sexta-feira, 11 de julho de 2014

C O S T U M E S   N A   S E M A N A   S A N T A

Numa oficina destinada à adulto na  UERJ,  foi pedido que, falássemos das semanas santas de nossos infâncias. Voltei a insistir com eles em falar de minha região. É dito popular em minha terra que, “todo terra tem seu uso, toda roda tem seu fuso”.Por isso, muitas coisas que falo de minha infância vocês não entendem. Não é minha infância que está muito longe, e sim, minha terra que está distante. E como, ela foi vivida lá, é dos costumes de lá que devo falar.
A semana tem sete dias, cada um com suas particularidades, mesmo em semanas comum. Segunda-feira é o dia da preguiça, sexta-feira, é o dia do chope, e dia de fechar a semana com chave de ouro, domingo dia da missa. Isso, em semana comum, imaginem na semana santa. Nesta cada dia tem um valor conforme o que acontecera nele conforme a história.
A semana santa, na minha terra era coisa extraordinária. Parecia até que ela não fazia parte do calendário comum. Era tudo muito diferente.
No sábado que a antecedia, todas as imagens ou esculturas dos santos, quer nas Igrejas ou nas casas de famílias católicas, eram cobertas. Segundo os costumes, eram para que, os santos, não vissem o sofrimento de Jesus. Ainda no sábado, o padre mandava colher folhas do olho das palmeiras babaçu, e que, tinham as cores nacionais, (verde e amarelo,) eram por ele bentas e, ante da missa distribuídas com a multidão que depois saía em procissão e depois voltavam à Igreja entrando triunfalmente na mesma, simbolizando há entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Era domingo de ramos.
Segunda-feira e terça-feira havia pregações sobre a vida de Jesus Cristo, quarta-feira, era quarta-feira de trevas, apartir deste dia as estradas se enchiam de crianças pedindo esmolas, não eram flagelados, era cultura do lugar como aqui, Cosme e Damião, crianças até de classes abastada se infiltravam com os demais, colocavam um ou mais sacos nas costas e tome a pedir esmolas. Eles batiam as portas e diziam: “uma esmolinha para minha mãe jejuar”.Davam-lhe  à uns e outros não, era muita gente, não dava para atender a todos.
Eu mesmo fui uma vez. Meus pais eram conhecidos de toda aquela gente e muitos queridos por todos. Quando cheguei em uma certa casa, pedi,  e alguém sem olhar quem era,  disse: perdoe, hoje não tem. Saí, só que, alguém olhou e me reconheceu e disse: é o filho da comadre Emília! Tentei fugir sem ser reconhecido, afinal o que eu estava fazendo era apenas farra; não deu. Encheram o saco que eu portava de farinha, beiju, milho verde, maxixe, jerimum e até um pedaço de queijo que era artigo de luxo me deram. Tive que voltar estava muito pesado.
Quinta-feira Maior e sexta-feira da Paixão eram dias de jejum e abstinência. O jejum eu sabia, pois meus pais nesses dias não tomavam sequer o café matinal e, só iam jantar as 12:00 horas, e a ceia era as 18:00 horas.  Essa abstinência é que eu não entendia. Ah! Deixa isso p`ralá.
Nesses dois dias não se ouvia música, não se fazia serviço algum que dependesse de tração animal e sexta-feira não se ordenhava as vacas, e quando o faziam não se vendia o leite, era doado. Nem mesmo banho se tomava na sexta-feira da Paixão.
Na quinta e sexta-feira, o respeito era total, uma criança que aprontasse naqueles dias nada lhe acontecia, não se podia bater ou castigar ninguém. Quem fizera aquilo naqueles dias foram os judeus, ou os romanos,  e ninguém queria ser judeu. Entendiam eles que, judeu era quem judiava dos outros, quer dizer, maltratavam como fizeram com Jesus.
Muitas coisas eu não as entendia: porque não havia almoço naqueles dois dias, já começávamos com a ceia? Também era o único dia que era usado toalha na mesa. Isso somente para os que estavam jejuando.
Também era praxe, ir-se visitar os padrinhos e pedir-lhe a benção, e que quase sempre vinha acompanhada de um presente. Também se visitava os pais quando não morava com eles.
Todo esse silêncio, todo esse respeito, todas essas proibições terminavam a meia noite de sexta-feira para sábado. Aí era só festa, começava a malhação do Judas, depois banho de rio em plena madrugada, águas geladíssima, porém acreditava-se que até as seis horas da manhã a água era benta. Era Aleluia e, Aleluia é alegria, por fim o Domingo de Páscoa. Missa para agradecer a Deus por Jesus ter Ressuscitado.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos” de Amadeu Lucinda.     

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