sexta-feira, 20 de junho de 2014


Fim dos Cabarés (IPU)
A luz da turbina instalada ao pé da serra, onde as serranias se
mesclam com o verde maravilhoso da nossa Ibiapaba, uma luz branca
que não atendia mais a demanda do consumo da cidade ofuscava logo
as primeiras horas da noite.
Os transeuntes justamente às nove da noite eram pouquíssimos
na cidade, salvo alguns “Guardas Noturnos”, o “Zé Brasilino e o Zé
Torres” de cacete na mão com um casaco de lã para se protegerem do
frio e umas boas doses de pinga para aguentar a virada da noite.
E por mais que fôssemos, como dizemos, solteiríssimos, tínhamos
a preocupação para não sermos vistos indo para o Cabaré. Os
temíveis preconceitos, o conceito de cada um que estava em pauta
para não manchar o seu nome perante suas namoradas e a sociedade
como homens que frequentavam os Cabarés ou o Cabaré da cidade.
Que sociedade? Hipócrita por excelência sempre com a precípua preocupação
com a vida do outro.
34 Prof. Melo
Nos, ou no Cabaré muitas mulheres sempre aguardando os seus
pretendentes ou qualquer um que aparecesse ou aquele que (pintasse
no pedaço).
No período das festas religiosas o número de mulheres crescia e
o fluxo aumentava de forma considerável, dados os festejos que motivavam
a vinda de muitos ipuenses distantes e das circunvizinhanças.
Existiam aquelas que não frequentavam o “Borel”, ou seja, a “Vila
Nova”. Eram as perambulantes da noite. Ressalto nestes escritos a famosa
“Suçuarana”. Nome de batismo: Maria. Era filha de um vendedor
de frutas, homem muito alto e fino, apelidado de Lenheiro, não ficava
zangado com a alcunha que recebera, pois o seu nome oficial era José.
Suçuarana teve as suas primeiras experiências sexuais com um Juiz que
efemeramente estava na Comarca de Ipu. Depois de parida passou a
andejar pegando um e outro. Não usava calcinhas, salvo naqueles dias.
As suas características eram: mulher alta, corpo bem feito, mas de rosto
feioso. Era caridosa a todos que a procuravam ela atendia visando o
faturamento do coito. Desapareceu há muitos anos, não sabemos o seu
paradeiro ou até mesmo se está viva ou morta, isso era nos anos 1960, a
rascoeira Suçuarana talvez tivesse a idade de 15/16 anos.
Outra viandante da noite era a Vassoura. Uma mulherzinha
baixa e muito e feia.
Sensual, atendia apenas por uma olhada de qualquer homem.
Era a doméstica da casa do Sr. Luiz Belém que ficava no Quadro, onde
hoje é a casa do seu filho Antônio Belém. Foi outra piturisca que desapareceu
misteriosamente.
Outra “andarilha de nome “Biscuit” ou Diacuí”, não me recordo
bem a sua antonomásia, mas era mais ou menos assim. Era baixinha
e muito feia e já com alguns anos pesando em seus ombros ou na sua
vida, mas estava sempre a procurar os homens que lhe aparecessem.
“Tinha os ‘olhos cheios de’ Sapiranga” ou cientificamente “O Tracoma”,
mas mesmo assim fazia as suas peripécias.
Outras que percorriam as noites, era a mulher do Sebastião Galo, um
exótico que apesar de meio tresloucado, era também um bicho de chifre.
A Socorro Coco também compunha o quadro das volantinas da
noite, carregando os seus candidatos para o “Chatô” ou “Chateau” da
velha “Maria Maga”, no início do Alto das Pedrinhas.
Simplesmente Crônicas 35
A IUTE era uma tronga mais requintada, pertencia aos mais
oirudos e na falta destes a garotada tomava conta. O festival do bacanal
era na Ponte do Trem, que não era a Ponte Seca e sim a Ponte
Molhada, por onde corre o Riacho Ipuçaba; na areia fina, fria e branca
por onde corria a límpida água da Bica.
Era mais ou menos assim o movimento das marafonas em nossa
Ipu nos fins dos anos 1950 e início dos anos 60. Era um perigo, pois,
na época ainda não existia o anticoncepcional e a camisinha era coisa
rara, mas, mesmo assim acontecia de tudo. As doenças venéreas eram
pertinentemente visíveis, e a gravidez era evidente, um risco a cada
encontro amoroso. Para quem contraía as tais doenças a medicação
indicada era o BISMUTO, muitas das vezes sem nenhuma resposta
ao tratamento e o resultado final era o ato cirúrgico.
Não queremos esquecer duas Biscaias de uma forte expressão,
que marcaram de verdade uma época de ouro dos nossos cabarés,
refiro-me a “Boloza” e a “Bezerra de Ouro” duas mulheres da preferência
da maior parte dos homens (abastados, funcionários públicos)
que frequentavam o Cabaré do Ipu, ou seja, a Vila Nova.
Citamos ainda: Ana Paula, Ana Pires, Teresa Sena, Maria Tamboril,
Chica e Teresa Bival.
Além da Vila Nova, Maria Maga, existia ainda a Rua da Mangueira,
o Gato Preto, e o Xenxém, todos, lugares de prostitutas.
Se foram! Hoje a fuampada corre frouxa nas esquinas e beira de
calçadas de qualquer rua para qualquer um.
Os Cabarés se acabaram.
P.S.
Cancão, figura que se identificava com sua profissão, era um
pincho se prestava ao papel de dar recados das mulheres de vida fácil
daquele tempo aos homens preferidos por elas. Carregava bilhetes e
cartas da mulherada dos cabarés nos tempos idos. Assim fazia mandado
e compras para todos e todas que lhe solicitasse.
O rúfio Cancão. Morreu em idade avançada sem deixar a profissão.

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