domingo, 6 de julho de 2014

domingo, 6 de julho de 2014


merchandising on the road

[por mim, em um dia na vida;
A estrada é uma amiga incondicional. Não importa como eu esteja, com quem ou com o quê, mas ela se mantém firme na sua fidelidade de rigidez asfáltica e tenebrosa, escondendo em cada parte do seu mundo os horizontes. O não saber o que vem adiante e o que vem por depois, há quantos graus ao sul dos trópicos e tal é uma linda crônica on the road. A estrada é um mistério que, mesmo ao percorrê-la, nunca nos fará achar a solução. Daí vem a vontade de escrever, crescendo em cada passo, cada giro do pneu e em cada freada brusca numa curva mortal. A estrada testa nossos limites psicológicos tanto quanto os físicos, como se nos mostrasse quem é que manda somado a um 'não 'tô-nem-aí para o que você quer'. Flui, constante, para onde que quer seja. Apenas a seguimos enquanto ela houver e, nesse interím, um reles coleguismo ganha uma face apresentável.
Segui uma dessas hoje como quem segue o infinito. Uma semana longe de casa nos faz pensar como é bom ter um cordão umbilical do tamanho das distâncias: o querer voltar se torna constante. O calor era doce nesse regressar, sentir o sol da volta é menos doloroso do que o da ida. A estrada, por sua vez, deixa o coleguismo em nome de uma amizade quase que confidencial, nos ditando as curvas acentuadas para aquém de onde saímos. O meu olhar se perdia nos limites do universo. Pra lá ainda tem mundo, quase que eu dizia a mim mesmo em voz alta, mas evitava que o verbo ganhasse forma (guardando-o, talvez, para essa crônica solitária). Ouço Caê, não sei o quê de 'esse laço era um verso'. Lacei o infinito da estrada num refrão cálido que envolvia um 'abraçaço'. Quase que sentia o gosto da volta ganhar-me os lábios, mas antes de tudo, o via ganhar o mundo das retinas. Revi as montanhas e um céu há muito conhecido pelas estradas de amizade-longa-data que eu já transitei numa curta adolescência lógica. Estava em casa, ainda que não totalmente; havia muito céu infante para se ver, por ora, me deleito na indecisão do ir e do ficar. A parte que fica, fica pra sempre, e de lá construo uma nova estrada, destinada ao regresso para todas as vezes que eu ganhar o mundo. O ir fala mais alto, a vida explode nas curvas familiares de minhas retinas. Vou para casa e recebo de brinde a brisa cálida das terras por onde cresci. O mistério solucionado da estrada ainda percorre os caminhos misteriosos pelos quais ainda vou dar com o pé, mas agora, só me deleito. 
E se vai e se fica? Ainda não sei. Relevo meu ser ao espaço dado pelo verbo e os olhos se deleitam nas estradas que ainda estão por vir.

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