terça-feira, 12 de agosto de 2014

CHICO COLÓ
O ÚLTIMO DOS ROMÂTICOS DOS MORRINHOS.
Quando eu conheci o Chico Coló, ele era um solteirão; era assim que eram tratados os rapazes que haviam passado dos trintas anos sem se casar.
Ele era um rapaz saudável, tinha mãe e alguns irmãos; porém sua mãe nunca havia se casado e, cada irmão tinha pai diferente, havia na época grande preconceito com aquele tipo de família.
Ele se vestia com uma certa elegância, más com bastante simplicidade, se comparado aos pobres do lugar, ele não era um deles, pois tinha uma bodega, essa agregada a um açougue de seu irmão: Antonio Coló.
Um dia, ele imaginou que estava passando da hora de se casar; como dizia o Luizinho Melada: “se agente não casar, nunca casa”, ele foi a luta.
Arrumou uma namorada e logo se apaixonou. E aí, veio-lhe o primeiro problema. O pai dela não era rico, más talvez pelo motivo dos irmãos do Chico terem pais diferentes, ele se achou em situação social diferente, e se sentia superior ao Chico e não aceitou o namoro, imaginem, o casamento que era a meta do Chico.
Só restava ao Chico uma solução. Roubar a moça, - raptá-la – também o Chico tinha mais um motiva para raptar sua Iracema. É que ela tinha um primo também interessado nela, e com esse, certamente o seu pai aceitaria.
Para raptar uma moça havia um ritual á ser cumprido, havia normas.
O noivo não poderia ir só. Teria que ir acompanhado de um casal,casados e de responsabilidade e respeito. A noiva sairia na companhia dos três, ia direto para a casa do casal e só sairia de lá casada.
A família da Iracema morava no Sítio Santo Antonio dos Camelos, distante cinco quilômetros dos Morrinhos.
O Chico cumpriu todas as exigências e depois daquela quarentona de praxe, se casou.
Vieram os primeiros filhos e os primeiros problemas financeiros, pois a grande seca de 1958 não poupou ninguém, nem mesmo o Chico. O nosso herói mais uma vez foi posto em prova sua capacidade de sobreviver. Deixou sua esposa e as criança e migrou para o Rio de Janeiro. Na cidade grande, sem nem uma qualificação profissional, e com a idade avançada; percorreu toda a cidade maravilhosa a procura de um emprego, por mais humilde que fosse, não o encontrou.
Depois de mais dia de procura de um serviço sem sucesso, anoiteceu e vinha ele pelas ruas de Copacabana imaginando todos aqueles infortúnios: sem dinheiro, em terras alheias e sua família lá no Ceará não sabendo o que estava acontecendo com ele e dependo do dinheiro que ele deveria mandar.
Como o seu dinheiro não dava pra mais nada, ele lembrou-se de uma frase dos velhos caçadores de sua terra, depois de uma caçada infeliz, depois de ter gasto toda munição que levara e não abater nem uma caça, e agora só restava a munição que estava na culatra da espingarda, dizia: “quem tem um tiro dá num toco”
Como já mencionei, era noite; os bares e restaurantes de Copacabana cheios de gente alegres e felizes, uns em suas chopadas e outros jantando, enquanto o pobre Chico não havia almoçado se quer.
Foi vendo aquela gente alegre que surgiu em sua cabeça uma ideia genial, conferiu o pouco dinheiro que lhe restava e entrou numa floricultura e com ele, comprou meia dúzia de rosas
Entrou no primeiro restaurante e distribuiu as seis rosas com seis damas que acompanhas, cada um, dos cavalheiros que as acompanhavam lhe deu uma boa gorjeta. Com aquele dinheiro ele comprou algumas dúzias de rosas e as distribuiu em vários restaurantes. Naquela noite conseguiu comer e voltar pra casa com dinheiro.
Nascia ali um novo homem, passou a ganhar dinheiro, comprou boas roupas e continuou o trabalho que descobrira. Fez do Leblon o seu Mundo e da noite carioca sua fonte de renda, só que agora sem fome e elegantemente vestido.
Mandou buscar sua Iracema e os filhos, comprou um terreno em São Mateus, são jaó de Meriti.
Passava os dias com sua família lá na baixada fluminense e as noite na zona sul da cidade, terra de granfinos. Fez do Leblon seu POINT.
Aquela noite do Leblon é frequentada pela alta sociedade, pela imprensa, pelos artistas. O Chico agora sempre vestido com um terno azul-marinho, uma gravatinha borboleta, imitando os artistas holiwdianas da época e com um sorriso no rosto.
Passou a ser um enigma, era muito querido por todos, porém ninguém nunca perguntou quem era ele. Começou a surgir muitas lendas sobre aquele homem, simpático, sorridente e que não falava com ninguém, apenas distribuía rosas e somente as damas.
A lenda mais forte que corria, principalmente entre elas, ( as damas) e que ele mesmo nunca soube. Era que: ele era um homem apaixonado que amava com loucura sua esposa lá no seu nordeste e que a teria flagrado em adultério com seu melhor amigo e que ele no momento de loucura matara os dois; e por isso fizera de sua vida uma penitência e via em cada uma daquelas dama a sua amada e lhes oferecia uma rosa com um sorriso. Essa lenda foi publicada por uma cronista do JORNAL DO BRASIL, e nele, frequentadora das noites do Leblon e que recebera muitas rosas das mãos do Chico. No dia de sua morte, ela mesma fez questão de ir a baixada fluminense conferir essa história. Lá encontrou a Iracema do Chico, viva e muito chorosa, afirmou que sempre foram muito feliz.
Eu sou testemunho ocular dessa história; conheci muito o Chico Coló e sua saga. Quanto a Iracema, continua viva.
Amadeu Lucinda. 11/08/2014

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