CHICO CASIMIRO E O CHICO GAMELA
Carnaubal e Campo da Cruz, até os anos cinqüenta, eram distritos de São Benedito. Havia entre eles grande rivalidade. Engraçado é que eram dependentes um do outro. Apesar dessa dependência, não se aceitavam. Campo da Cruz, por situar-se na serra propriamente dito, seu clima era amenos e produzia muitas frutas que fornecia o mercado de Carnaubal. Esse, por sua vez, possuía terras argilosas, possuindo boas olarias e fornecia telhas e ladrilhos para Campo da Cruz.
Viviam às turras. Uma vez, foi inaugurada luz elétrica em Campo da Cruz, e mandaram vender as velhas lamparinas a querosene em Carnaubal. (Coitado do portador). Pobre (ABEL) maluco… pagou o pato.
Somente em uma coisa eles se igualavam: era nas festas religiosas de suas padroeiras. Aliás, a padroeira das duas comunas é a mesma: a mãe de Jesus. Em Carnaubal, N.S. Auxiliadora, e sua festa em 8 de setembro, em Campo da Cruz, N.S. da Conceição, e sua festa em 8 de dezembro. Ambas muito animadas. Porém, em uma coisa Carnaubal tinha que tirar o chapéu para o Campo da Cruz, era em sua feira livre. Por estar perto do sertão e por sua feira acontecer aos domingos, vinha muita gente daqueles pés de serra comprarem e venderem seus produtos. Era forte e muito animada a feira de Campo da Cruz. Muitos iam, nem que fosse apenas para beber garapa (caldo de cana). Enquanto isso, Carnaubal tentara várias vezes sem sucesso fixar uma feira livre local.
Quando Carnaubal se emancipou politicamente, seu prefeito no afã da consolidação do novo município pensou em muitas coisas que seriam necessárias, e, dentre essas coisas, a feira livre. E porque não? Ele mandou divulgar que seria inaugurada a feira livre de Carnaubal em uma determinada data, que todos estavam convidados para o acontecimento e que fossem comprar e vender seus produtos – podiam levar tudo para vender, o produto que por acaso não tivesse comprador, o prefeito compraria no fim da feira. Era um incentivo para que todos fossem. Chegou o grande dia, aquilo parecia tudo, menos uma feira livre, estava mais para um mercado persa. Via-se de tudo que jamais fora visto nas feiras da região. Tinha um garoto com dezenas, talvez centena de bastidores presos com arame em duas pontas de uma vara sobre os ombros, desde as primeiras horas da tal feira até depois de meio dia, de uma ponta à outra da feira e não vendera um sequer, - esse garoto, embora eu saiba seu nome, nem por um decreto direi. Nem sobre tortura.
Foi aí que o Chico Gamela (um artesão que morava na Macambira e vivia de fazer gamelas, motivo de seu nome) entusiasmou-se e durante muitos dias esculpiu seis gamelas e as levou para vendê-las, já que tinha venda certa. Não levou o coitado um níquel se quer para tomar um cafezinho, talvez por não tê-lo e também pela certeza da venda já que o prefeito garantira. Aconteceu que, não houve um freguês para suas gamelas e nem o prefeito comprou nada. Era blefe.
Já passava das duas horas da tarde, e o pobre Chico Gamela, até aquele momento, pela sua boca só havia passado, naquele dia, as palavras da Salve Rainha. E, isso de dentro para fora, pois, no sentido inverso, nada. A fome era muito grande. Foi aí que ele por um instante enxergou a solução. É que ele viu vindo em sentido contrário e em sua direção o Chico Casimiro.
O Chico Casimiro era um caboclo analfabeto, porém muito inteligente. Negociava com fumo em Sobral, morava nos Morrinhos e considerado rico para o lugar. Era casado com minha tia, era um homem de bem. No entanto, quando tomava umas birinaides – era um show.
Quando o Chico Gamela viu seu xará, o Casimiro, pensou, chegou à solução. Em se aproximando do futuro freguês, disse:
─ Seu Chiquinho, me compre essas seis gamelas!
─ Pôbém, – respondeu o Casimiro – compro.
─ Pôbém, vamo fazê um justo em seis mil gamelas.
─ Mas, seu Chiquinho, eu só tenho seis gamelas.
