H I S T Ó R I A
Uma vez estávamos na sala de aula na UERJ e em um determinado intervalo para lanche.
Essa sala fica no 10º andar e tem uma vista privilegiada: em frente
está o maior estádio de futebol do mundo, “O Maracanã.” Do lado sul a
serra do corcovado com o “Cristo Redentor” de braços abertos, parece até
que, está querendo abraçar a cidade aos seus pés. Do lado norte está
situado um país chamado “Mangueira” e que também é conhecida em todo
mundo. O Morro da Mangueira, ou simplesmente Mangueira como é conhecida e
hoje tem história.
Estávamos conversando; eram assuntos diversos e,
de repente nossa coordenadora se dirige á mim e pergunta: Amadeu, o que
é história? Já que você é um bom contador de histórias defina, história
pelo seu prisma, diga pra nós o que é história.
- Falei! História é
o registro de fatos acontecidos ou vividos. Todas as vezes que deixamos
de registrar um fato ele se perde, no tempo e no espaço. Isso acontece
porque a vida assim como os fatos é dinâmica, não são estáticos; mudam
com grande velocidade. Aquilo que hoje é fato amanhã será história, se
for registrado.
Aqui mesmo neste lugar onde estamos agora, é
história viva. Esse lugar onde está edificado a UERJ, aqui há pouco mais
de meio século uma empresa construtora resolveu fazer uma obra
faraônica: eram vários blocos de espigões.
Quando seus edifícios
estavam lá pelo décimo andar, - não sei precisar – somente as colunas e
Lages,estavam prontas e em seus lugares, aí a firma faliu. Seus
diretores abandonaram tudo, não pagaram a ninguém, levaram máquinas e
tudo que poderam, deixaram apenas aquele esqueleto.
Acontece que,
logo depois foi dado inicio a construção do Maracanã. Os operários dessa
obra, sua maioria nordestinos, os “Paraíbas” pessoas que não tinham
famílias aqui, e nem onde morar, eles começaram a fechar os cômodos com
as taipas – tábuas usadas – e foram morar lá. A idéia deu certa, outros
aderiram, e aí já não era apenas os paraibas, veio gente de todo lado e
em pouco tempo estava formado a maior favela vertical do mundo, “A
Favela do Esqueleto.”
Olhando-se por essa janela aqui de nossa sala,
nós vemos aquele país chamado Mangueira, e que está ali, logo após a
Estrada de Ferro e ao lado do Jardim Zoológico e a Quinta da Boa Vista.
Pois bem. Um dia um compositor a exemplo de tantos outros que se
inspiraram na Mangueira para fazerem músicas lindas; ele compôs: “mundo
de zinco,” havia nesse samba um estrofe: “Esse Mundo de Zinco que é
Mangueira, e que acorda com o apito do trem. Um barracão de madeira, uma
cabrocha faceira, lá no morro de Mangueira, qualquer malandro tem.”
E agora eu pergunto. Cadê o trem que apitava, acordando os moradores da
Mangueira? Eram velhas Marias-Fumaça, não mais existem, hoje são trens
elétricos, não apitam. Cadê os barracões de madeira? Hoje é avenaria. E
as cabrochas faceiras! Hoje elas têm outros nomes: Gatas, Minas e
outros. Até mesmo os malandros mudaram de nomes e de táticas para
sobreviverem.
Porém, alguém registrou tudo isso naquele samba. E isso hoje é história.
Do Livro: “Fragmentos de Uma Oficina Acadêmica” de Amadeu Lucinda.
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