P Á – N E N É M
Francisco Vicente, era esse seu nome. Meu primo, rapaz saudável, alegre e muito bonito. Talvez o mais bonito dos filhos do Tio Vicente Lucinda
Na alegria de seus vinte e poucos anos, trabalhava na agricultura, tinha cavalo de sela, vestia-se com elegância, criava porcos e tinha uma plantação de araruta.
Uma tardinha, chovia muito, ele tinha acabado de jantar e como não havia banheiro na casa e ele estava precisando dele. Colocou um chapéu na cabeça e entrou num mato que tinha perto da casa.
Acontece que, ele não voltou. Chegou a noite, continuava chovendo muito; foram então procurá-lo. A noite era muito escura e, as buscas foram em vão. Somente pela manhã o encontraram dentro de uma moita de bananinha, estava de cócoras e com as mãos sobre o peito, dentes serrados, não falava e tremia muito.
É que, ele tinha sido acometido de uma crise aguda e muito forte, de esquizofrenia hebefrênica, que com certeza seria portador.
Depois de alguns dias, quando a crise sedera um pouco, ele chamou seus irmãos e primos e, soltando os porcos, mandou que os pegassem e quem o pegasse seria dono. Também abriu mãos do cavalo e das plantações, nada mais para ele, tinha valor. Recolhei-se à um quarto de sua casa, onde viveu muitos anos como um animalzinho entocado. Quando agente o surpreendia, ele não fugia, conversava muito, ria, um riso sem sentido, porém, ria. Como já havia dito, era um rapaz bonito e mesmo em sua insânia conversava sempre rindo.
Em 25 de fevereiro de 1949, seu coraçãozinho não resistiu e parou. Morreu “pá-Neném,” era assim que nós o chamavam.
No dia 26, foi feito seu sepultamento. Os Morrinhos na época ainda não tinha cemitério, os enterros eram feitos em Carnaubal, um distrito da cidade de São Benedito. Quando vinha um enterro dos Morrinhos, no pequeno comércio de Carnaubal, as bodegas disputavam qual seria a escolhida para a bebedeira dos carregadores, corria dinheiro, a maioria ficavam bêbados, era praxe. Esses comes e bebem, quase sempre aconteciam na bodega do Filinto. Não sei porque; mas, era lá.
Naquele dia e como sempre houve muita cachaça. Muitos ficaram bêbados. Não havia anda a ponte sobre o rio que margeava o povoado, essa somente um ano depois foi construída por determinação do prefeito de São Benedito e, executada pelo senhor: João Pedreiro. E que está firme até hoje servindo aquela gente e desafiando a engenharia brasileira há mais de meio século.
Em conseqüência, a estrada seguia pala margem direita do rio passando por um lugar chamado bate cinzas e só travessava o rio na Fervura, e que, nessa passagem saia da rocha uma porção d’água que entra em um sumidouro em outro lugar e sai ali.
E foi nessa passagem do rio que, o Ramundica, irmão do falecido, que também estava bêbado, pisou em alguns espinhos de mandacaru e, como aquilo dói prá dedéu, sentou-se sobre o lajedo e mandou que o Vicente Marciano, extraíssem os espinhos com a ponta de uma faca bastante afiada que ele portava. O Vicente também havia desrespeitado a justa, - cachaça – foi tirar-lho os espinhos, porém com cuidado pois a faca estava bastante afiada como mencionei. O Ramundica bateu no cabo da faca com bastante força e o Vicente Marciano para evitar um mal maior segurou a lâmina e fez um corte na mão.
Ramundica meteu a mão no bolço e, puxando um maço de dinheiro, afrontou o Vicente querendo lhe pagar o sangue. Compadre! Quanto é que custa o sangue.
Do Livro: “Histórias nos Morrinhos”
De Amadeu Lucinda
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