quarta-feira, 13 de agosto de 2014

QUERO FALAR DO BOAVENTURA OU DO PINTURA como a meninada o chamava.
Era um tipo físico exótico. Rosto magro enriquecido por um farto bigode de pontas viradas e espessas que lhe caia aos peitos. Era um pouco calvo, mas seu cabelo atrás era farto e abundante além de comprido.
Trazia sempre ao pescoço um Rosário, cujos mistérios eram entremeados de medalhas de nossa senhora. Parecia um daqueles Parias da Índia, devido a sua camisa ser de “manapulão” bem frouxa e de mangas compridas. Era sorridente, porém seu sorriso estampava mais tristeza que alegrias. Seus olhos eram tristonhos e lânguidos. Falava a sós. Não sei com quem dialogava, talvez com a esposa que ele mesmo anos atrás matara a facadas, o que lhe rendeu pesada pena.
Dizia-se que passava o dia andando pelas encostas da Serra onde se alimentava de frutos silvestres e animais, até Lagartixa. A noite ia dormir no cemitério, talvez, quem saiba, ao lado do túmulo da amada que matara. Por ter cometido esse tresloucado gesto, passou a auto-impor-se toda essa vida de sofrimento. Hoje tenho certeza, seu pecado foi perdoado, ainda em vida. Seu purgatório deu-se aqui mesmo na terra, e deve-o estar em bom lugar, pois Deus é misericordioso.
Pobre Boaventura, ainda conservo-o mentalmente a tua imagem, que, em menino despertava-me medo, hoje sinto saudade de ti, daí ter lembrado de ti, hoje tu ainda vives, pelo menos para mim.
Que ironia do destino uma pessoa ter o nome de Boaventura e sua vida foi uma má VENTURA.

JOANA MARIA DOS 14: era a nossa inesquecível “BAMBA”, era uma moça de estatura baixa, morena, simplória, que vivia no Ipu.
Joana Maria dos 14 era uma figura histórica, remanescente da família dos 14, que deu nome ao Bairro conhecido de alto dos 14.
Para alfabetizar adultos, a Profª Dulce Martins, criou um curso à noite, nas Escolas Reunidas, e matriculou a Bamba, mas nada aprendeu. Dulce dava-lhe uma atenção especial e quando dizia: Joana soletre meu nome, ela respondia: da, de, do - Dulce Martins, Dulce ria muito.

Bamba morreu, e hoje, contamos a sua história.

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