quarta-feira, 30 de julho de 2014

O COMÉRCIO DOS MORRINHOS ANTIGO

Havia três tipos de comércio local, a saber: os armazéns de fumo, que pertenciam a uns poucos abastados que compravam o produto na safra e, às vezes, até mesmo antecipado e por preço vil. Armazenavam-no em grandes depósitos para ser vendido um ano depois por preços até dez vezes maiores. E, por isso, em poucos anos estavam ricos. Eram eles: Chico Casimiro, Argemiro Gonçalves, Zé Cisso e Chico Leitão: esses eram os principais.
Tinha os varejistas que compravam desses magnatas seus produtos e os revendiam nas cidades do sertão. Eram muitos. Semanalmente estavam eles atendendo as praças de Ipú, Reriutaba, Amanaiara, Ipueiras, Pacujá, Mocambo e outras. Eram os feirantes ou fumeiros, como também eram conhecidos. O Chico Casimiro, apesar de armazenista, também vendia fumo direto na cidade de Sobral – isso no atacado. Viviam esses cometas semanalmente nessas cidades citadas, garimpando riqueza e trazendo para engrandecerem os Morrinhos.
Essas formiguinhas prestaram um grande serviço àquela gente, porém houve um que eu destacaria pelo seu altruísmo: Seu Antônio Lucinda – ele mesmo, sacrificando seu trabalho, fazia favor para todos, comprava para aquela gente por encomenda, remédios, calçados, revistas, jornais e tudo que vocês possam imaginar, e sem ganhar nada por isso; levava as cartas de toda aquela população para serem postadas nos correios. Imaginem que até mesmo de Guaraciaba onde também tinha agência dos correios, muita gente o pedia para postar suas cartas em Reriutaba, isso porque, sendo essa as margens da estrada de ferro, tinha malote dos correios seguindo diariamente para Fortaleza.
O comércio local era composto de algumas bodegas, um açougue e um salão de jogos. As bodegas vendiam querosene, sabão em barras, café granulados e pilados, rapaduras, feijão, arroz, toucinho salgado, açúcar, farinha de mandioca, sal marinho, condimentos etc.
Os bodegueiros eram: Antonio Dumingo, Zé Cisso, Pedro Inácio, Antonio Coló e Pitonho, sendo que o Antonio Coló agregava à bodega, um açougue, bois que eram abatidos sob o velho jacarandá tão conhecido de todos. A do Pitonho era composta com o salão de jogos mencionado: tinha um bilhar francês que era locado a C$. 2,40 a hora, também tinha o víspora em que jogavam duque, terno, quadra, quina, inglês e outros tipos de jogos. Em cada partida, o Pitonho tirava uma ficha pela locação do jogo, como a mesa muitas vezes compunha-se de até vinte elementos, em conseqüência eram vinte fichas! Uma não fazia diferença. Acontece que, no final do dia, todos haviam perdido, somente o Pitonho tinha ganhado, pois sua ficha não tinha volta.
Também na vizinha Cachoeirinha que apesar de ser um lugar muito pobre e de poucos moradores, tinha uma bodega e açougue muito bem sucedidos. As razões do sucesso desse comerciante é que ele tinha preços sem competição, também as facilidades que ele oferecia ninguém tinha condições de fazê-las, além de seus preços mais baratos esse comerciante ainda vendia fiado e nem punha no caderno, quase sempre os clientes pagavam, todos gente boa! No entanto se não pagassem não havia problemas. A razão dessa caixa tão folgada estava no fornecedor do açougue, era “o Cumpadi Fulô”.
Eram abatidas até três reis por semana. Todas fornecidas pelo Cumpadi Fulô. Acontece que aquele açougue se situava às margens de uma grande pastagem comum, ali pastavam gado de todo mundo. Até mesmo o do Amadeu Lucinda, que só tinha um boi e fora solto também naquele pasto; disseram-lhe que uma cobra o tinha mordido e em conseqüência havia morrido. Porém como ninguém viu esse boi morto, tenho minhas dúvidas, quem sabe não fora mais um que o cumpadi fulô vendeu para aquele comerciante e… sem minha procuração.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos”
De Amadeu Lucinda.

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