O CORTADOR DE BANANAS
O
CORTADOR DE BANANAS
È conhecido como costa verde, todo o litoral sul do
estado do Rio de Janeiro e o litoral norte do estado de São Paulo.
Assim é chamado
porque a Serra do Mar vai o ladeando em toda a sua extensão.
Na maioria do
tempo, o mar e a serra se tocam. E, às vezes e não raras, a Serra avança
mar-a-dentro, formando acidentes geográficos de rara beleza. São baias, golfos,
pontas, cabos e, principalmente, muitas ilhas.
Somente na
Bahia da Ilha Grande, ou arquipélago, no
município de Angra dos Reis, são 365 ilhas. Se fossemos visitá-las uma por dia,
levaríamos um ano para concluirmos a tarefa.
É uma região que chove muito, como toda região que tem
floresta e serra. E ali ainda tem o mar, com sua grande evaporação. Por ser a
serra muito íngreme e de difícil acesso, aquelas terras eram praticamente
virgens, até a construção da estrada Rio-Santos, nos anos setenta.
Aqueles morros, pedregosos ou não, dentro daquela
floresta densa, eram cheios de bananeiras, parecendo até serem frutas nativas,
mas não: era banana prata... e da melhor qualidade. Aquela terra é muito boa
para este tipo de agricultura.
Encravado entre o mar e a montanha, nasceram muitas
cidades e povoados, muitos de uma beleza tão grande que se tornaram conhecidos
internacionalmente.
Saindo do Rio,
a primeira cidade que se encontra é Itaguaí, que entre seus distritos,
encontra-se Coroa Grande, que em suas praias e cachoeiras, assistiram a
infância e adolescência de nossa rainha dos baixinhos: a Xuxa.
Depois, vem Mangaratiba: com seus não menos famosos
distritos. São: Itacuruçá, Muriqui, Ibicuí e Conceição de Jacareí.
Angra dos reis, seus distritos são Mansuaba,
Jacuacanga, Frade, Itaorna e Mambucaba. Todos estes no litoral e no continente
e Vila do Abraão, em uma ilha. Depois, Paraty, com seus distritos que são
Tarituba, São Gonçalo, Patrimônio, Laranjeira e Paraty-Mirin.
Estes lugares até a construção da estrada Rio-Santos,
só se comunicavam, com suas sedes e com o mundo, por mar. Os caiçaras, como
eram chamados os habitantes daquelas costas, viviam exclusivamente da pesca e
da cultura da banana, chegando mesmo esta última a dar nome a lugares, como,
por exemplo, a cidade de Mangaratiba, que quer dizer terra dos mangarás, que é
a flor da bananeira.
Era muito bonito ver aquelas bananas depois de
colhidas e transportadas em lombos de mulas até a praia, serem colocadas em
pequenos barcos, que saíam tão pesados que dava a impressão que iriam afundar.
Tinha por toda a costa os nativos, os caiçaras, que
ganhavam a vida cortando bananas (como tem em outras regiões os cortadores de
cana, os bóias-frias etc.).
A história que vou contar aconteceu com um cortador de
bananas. Todas as profissões são boas, mas basta um pisar na bola para estragar
toda uma classe.
O fato. Era os anos setenta. e eu, como viajante,
estava fazendo a praça e ao passar por Tarituba, parei e fui atender a um
cliente e, depois de tê-lo atendido, ele, vendo que eu estava sozinho no carro,
perguntou-me se eu podia dar uma carona para um rapaz que ia para São Gonçalo,
que fica a uns vinte e cinco quilômetros dali. Perguntei-lhe se não era algum
malandro, perguntei aquilo em tom de brincadeira, ele disse que não. E que era
seu primo.
Dei-lhe a carona e, logo ao sairmos, ele sem me
perguntar nada, foi ligando o rádio do carro. Não me perguntou se podia e ao
ligar o rádio estava tocando uma música muito animada e, com isso, ele começou
a sassaricar sobre o banco do carro.Foi aí que percebi que ele estava bêbado.
Aquela atitude dele me irritou e, em represália, desliguei o rádio. Então ele
me perguntou se eu não gostava de música. Disse-lhe que tanto gostava que tinha
um rádio no carro.
- Então porque desligou?
- Porque não estava a fim de ouvir música agora -
respondi.
Pensei que ele tivesse entendido o recado, mas
continuou a viagem emburrado. E, ao chegar ao destino, tinha um outro cliente,
que era primo do dito-cujo. Abri a porta do carro e ele desceu.
Então eu disse para o comerciante, depois de atendê-lo:
- Eu trouxe um primo seu e até me assustei. Aí bananeiro me olhou com
uma cara feia e, olhando para o primo, disse:
- Fala pra ele que você me chamou de malandro! Aí eu disse:
- Não, apenas perguntei se você era algum malandro!
E fui embora. Ao chegar em Paraty, fui para o hotel. Era o Hotel Bela
Vista, que fica na Praça da Matriz. Depois de tomar banho, entrei num
restaurante que ficava ao lado do hotel e fui jantar.
Quando o garçom estava me atendendo, olhei para o lado
e o que vejo? O cortador de bananas. E foi logo se sentando em minha mesa.
Percebi que
estava embriagado, dizendo que tinha vindo, porque a história do malandro não
tinha ficado bem resolvida.
Chamei o garçom e falei que aquele cavalheiro estava
sendo inconveniente e estava me aborrecendo. Eu era muito conhecido e querido
por todos, portanto não foi difícil para o garçom convidar o intruso a se
retirar. O tiraram e, quando eu olhei para a porta, ele estava dizendo que ia
esperar.
Nunca gostei de fazer ninguém me esperar. Acho
grosseiro e deselegante: não seria daquela vez. Chamei o Paulinho, era esse o
nome do garçom:
- Por favor, fecha a minha conta, porque eu não vou
mais jantar!
E, ao sair, dei-lhe um sacode. Não foi difícil, pois
ele estava bêbado e a calçada era alta: fiz ele descer de ré.
Pequei o carro e fui para a Praia do Pontal. Lá tinha
um grande quiosque: era o Bar do Ceará; Ceará era o Luis, um cearense de
Independência. Ele era muito querido no lugar e estava sempre de casa cheia.
- Luis, manda fritar um peixe, que eu estou com muita
fome.
Naquele momento estava acontecendo uma grande seresta
no Bar do Ceará. A casa estava cheia, então contei para ele a história do
restaurante e do bananeiro que não me deixara jantar.
Então, levantou-se de uma mesa um senhor magrinho
usando camisa social, gravata e suspensórios que protegiam sua calça social. E
se dirigiu a mim e disse:
- Sou Doutor Gentil, delegado de polícia daqui. Em
Paraty, visitante não é importunado por ninguém. Portanto quando o senhor
terminar de jantar, está convidado a ir comigo até a praça para me apontar este
sujeito, que eu vou prendê-lo.
Falei:
- Doutor Gentil, o policial aqui é o senhor. Eu não
vou atrás de sujeito nenhum, já tive aborrecimentos bastantes hoje. E também
existe um dizer na minha terra que não se deve ir atrás de cobras. Agora, o que
eu quero mesmo é jantar, ir para o hotel e descansar, afinal amanhã é dia de
luto.
Do livro: “O Anjo da Noite e Outros Contos
De Amadeu Lucinda ©
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