este pedacinho do
Ceará, esta santa terrinha, Ipu, onde até Alencar encontrou campo aberto ao seu
romance. Eu venho trazer um escrito, um canto que não a perfeição mas a vontade
expressa da pessoa que se vale da expressão tão conhecida: “Mais faz quem quer
do que quem pode”. Não temo críticas, estas para mim não existem. Se
encontrarem defeitos na composição poética, não é de estanhar; não será esta a
primeira vez nem tão pouco a última.
Não estou a procura de
aplausos, cumpro o dever patriótico de cantar os passarinhos, as palmeiras,, as
flores, os campos, as cascatas, como cousas alegres e também as saudades do
passado nas suas diferentes modalidades.
Um mergulho no
passado, uma admiração do presente; outra cousa mais encontrará o que me ler. O
que me anima é remoer assim é o que foi de minha infância e parte de minha
adolescência. Tudo meu? Tudo, sim. Minha a terra, minhas as observações,
anotações e retenção de pensamento.
Há algumas cousas
vistas por outros, mas registrados por ninguém. Passaram despercebidas e foram
engolidas pela voragem do tempo. E jamais serão saídas as luzes, ao
conhecimento dos novos que embebidos no alvoroço reinante do século não se
dedicam a registrar o de hoje para dele falar no futuro.
Tudo do hoje é o já
era do passado, mas o conhecer nos aguça a curiosidade de saber o que fomos no
passado. Não éramos da indolência, mas nunca dos dias presentes ávidos de
estragos de inteligências que cultivadas fariam glórias e nomes apreciáveis a história de uma
geração.
É bem verdade que no
passado quando uma pequenez de habitantes
e mais pequenez ainda de gente de cultura apareceram e se destacaram com
galhardia poetas e jornalistas, o que hoje quando tudo evoluiu está quase extinta
a classe que se constituiu sempre o valor de apresentação de uma terra. Daquele
passado valor; e dos nossos tempos indiferença e desprezo a literatura..
Nunca desanimemos. Tem
muita gente moça, muitos estabelecimentos de educação dentro da própria terra e
podem surgir vontades e dedicação para escritores.
A eles, aos moços
dedico, incito a abraçarem a causa do amor aterra querida, Ipu.
RELICÁRIO
Vai ali, vê, contempla
e entra a Meditar.
Indagas porque a
solidão, a calma, a tranquilidade da velha praça.
Mas, não era assim,
era a arena, a quadra do ânimo, a preferida de todos.
Era tudo de que falo
aqui.
Assim o relicário,
relicário santo como deva ser chamado. Foi no passado com a presença visual, é
no presente com a lembrança dos que viram.
Suas festas, seus
pregadores falaram como suas aves cantaram na copa frondosa de altas árvores
que lhe ornavam.
Alegrias do passado,
saudades do presente.
Que beleza, que amor.
Tem ali naquela praça,
Como ali tem tanta
graça
Que noutra parte não
tem
Nem que mereça louvor.
Olhai a velha Igreja
Tanto tempo foi
Matriz,
Quem conheça isso diz
De seu brilho, sua glória.
Que coisa melhor não
seja.
É um relicário santo
Que deve ser venerado
Pelo que foi celebrado
Com votos de devoção,
Com fervor, com fervor
santo.
Como aquele patamar
Com tanta gente se
achava
A Velha Banda tocando
A todo mundo alegrar.
A Festa do Padroeiro
Mártir São Sebastião
Com a mais forte
animação
Um novenário completo
Até vinte Janeiro.
No dia dez começava
Com o levantar da
Bandeira,
Era uma alegria
inteira,
Foguete, bomba e
pistola
Pelo ar tonitruava.
Desde a primeira
novena
Com cânticos e
Ladainha
A Velha Dona Rosinha
Com o povo respondia,
Era comovente a cena.
De prendas grande
leilão
Com duas mesas lotadas
Tudo bem apreciado
Pelo povo curioso
Fazendo arrematação.
Eis o vinte de Janeiro
O grande dia esperado
Tudo de mais animado,
Gente da Serra e
Sertão
Fazia grande
assuleiro.
Era a Missa celebrada
A Igreja não
comportava
E o povo se colocava
Que outro meio não
tinha
No Patamar, nas
calçadas.
A tarde era a
Procissão
Pelas ruas da cidade,
Ali iam as Irmandades
O povo formando alas
Com inteira devoção.
No final da Procissão
Os fogos que se
queimavam
A todos admiravam;
O mais importante era
O painel São
Sebastião.
Da Igrejinha e da
Festa
Deixemos elucidado,
Falta ser noticiado
Mais festejos da
Pracinha
Agora é só o que
resta.
Qualquer coisa que
viesse
Aqui pra nossa cidade,
Fosse qualquer a
novidade
Vinha direto a
pracinha
Houvesse lá o que
houvesse.
Circo ou outra
diversão
Carrossel ou
cavalinhos
Achava sempre o
pontinho
E depressa se
instalava
Neste lugar de
atração.
Foi esta velha
pracinha
O lugar mais frequentado,
Hoje lá não vai nada,
O tempo já levou tudo
Quanto animado ali
tinha.
Ao lado da Igrejinha
Tinha uma árvore
altaneira
Uma grande Mungubeiras
Que grande sombra
fazia
Refrescando aos que
ali vinham.
Em frente alguma
distância
Havia um Tamarineiro
Onde um pássaro
alvissareiro
Cantava ao romper da
aurora
Com pachorrenta
constância.
É o velho tamarineiro
O antigo que tudo viu,
Foi ele que assistiu
Pagar de tantas
promessas
De agradecidos
romeiros.
A Igrejinha foi fonte
De verdadeira missão,
Como seja a pregação
Que Frei David nela fez,
Quem assistiu melhor
conte.
Lugar de veneração
É a casa da saudade
Portanto felicidade
Quem ouvir a sua
história
Há de sentir emoção.
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