segunda-feira, 11 de agosto de 2014

H I S T Ó R I A

Uma vez estávamos na sala de aula na UERJ e em um determinado intervalo para lanche.
Essa sala fica no 10º andar e tem uma vista privilegiada: em frente está o maior estádio de futebol do mundo, “O Maracanã.” Do lado sul a serra do corcovado com o “Cristo Redentor” de braços abertos, parece até que, está querendo abraçar a cidade aos seus pés. Do lado norte está situado um país chamado “Mangueira” e que também é conhecida em todo mundo. O Morro da Mangueira, ou simplesmente Mangueira como é conhecida e hoje tem história.
Estávamos conversando; eram assuntos diversos e, de repente nossa coordenadora se dirige á mim e pergunta: Amadeu, o que é história? Já que você é um bom contador de histórias defina, história pelo seu prisma, diga pra nós o que é história.
- Falei! História é o registro de fatos acontecidos ou vividos. Todas as vezes que deixamos de registrar um fato ele se perde, no tempo e no espaço. Isso acontece porque a vida assim como os fatos é dinâmica, não são estáticos; mudam com grande velocidade. Aquilo que hoje é fato amanhã será história, se for registrado. 
Aqui mesmo neste lugar onde estamos agora, é história viva. Esse lugar onde está edificado a UERJ, aqui há pouco mais de meio século uma empresa construtora resolveu fazer uma obra faraônica: eram vários blocos de espigões.
Quando seus edifícios estavam lá pelo décimo andar, - não sei precisar – somente as colunas e Lages,estavam prontas e em seus lugares, aí a firma faliu. Seus diretores abandonaram tudo, não pagaram a ninguém, levaram máquinas e tudo que poderam, deixaram apenas aquele esqueleto.
Acontece que, logo depois foi dado inicio a construção do Maracanã. Os operários dessa obra, sua maioria nordestinos, os “Paraíbas” pessoas que não tinham famílias aqui, e nem onde morar, eles começaram a fechar os cômodos com as taipas – tábuas usadas – e foram morar lá. A idéia deu certa, outros aderiram, e aí já não era apenas os paraibas, veio gente de todo lado e em pouco tempo estava formado a maior favela vertical do mundo, “A Favela do Esqueleto.”
Olhando-se por essa janela aqui de nossa sala, nós vemos aquele país chamado Mangueira, e que está ali, logo após a Estrada de Ferro e ao lado do Jardim Zoológico e a Quinta da Boa Vista.
Pois bem. Um dia um compositor a exemplo de tantos outros que se inspiraram na Mangueira para fazerem músicas lindas; ele compôs: “mundo de zinco,” havia nesse samba um estrofe: “Esse Mundo de Zinco que é Mangueira, e que acorda com o apito do trem. Um barracão de madeira, uma cabrocha faceira, lá no morro de Mangueira, qualquer malandro tem.”
E agora eu pergunto. Cadê o trem que apitava, acordando os moradores da Mangueira? Eram velhas Marias-Fumaça, não mais existem, hoje são trens elétricos, não apitam. Cadê os barracões de madeira? Hoje é avenaria. E as cabrochas faceiras! Hoje elas têm outros nomes: Gatas, Minas e outros. Até mesmo os malandros mudaram de nomes e de táticas para sobreviverem.
Porém, alguém registrou tudo isso naquele samba. E isso hoje é história.
Do Livro: “Fragmentos de Uma Oficina Acadêmica” de Amadeu Lucinda.

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