─ Pôbém, sou home rico, compro seis mil gamelas e pago em dinheiro.
Coitado do Chico Gamela, só tinha seis gamelas e o Chico Casimiro só comprava seis mil.
Não se entenderam.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos”
De Amadeu Lucinda.
Hélio Martins: radialista e secretário de educação de Carnaubal
  • Francisco De Asis Assis
AS CRIANÇAS DOS MORRINHOS
A arte imita a vida, diz o dito popular.
É verdade, as crianças imitam os adultos que as cercam, que convivem com elas. O Mundo é, para elas, os fatos que os adultos praticam a seu redor. Esses fatos que elas presenciam, vivem, ouvem, veem, sentem; é seu Mundo.
As crianças do mundo árabe brincam com cópias de armas de guerra: fuzis, bazucas, mosteiros, metralhadoras e até mísseis. É o mundo em que elas vivem....
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  • Francisco De Asis Assis
Padecer
Luzia- homem padece
Sob o sol impiedoso
Da minha urbe...
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  • Francisco De Asis Assis
AS SERENATAS
Nada mais puro, carinhoso, amoroso, fantasioso, imaginário e sentimental que… as serestas nos Morrinhos.
Os rapazes se organizavam em um grupo e marcavam a grande noite. Quase sempre aos sábados. Só fugiam a essa rotina se houvesse um motivo especial! Alguém que fosse embora do lugar, fato rotineiro. E, como isso acontecia em qualquer dia da semana, nesse caso, a seresta era programada para a antevéspera da partida.
Eram somente rapazes os componentes, mulheres n...
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  • Francisco De Asis Assis
UMA FESTA DE NOIVADO
Engraçado! A festa de noivado lá nos Morrinhos e adjacências não eram um noivado, mas sim, um casamento.
É, isso mesmo. O noivado naquelas paragens resumia-se em o futuro noivo pedir ao pai de sua consorte sua mão em casamento e oferecer-lhe aliança de noivado. Esse pedido podia ser pessoalmente ou por carta, o que era mais comum.
A festa de noivado conhecida era uma grande solenidade que acontecia no dia do casamento....
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NA PRAÇA DO RELÓGIO EM SÃO BENEDITO
Hoje minha amiga Antonia Medeiros de São Benedito, postou uma foto de um carro estacionado na entrada de uma rampa destinada aos cadeirantes, naquela cidade. E quando foi acionada para tirar o carro Dalí, aquela senhora dona do carro virou uma fera.
Isso me fez lembrar um caso acontecido comigo também na mesma cidade: nos fins dos anos sessenta, estava de passeio nos Morrinhos na casa de meu sogro. E fui na companhia de um sobrinho do meu ...
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  • Francisco De Asis Assis
O MIGRANTE
A terra que nos viu nascer, o nosso berço natal exerce um grande poder sobre nós. O lugar onde nascemos é como a nossa própria mãe.
Corta-se o cordão umbilical, mas continuamos ligados a ela por toda nossa vida.
Quando nos ausentamos de nossa mãe levamos conosco o cheiro de seu suor que é o maior perfume que o nosso olfato já conseguiu sentir. ...
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MULHERÃO
Peça para um homem descrever: Um mulherão. E ele vai falar do tamanho dos seios, da medida da cintura, do volume dos lábios, das pernas, do bumbum; da cor dos olhos e etc .
Mulherão, dentro desse conceito, não existe muitas. Uma Vera Fischer, Malu Mader, Adriana Galisteu, Deborah Seco e mais algumas poucas.
Agora se você perguntar para uma mulher o que ela considera um mulherão, a visão dela é diferente e lhe dirá: mulherão, é aquela que pega dois ônibus para ir...
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O C A R N A V A L
Fomos convidados á escrever sobre o carnaval. Falem dos carnavais de suas infâncias. Ordenou a coordenadora, quais as lembranças, o que eles foram para vocês.
Tenho uma colega na faculdade: a Luíza, ela escreve muito bem, também é muito transparente a maneira que ela narra os fatos, ela vivencia o que escreve. É gostoso lê-los.
Sempre gostei muito de carnaval desde pequena, disse ela. Eu respondi: esperamos que quando crescer continue gostando, respondi, ...
