O PEDAÇO DE LÁPIS
A ciência que estuda a genética prova que, herdamos de nossos
pais: a cor dos olhos, da pele, dos cabelos e muito mais.
Porém o que mais nos marca vindo de nossos pais é sem sombras
de dúvidas: o caráter. O caráter é formado pela soma dos genes da sabedoria que
eles nos legaram. Do meio ambiente em que vivemos; mas principalmente dos
exemplos que recebemos deles.
Amadeu teve uma família de grande caráter. Seu pai – Antônio
Lucinda – era um sábio, de uma honestidade inconteste. As pessoas que o
conhecia diziam que ele era o homem mais honesto da região.
Ele passou aos seus filhos, religiosidade e muito respeito
pelos seus semelhantes, e acima de tudo pelos bens alheios. Ensinava-os com
sabedoria.
Certa vez, Amadeu era criança, devia ter uns oito anos, vinha
em viagem em companhia de seu pai. Vinham de Santa Cruz, hoje Reriutaba e ao
passarem em Campo Grande, hoje Guaraciaba do Norte rumo aos Morrinhos onde
moravam. Pararam numa loja de tecido para seu pai comprar alguns metros de
fazenda.
Esse estabelecimento
comercial pertencia à: Antônio Meton Silvano Gomes. Era um domingo de manhã e a
loja estava cheia de gente comprando tecidos; uma vez que naquela época não se
comprava roupas feitas, eram todas costuradas em casa.
O balcão era muito comprido e largo, tinha vários caixeiros,
como eram chamados os vendedores balconistas.
Tinha o Chico
Rodrigues filho, o Silvano, o Olavo e outros. O tempo daqueles balconistas era
precioso, pois aquela feira terminava ao meio dia. Há uma hora o comércio era
fechado para o merecido descanso dominical de seus trabalhadores. Por esse
motivo os cacheiros e para ganharem tempo ao atender um freguês não voltavam à
peça de tecido as prateleiras as deixavam sobre o balcão para arrumarem somente
quando não tivesse mais freguês á atender.
Naquelas alturas havia muitas peças de tecido sobre aquele
balcão enorme, e no meio daquela parafernália um dos cacheiro deixou cair um pedaço de lápis que rolava de um lado
para o outro num frenesi de louco, no meio daquelas peças de tecidos.
Enquanto seu pai fazia
compras, Amadeu não tirava os olhos daquela preciosidade: o pedaço de lápis. Num determinado
momento aquele objeto de tanto desejo do Amadeu caiu do balcão e para o lado de
fora. O menino não perdeu tempo o apanhou e colocou-o no bolso. Somente uma
coisa ele não imaginou; era que seu pai estava lhe observando e viu tudo.
Sabiamente seu pai não falou nada e nem deixou que ele
percebesse que ele tinha visto. Quando saíram da cidade e já há caminha de
casa, Amadeu disse:
- Papai eu achei um lápis!
- Foi meu filho! Aonde você achou esse lápis?
- Na loja onde o senhor estava comprando tecidos.
- Em que parte da loja você encontrou esse lápis? Eu vi ele sobre o balcão, mas
sei que lá você não pegaria.
- Não, papai eu achei do lado de fora.
- Mesmo assim esse lápis
não é seu.
- Guarde-o e na próxima semana nós vamos passar por aqui,
você vai entregar e pedir desculpa ao dono da loja.
- Papai, eu não furtei esse lápis, disse revoltado o Amadeu.
Eu sei, meu filho. Porém, ele não lhe pertence.
Na próxima semana ao passarem por aquela cidade o Sr. Antônio
Lucinda levou seu filho pelo braço, chamou o dono da loja e disse que seu filho
queria lhe falar.
- Eu achei esse lápis dentro
de sua loja e meu pai disse que ele não me pertencia estou aqui para
devolvê-lo.
Seu Meton além de amigo de meu pai era político e aproveitou
a ocasião para fazer política. Abraçou o Amadeu e pediu que o esperasse, foi na
prateleira e trouxe e deu de presente ao menino uma caixa com doze lápis e doze borrachas; esse é o prêmio
de sua honestidade. Amadeu não entendeu nada e até pensou que o pesadelo havia
terminado.
Em viajem de volta para casa e no mesmo lugar onde contara
que havia achado o lápis seu pai lhe
falou: você agora tem doze lápis e
doze borrachas, são todos seus, você pode até me dá um de presente, se quiser,
você tem seis irmãos, pode dá para todos eles um, ainda lhe sobrarão seis,
esses vão lhe dá muita alegria, pois são seus pode fazer o que desejar com
eles, aquele pedaço que imaginou que havia achado não. Ele não era seu.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos” de Amadeu Lucinda.
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