sábado, 14 de junho de 2014

IDEAL

O ideal é que diferencia o homem de idéias dos homens comuns. O ideal é que move o homem aos grandes empreendimentos. O homem sem idéias é um homem morto. São as idéias quem movem o homem para um universo que somente os idealistas o alcançam.
Em todos os segmentos da vida, as idéias são importantes, mas é na política onde elas se destacam com mais clareza. Nela, tivemos grandes homens que se destacaram por suas idéias. Quer dizer, por seus ideais.
Vou citar alguns: Abraham Lincoln, que era um simples lenhador e se transformou em presidente da maior potência do Mundo - Estados Unidos da América. Foi ele não apenas um grande estadista, mas também um excelente filósofo, deixando frases que transcenderam os tempos. Exemplo: “Enganam-se a todos por algum tempo. Enganam-se alguns por todo tempo, porém não se engana a todos por todo o tempo”. Outra dele: “não se faz independência financeira permanente com dinheiro emprestado”. E tantas outras.
Aqui mesmo no Brasil, tivemos políticos de grandes ideais. Vou citar alguns e peço desculpas por tantos outros que por alguns motivos não citarei. O Presidente Washington Luís, que teve a idéia de construir estradas e as construiu. Ele não poderia ter sido mais feliz, quando pronunciou a seguinte frase: “as estradas chegam primeiro, o progresso vem depois: é através delas que ele chega”.
Um outro, o nosso JK, o Presidente Bossa Nova, boêmio, inteligente, mas acima de tudo um grande idealista. Juscelino Kubitschek de Oliveira idealizou para o Brasil fazer cinqüenta anos em cinco e o fez! Construiu Brasília e, em conseqüência, mudou a capital para o Planalto Central do Brasil. Trouxe para cá as fábricas de automóveis, pois, naquela época, até mesmo os táxis eram importados. Essa foi apenas uma das muitas peripécias de JK! Ele era tido por muitos como doido! Mas todos os grandes idealistas são lunáticos.
O Rio de Janeiro, no começo do século XX, tinha uma grande falta d'água e, com isso, trazendo grande sofrimento ao seu povo. Era um problema crônico, passara por muitos governantes e ninguém o solucionava. Foi então no governo do prefeito Francisco Pereira Passos (tendo seu mandato de 1902 a 1906) que embelezou ainda mais o Rio de Janeiro com suas obras faraônicas, como: abertura da Avenida Central, (hoje) Rio Branco e tantas outras. Mas uma coisa merece destaque em sua gestão: ele idealizou que acabaria com a falta d'água na cidade. E para isso, ele contratou dois jovens engenheiros que lhes garantiram que, se houvesse recursos, em um mês sanariam o problema. Eram eles Dr.André Gustavo Paulo de Frontin e Dr. Raimundo Belford Roxo. Esses jovens captaram água de Tinguá e Rio D'ouro na Baixada Fluminense e em poucos dias o Rio tinha água. Muitos logradouros hoje existentes nessa cidade homenageiam esses heróis: Av. Passos, no Centro do Rio, Av. Paulo de Frontin, no Rio Comprido, Rua Belford Roxo, em Copacabana. Até mesmo duas cidades do Estado receberam os nomes desses heróis, Paulo de Frontin e Belford Roxo, como prova de gratidão dos benefícios que os esforços desses jovens trouxeram a essa cidade.
O jovem médico e sanitarista, Osvaldo Cruz, nascido em São Luís do Paraitinga em São Paulo, pagou um preço alto pelo seu ideal, mas livrou o Rio de Janeiro da febre amarela e outros males endêmicos existentes na época.
Essa gama é infinita, vou citar um por quem tenho a maior admiração e respeito: Delmiro Gouveia. Muito mais que um idealista, foi um visionário; ele via o mundo muito além de seu tempo, de sua época (Aliás me perdoem; todos os idealistas são, antes de tudo, uns visionários.).
Delmiro Gouveia, nasceu em Ipú, uma pequena cidade da micro região de Sobral no estado do Ceará em 1863. E para não fugir a vocação do cearense: migrou. Só que ele não deixou o seu nordeste. Tornou-se empresário em Recife, capital do Estado de Pernambuco. O Recife era uma cidade cosmopolita, e ele, apesar de empresário e bem sucedido, era, em seu âmago, apenas um menino do sertão. Pensando assim, Delmiro voltou para o sertão. Só que, não mais para o Ceará; subiu pelo Rio São Francisco, e em Alagoas se instalou na cidade de Pedra, distante trezentos quilômetros de Maceió. Essa cidade se chama hoje, orgulhosamente, “Delmiro Gouveia”, onde ele morreu vítima de uma emboscada, em 1917, que fora organizada por pessoas invejosas e que, seus pequenos pensamentos não alcançavam a grandeza de seus ideais.
Enumerar os fatos, resultantes das idéias de Delmiro Gouveia, um livro seria pouco. E os frutos de suas idéias, que estão por aí, frutificando até hoje. Mas, uma de suas idéias tem destaque - pela suntuosidade, pela magnitude e relevância dos serviços que vem prestando até hoje ao povo brasileiro, principalmente ao povo do nordeste. Ele, olhando a Cachoeira de Paulo Afonso, idealizou e construiu a primeira hidroelétrica da América do Sul; era ali ele implantando o embrião da C.H.E.S.F., hoje com suas poderosas turbinas, produzindo energia e criando riqueza, iluminando o nordeste e, como dissera o Gurdurinha em sua música, logo após sua inauguração: “Paulo Afonso, se ligarem mais um fio, você ilumina o Rio, São Paulo e toda a Nação”
Algumas histórias de Delmiro me foram passadas pelo Seu João: um velho ourives alagoano e meu amigo, que nos anos sessenta morava em Austin, um distrito de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. E que conhecera pessoalmente Delmiro. Contava suas histórias com grande entusiasmo. Seu João, morava aqui no Rio, porém era procedente da cidade de Pedra, (hoje Delmiro Gouveia, em Alagoas). Seus olhos brilhavam quando ele falava de Delmiro Gouveia, falava de sua coragem, sabedoria, mas acima de tudo de seu altruísmo. Ainda segundo ele, naqueles tempos remotos das últimas décadas do século XIX e a primeira do século XX, ele já dava para seus operários jornadas de oito horas, também mandou construir casas para seus funcionários e creches para os filhos dos mesmos. Ah! Desculpem-me… esqueci de dizer que ele havia montado uma grande indústria têxtil naquele lugar, onde entre outros produtos ele fabricava a melhor linha de coser do Mundo na época, e foi justamente esse produto que despertou inveja da concorrência, terminando na tragédia que já mencionei. Também tinha ele um grande atacado de peles e espichados, exportando seus produtos para vários países da Europa e das Américas. Os ingleses, que na época era o povo dominante, não apenas por ser a Inglaterra o país mais rico, mas também o mais desenvolvido, deles dependiam todos os recém-independentes países das Américas de seus manufaturados, inclusive máquinas, locomotivas e etc. Com a morte precoce de Delmiro, eles adquiriram suas máquinas, destruíram-nas e mandaram lançá-las nas águas do Rio São Francisco, onde permanecem até hoje.
Ainda segundo seu João, em 1911/12, ele vendera grande partida de couro para o México e recebeu o pagamento em prata bruta, a quantidade era tanta que, ele procurou o presidente da República, Hermes da Fonseca, e se ofereceu para fornecer toda prata que o governo precisava para cunhar as moedas que circulariam em 1913. O presidente achou um absurdo, pois na época circulava muitas moedas em prata. Mas, topou, pagou p'ra ver. E foi cumprido o acordado. Seu João me deu uma moedinha de quinhentos réis cunhada em 1913 e me disse: Amadeu, essa e todas as moedas de prata de 1913 foram cunhadas com prata fornecida pelo seu conterrâneo, Delmiro Gouveia.
Obrigado Seu João, onde quer que você esteja, saiba que a guardo com muito carinho.

Do livro: “O Anjo da Noite e Outros Contos” de Amadeu Lucinda.

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