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  • Francisco De Asis Assis
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  • Francisco De Asis Assis
transitoriodiamante.blogspot.com
T R A J E S D O M É S T I C O S
Pediram-nos que escrevêssemos como foram os trajes domésticos de nossas infâncias. Também nos foi pedido á falar daqueles trajes em crianças que nos obrigavam há usá-los, porém, eu os detestava.
É impossível falar de costumes de um povo sem levar em consideração sua condição financeira. Apesar dos dizeres: não é a barba que faz o filósofo, não é o hábito que faz o monge; e tantos outros. Na prática a coisa não é bem assim, pelo contrário, as ...
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Lançamento, próximo sábado, 19/7, às 17h, no Espaço O POVO de Cultura & Arte. Queria muito ver meus amigos por lá. Vamos? COMPARTILHE!
http://raymundo-netto.blogspot.com.br/2014/07/lancamento-boto-cinza-cor-de-chuva.html
FOTOS do 1º dia (abertura) da I Feira Literária Granjense. Acesse e compartilhe: http://granjaceara.com.br/fligran2014/2014/07/13/imagem-do-1o-dia-da-feira-literaria/
A abertura da I Feira Literária Granjense foi marca por um grande público...
granjaceara.com.br
C O M E R C O M A S M Ã O S

Um dia nos foi pedido que, relatássemos o que nós comemos com as mãos. Aí me lembrei que: comer com as mãos seria voltarmos ás origens.
O homem primitivo, ou o homem pré-história não conhecia instrumentos nem um, para levar a comida á boca....
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Geração Nova.
Já não falamos mais de amor.
Só de paixão e sexo.
Não existem mais namorados nas pracinhas,...
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Sobre o estranho
Paro, imploro: pare também por um instante...
Que é isso? Que é isso?!
Onde pisam seus pés?...
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OS GRANDES ENSINAMENTOS DO MESTRE
Jesus não veio ao Mundo pelos justos, mas sim pelos pecadores. Ele disse isso tantas vezes. Falava em parábolas para que, todos entendessem.
A história do filho pródigo; aquele que depois de uma vida mundana e cheia de pecados, volta. E o pai faz uma grande festa para recebê-lo, e disse: o Céu tem muito mais alegria por um pecador que se redime de que por todos os justos que já existem. Falou do pastor que tendo cem ovelhas, largou as noventa...
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C O S T U M E S N A S E M A N A S A N T A
Numa oficina destinada à adulto na UERJ, foi pedido que, falássemos das semanas santas de nossos infâncias. Voltei a insistir com eles em falar de minha região. É dito popular em minha terra que, “todo terra tem seu uso, toda roda tem seu fuso”.Por isso, muitas coisas que falo de minha infância vocês não entendem. Não é minha infância que está muito longe, e sim, minha terra que está distante. E como, ela foi vivida lá, é dos ...
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  • Francisco De Asis Assis
O PODER DE LIDERANÇA.
O poder de liderança, você não cria, você não o constrói.
A liderança é de sua própria natureza. Líder nasceu para isso; ele ou ela nasceu para isso, nasceu para liderar. Isso não é um privilégio do ser humano, todos os animais tem seu líder, até mesmo as feras. Nem sempre esses líderes usam isso, em benefício próprio.
Eu sempre tive um certo poder de liderança....
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  • Francisco De Asis Assis
Aqui vai o convite do meu primeiro livro de poesias! Sintam-se convidados!
Estarei sendo entrevistada por meus colegas escritores Luciano Bonfim e Léo Prudêncio acerca do livro " Arcanos Maiores e a Valsa Leve". Haverá espaço pra perguntas... Ficarei feliz com a presença de vocês, queridos escritores!
Um abraço apertado!
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F E S T A S E L A Z E R
A festa é uma reunião, onde se encontram amigos ou parentes para se devertirem ou homenagearem-se.
Como já mensionei, o povo dos Morrinhos era muito festeiro. Aliás, Morrinhos era uma festa permanente. Aquela alegria daquela gente tinha explicaçào. Não há alegria onde a pobreza é absoluta. Morrinhos apesar de está naquela região pobre, sem indústrias, sem fontes de recursos, seu povo vivendo da agricultura de subsistência, havia lá aqueles garimpei...
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  • Francisco De Asis Assis