QUERO
FALAR DO BOAVENTURA OU DO PINTURA
como a meninada o chamava.
Era
um tipo físico exótico. Rosto magro enriquecido por um farto bigode de pontas
viradas e espessas que lhe caia aos peitos. Era um pouco calvo, mas seu cabelo
atrás era farto e abundante além de comprido.
Trazia
sempre ao pescoço um Rosário, cujos mistérios eram entremeados de medalhas de
nossa senhora. Parecia um daqueles Parias da Índia, devido a sua camisa ser de
“manapulão” bem frouxa e de mangas compridas. Era sorridente, porém seu sorriso
estampava mais tristeza que alegrias. Seus olhos eram tristonhos e lânguidos.
Falava a sós. Não sei com quem dialogava, talvez com a esposa que ele mesmo
anos atrás matara a facadas, o que lhe rendeu pesada pena.
Dizia-se
que passava o dia andando pelas encostas da Serra onde se alimentava de frutos
silvestres e animais, até Lagartixa. A noite ia dormir no cemitério, talvez,
quem saiba, ao lado do túmulo da amada que matara. Por ter cometido esse
tresloucado gesto, passou a auto-impor-se toda essa vida de sofrimento. Hoje
tenho certeza, seu pecado foi perdoado, ainda em vida. Seu purgatório deu-se
aqui mesmo na terra, e deve-o estar em bom lugar, pois Deus é misericordioso.
Pobre
Boaventura, ainda conservo-o mentalmente a tua imagem, que, em menino
despertava-me medo, hoje sinto saudade de ti, daí ter lembrado de ti, hoje tu
ainda vives, pelo menos para mim.
Que
ironia do destino uma pessoa ter o nome de Boaventura e sua vida foi uma má
VENTURA.
JOANA
MARIA DOS 14: era a
nossa inesquecível “BAMBA”, era uma moça de estatura baixa, morena,
simplória, que vivia no Ipu.
Joana
Maria dos 14 era uma figura histórica, remanescente da família dos 14, que deu
nome ao Bairro conhecido de alto dos 14.
Para
alfabetizar adultos, a Profª Dulce Martins, criou um curso à noite, nas Escolas
Reunidas, e matriculou a Bamba, mas nada aprendeu. Dulce dava-lhe uma atenção
especial e quando dizia: Joana soletre meu nome, ela respondia: da, de, do -
Dulce Martins, Dulce ria muito.
Bamba
morreu, e hoje, contamos a sua história.
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