P R E C O N C E I T O
O preconceito é um ato
criminoso, perverso e odiento. Pré, quer dizer antes; conceito: idéia, juízo,
opinião etc. etc. Preconceito é fazer-se um juízo, é ter-se uma idéia, é ter e
dá opinião sobre algo que não conhecemos.
O negro é o mais
descriminado nesse sentido; no entanto não é o único. O nosso povo é muito
preconceituoso. Descriminam: o pobre, o nordestino, - o Paraíba – o
estrangeiro, - o gringo – a mulher, o gordo, o idoso, o religioso, o político.
Enfim, se fossemos relatar todas as etnias vítimas de preconceitos, essa folha
seria pequena. (Cabe dizer que preconceito é crime) racismo, injúria etc. Minha
intenção é apenas registrar meu protesto contra esse ato abominável do qual já
fui vítima.
As mães colocavam inconsciente
na cabeça das crianças que o negro era algo terrível, perigoso; diziam: o negro
vai te pegar! O negro vai te carregar. Dando entender que o negro era algo
diferente e perigoso, isso arraigava naquelas mentes puras e depois ficava
muito difícil livrar-se, estava sendo implantado o preconceito.
A mulher é outro ser
que sempre foi descriminada e muitas vezes mostrada como um ser inferior, o que
ela não é, e nunca foi. Porém, essa descriminação está enraizada há muito tempo.
As religiões sempre trataram a mulher com preconceito. Segundo a Bíblia, o
pecado só existe porque a mulher foi fraca, ainda segundo as escrituras quando
havia um adultério, a mulher era apedrejada até a morte ou queimada viva.
Ninguém adultera sozinho. Hoje mesmo quando uma mulher se envolve em um
acidente de transito (e é raro) é comum ouvir: tinha que ser mulher! Outro
bordão: mulher no volante, perigo constante.
Os nordestinos que
vivem aqui no sudeste, hoje com menos intensidade, mas já foi algo de muita
descriminação. Nós temos consciência de quanto devemos á essa cidade que nos
acolheu, porém, também demos nossa contribuição, e posso garantir que não foi
pouca. Não somente construímos suas casas, mas, em todos os seguimentos da
sociedade o nordestino se faz presente.
E por falar em
nordestinos, outro dia eu estava assistindo a uma palestra na faculdade. O
palestrante não foi feliz quando em minha presença disse que, se ver o
nordestino como pessoa inferior é porque, só vem pra cá, o sertanejo, o sem cultura
e o pobre. A nata do nordeste fica por lá. Eu disse: o nordestino não é pessoa
inferior, e nem todo sertanejo é pobre, e nem um deles são incultos; e
acrescentei: - Nós fomos colonizados por Portugal, e não foi á elite portuguesa
que veio para a colônia. E nem por isso deixamos de ser um povo respeitado e um
País rico.
Também, outra vez eu
estava assistindo uma palestra no Centro de Direitos Humanos, da Diocese de
Nova Iguaçu e o palestrante era um secretário do governo do estado e o tema era
Preconceito.
O palestrante que
também era professor deu um banho de história. Falou desde “O Navio Negreiro”
de Castro Alves até os quilombos, principalmente o dos Palmares, o mais famoso,
falou do heroísmo de Zumbi, enfim era enriquecedor o que ele passava. Más, ele
só falava do preconceito com o negro que todos nós repudiamos e sabemos que é o
mais forte; porém, não é o único. E somente para enriquecer a aula falei de
outras descriminações, inclusive com os nordestinos, e que algumas vezes eu
mesmo tinha sido xingado de Paraíba, e que nem era da Paraíba e se assim
o fosse seria paraibano e não Paraíba, mas, que eu tinha nascido era no Ceará.
Foi aí que a palestra
tomou outro rumo. – Ele disse: “o cearense é o povo mais preconceituoso que eu
conheço, e acrescentou: Eu processei o Chico Anísio e o fiz mudar de domicílio,
hoje ele está nos U.S.A. e vem uma vez por semana ao Brasil para cumprir
contrato que tem com a Rede Globo. Também processei oTiririca porque ele gravou
a nega fedorenta e vou processar o Tom Cavalcante.”
Eu disse: - Professor,
a aula hoje é sobre preconceito, e o que estamos vendo aqui hoje, é ele e da maneira mais explícita. O
senhor está generalizando e pegando pesado com o povo cearense. Manera! Pega
leve. O senhor como professor de história tem obrigação e dever de conhecer
melhor nossa história. Principalmente a história do Ceará e de seu povo. O
Ceará é cognominado: “Terra da Luz” o palácio do governo cearense chama-se
“Palácio da Luz” e isso não é coincidência, isso não é por acaso.
É que, o Estado do
Ceará foi o primeiro estado brasileiro a libertar seus escravos. A cidade de
Acarape na região metropolitana de Fortaleza libertou por decreto todos seus
escravos, em 1876, ou seja, doze anos antes da redentora – Princesa Izabel –
assinar a Lei Áurea, e por esse motivo essa cidade chama-se hoje orgulhosamente:
Redenção.
Professor! Porque em vês
de processar o Tiririca o senhor não processar a Sony Disc., a única que tinha
obrigação de saber de suas responsabilidades; não um pobre palhaço de circo. Más,
a Sony tem departamento jurídico muito bem estruturado. E sendo assim, é mais fácil processar um
Tiririca do Brejo. E, isso é preconceito.
Professor, procure
antes se inteirar da história do Ceará, principalmente sobre a escravidão, onde
tivemos os maiores abolicionistas. Conheça pelo menos a história do Chico da
Brígida, menina nascido em Canoa Quebrada, e que até aos vinte anos era
analfabeto e apenas um jangadeiro como muitos; com sua bravura se tornou o
grande defensor dos escravos nas costas do Ceará ao Maranhão. Aliás se eu
perguntar aqui se algum dos presentes já ou ouviu falar em Chico da Brígida,
poucos ou talvez nem um diga que sim. Porém se eu falar no “DRAGÃO DO MAR,
todos saberão, pois é a mesma pessoa.
Do Livro; “Fragmentos de Uma Oficina Acadêmica.”
De Amadeu Lucinda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário