C H A P É U S E S E U S
U S O S
O homem primitivo não
tinha sequer roupa, como poderíamos imaginar que ele tivesse chapéu? A roupa
dele apareceu por uma grande necessidade. Para proteger-se do frio, ele começou
a enrolar-se na pele de suas caças. Começava assim a moda do vestuário.
Também, para se
proteger da chuva, ele colhia grandes folhas de certos arbustos e cobria a
cabeça; depois ele viu que, cobrindo a cabeça não somente estava protegido da
chuva mais também do sol escaldante do deserto. Nascia assim a moda do chapéu.
A finalidade do chapéu
é proteger, não somente a cabeça, mas também, se possível todo o corpo. É
somente tomarmos como exemplo os sombreiros usados pelos mexicanos.
O chapéu tem sido
usado em todas as épocas e por todas as classes sociais. Aliás, o chapéu também serve para
identificar, a que classe social pertence quem está lhe usando. Então vejamos:
ao vermos um cidadão usando uma cartola, sabemos que o mesmo não é um vaqueiro
nordestino; esse usa chapéu de couro e quebrado na testa. Aliás, essa
indumentária que até nosso Gonzagão usava, é conhecida como traje de cangaceiro
e não o é. É sim o chapéu do nosso bravo
vaqueiro nordestino, ele fazia parte de sua roupa de couro que ele usava para
proteger-se dos espinhos das caatingas do sertão na corrida atrás do boi. Os
cangaceiros passaram a usá-los também com a mesma finalidade, não correndo atrás
do boi, mas sim, correndo da volante, - polícia – que eles os chamavam de
macacos.
O agricultor do
nordeste usa: chapéu de palhinha, de dois forros, curinga e o chapéu caravana,
aquele descartável que todos vocês os conhecem por serem usados nas festas juninas
aqui do sudeste. Todos esses chapéus são feitos de palhas de carnaúba aquela
palmeira milagroso do meu sertão e que já falei dela muito para vocês. Esses
chapéus eram usados por aqueles que não podiam comprar um chapéu de feltro, lá
chamados de chapéu de massa, esses eram muito bonitos, tinham copa, abas,
carneira e fita. Entre as marcas famosas estavam: Prada e Mangueira, esse
último fabricado no pé do morro da Mangueira enfrente onde estamos agora. Meu
pai, o velho Antônio Lucinda só usava chapéus de massa.
Tinha os quepes que
eram usados pelos militares e pelos funcionários públicos: correios,
ferroviários, endemias rurais. Juro que em criança eu desejava ser um desses;
somente por causa do quepe; esse tinha em sua parte interna um mapa do Brasil protegido
com um plástico transparente, eu ficava encantado.
Eu tenho uma amiga,
hoje moradora de Fortaleza, é a Lourdes, ela é filha do Lopinho, guarda da
malária, residente em Ipú e de saudosa memória. Há Lourdes um dia mandou ler
sua mão por uma cigana lá na feira de Ipú onde era morava na época. A cigana
pegou sua mão e ao lê-la disse: você vai se casar com um homem de boné. Lourdes
entendeu que, boné seria quepe. Também, pensou ela que, naquele universo onde
ela morava, homens de quepe somente os agentes da estação ferroviária e, esses
eram todos casados. Também tinha os colegas de seu pai que eram da malária;
todos casados. Dando segurança á cidade tinha, quatro soldados, um cabo e um
sargento da polícia militar. Todos casados. Também na cabecinha da Lourdes,
aquele homem de boné, quer dizer, quepe, deveria ser um oficial das forças
armadas. Quem sabe, da marinha! Aquele uniforme azul-marinho deles a
enlouquecia. Mas como da marinha se em Ipú nem mar tinha, como iria ter
marinheiros. Também na sua cidade não tinha exercito e nem aeronáutica, com
certeza seu príncipe não estaria ali. Ela resolveu vir para o Rio de Janeiro. A
cigana não se enganou no Rio a Lourdes se casou com o Moisés Craveiro, um
rapaz do sítio Curralinho, município de
Guaraciaba do Norte. O Moisés, não era militar, porém trabalhava na portaria de
um edifício em
Copacabana. Porém , de boné.
Numa coisa tenho
certeza, aonde os chapéus encontraram mesmo seu lugar foi na cabeça das
mulheres. Tudo que esses seres supremos usam muda para melhor, e elas também, se
é que isso é possível. Vi essa semana no hipódromo de São Paulo, por ocasião do
grande prêmio São Paulo de turfe. Aquelas mulheres com seus luxuosos chapéus
pareciam Divas. Tudo nelas as fazem mais belas. Se é que isso é possível.
Do livro” Fragmentos
de Uma Oficina Acadêmica”
De Amadeu Lucinda
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