O COMÉRCIO DOS MORRINHOS ANTIGO
Havia três tipos de comércio local, a saber: os armazéns de fumo, que
pertenciam a uns poucos abastados que compravam o produto na safra e, às
vezes, até mesmo antecipado e por preço vil. Armazenavam-no em grandes
depósitos para ser vendido um ano depois por preços até dez vezes
maiores. E, por isso, em poucos anos estavam ricos. Eram eles: Chico
Casimiro, Argemiro Gonçalves, Zé Cisso e Chico Leitão: esses eram os
principais.
Tinha os varejistas que compravam desses magnatas seus
produtos e os revendiam nas cidades do sertão. Eram muitos. Semanalmente
estavam eles atendendo as praças de Ipú, Reriutaba, Amanaiara,
Ipueiras, Pacujá, Mocambo e outras. Eram os feirantes ou fumeiros, como
também eram conhecidos. O Chico Casimiro, apesar de armazenista, também
vendia fumo direto na cidade de Sobral – isso no atacado. Viviam esses
cometas semanalmente nessas cidades citadas, garimpando riqueza e
trazendo para engrandecerem os Morrinhos.
Essas formiguinhas
prestaram um grande serviço àquela gente, porém houve um que eu
destacaria pelo seu altruísmo: Seu Antônio Lucinda – ele mesmo,
sacrificando seu trabalho, fazia favor para todos, comprava para aquela
gente por encomenda, remédios, calçados, revistas, jornais e tudo que
vocês possam imaginar, e sem ganhar nada por isso; levava as cartas de
toda aquela população para serem postadas nos correios. Imaginem que até
mesmo de Guaraciaba onde também tinha agência dos correios, muita gente
o pedia para postar suas cartas em Reriutaba, isso porque, sendo essa
as margens da estrada de ferro, tinha malote dos correios seguindo
diariamente para Fortaleza.
O comércio local era composto de algumas
bodegas, um açougue e um salão de jogos. As bodegas vendiam querosene,
sabão em barras, café granulados e pilados, rapaduras, feijão, arroz,
toucinho salgado, açúcar, farinha de mandioca, sal marinho, condimentos
etc.
Os bodegueiros eram: Antonio Dumingo, Zé Cisso, Pedro Inácio,
Antonio Coló e Pitonho, sendo que o Antonio Coló agregava à bodega, um
açougue, bois que eram abatidos sob o velho jacarandá tão conhecido de
todos. A do Pitonho era composta com o salão de jogos mencionado: tinha
um bilhar francês que era locado a C$. 2,40 a hora, também tinha o
víspora em que jogavam duque, terno, quadra, quina, inglês e outros
tipos de jogos. Em cada partida, o Pitonho tirava uma ficha pela locação
do jogo, como a mesa muitas vezes compunha-se de até vinte elementos,
em conseqüência eram vinte fichas! Uma não fazia diferença. Acontece
que, no final do dia, todos haviam perdido, somente o Pitonho tinha
ganhado, pois sua ficha não tinha volta.
Também na vizinha
Cachoeirinha que apesar de ser um lugar muito pobre e de poucos
moradores, tinha uma bodega e açougue muito bem sucedidos. As razões do
sucesso desse comerciante é que ele tinha preços sem competição, também
as facilidades que ele oferecia ninguém tinha condições de fazê-las,
além de seus preços mais baratos esse comerciante ainda vendia fiado e
nem punha no caderno, quase sempre os clientes pagavam, todos gente boa!
No entanto se não pagassem não havia problemas. A razão dessa caixa tão
folgada estava no fornecedor do açougue, era “o Cumpadi Fulô”.
Eram
abatidas até três reis por semana. Todas fornecidas pelo Cumpadi Fulô.
Acontece que aquele açougue se situava às margens de uma grande pastagem
comum, ali pastavam gado de todo mundo. Até mesmo o do Amadeu Lucinda,
que só tinha um boi e fora solto também naquele pasto; disseram-lhe que
uma cobra o tinha mordido e em conseqüência havia morrido. Porém como
ninguém viu esse boi morto, tenho minhas dúvidas, quem sabe não fora
mais um que o cumpadi fulô vendeu para aquele comerciante e… sem minha
procuração.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos”
De Amadeu Lucinda.
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