terça-feira, 25 de junho de 2013


A NOVA MATRIZ DE SÃO SEBASTIÃO
Foram iniciados, no ano de 1914, os trabalhos da construção desse monumental templo, que iria ser a nova matriz da cidade de Ipu, dedicada ao glorioso mártir São Sebastião, por iniciativa do nosso sempre relembrado Monsenhor Gonçalo de Oliveira Lima, então vigário da paróquia, um filho da terra.
Foi também um ipuense, de nome Arquimedes Memória, residente no Rio de Janeiro, arquiteto, que se prontificou a elaborar a planta. Foi Raimundo Nonato de Souza, ipuense, pedreiro, o responsável pela construção, que durou vários anos, do inicio até o término. E foi Raimundo Heitor Vasconcelos, amigo íntimo daquele sacerdote, a pessoa incumbida da administração dos trabalhadores, compra de material e pagamento aos operários.
No inicio da construção, ou seja, na abertura dos alicerces, dois detalhes dignos de nota para compor a nossa história.
Os valados que iriam servir de base aos alicerces, para suportar o grande peso da torre da igreja, que mediam, francamente, quatro metros de frente, foram preenchidos de pedra e cal. Importante salientar que naquela época os artistas, ou melhor, os homens em geral, tinham a necessária vergonha e estrita responsabilidade em tudo que faziam.
Na atualidade, na preparação da massa (mistura de cal com areia e água) a dosagem de areia suplanta muito a de cal, aplicadas no traçamento. Antigamente era muito diferente. Uma traçadeira era a primeira coisa que o mestre de obra executava. O “batedor de cal”, operário designado para isso, utilizava a seguinte ferramenta: uma peneira de ferro em folha, guarnecida de madeira, de tamanho regular; uma enxada de três libras; um pau devidamente preparado, pesado, arredondado, medindo aproximadamente 1,10m de comprimento; duas latas de querosene; uma pá de ferro.
Eis a dosagem para cada traço: duas latas de cal para quatro de areia (escolhida e peneirada), com uma de barro. Feito isso, o operário misturava tudo com a enxada, para depois molhar a ponto de umedecer por completo. Aí então era a vez do pau, que servia para aplicar uma grande sova de massa, com toda a força dos braços do operário. Terminado esse trabalho, aquela massa acinzentada era posta na traçadeira, acumulando-se grande quantidade, ficando ali para curtir por vários dias. Então, quando fosse preciso, novamente aquela massa voltaria à traçadeira
O operário punha água e depois esfregava caprichosamente as costas da enxada na massa, até triturar qualquer pedrinha que porventura houvesse escapado da peneira.
Assim era como se fazia antigamente qualquer construção, na pedra ou alvenaria. Com o decorrer dos anos, a obra ficava mais segura.
O segundo detalhe é que a construção era necessária uma grande quantidade de pedras para o preenchimento de base. Padre Gonçalinho reuniu a comissão encarregada da construção, para decidir como deveria ser transportada a pedra, material pesado que somente em carro-de-boi poderia ser levado ao local da construção. É que, além de encarecer a obra, o tráfego daqueles veículos antigos prejudicava o centro da cidade. Resolveram o seguinte usariam os carros, da pedreira até as proximidades da cidade.
Todos os domingos, no correr da tarde, até o cair da noite, havia como que a procissão das pedras. O padre, na sua missa conventual das nove, avisava aos paroquianos que naquela tarde haveria “botamento de pedras”. Homens de todas as idades, meninos, moças e balzaquianas constituíam a multidão que espontaneamente comparecia ao local indicado para transportar pedras até o lugar onde a igreja estava sendo erigida. Quem tinha mais força, carregava as pedras maiores.
A banda de música ficava postada no local da futura igreja. Era uma verdadeira retreta. Mais parecia um formigueiro em movimento, com tanta gente indo e vindo. Para os namorados, aquelas caminhadas lhe ofereciam boas oportunidades, pois as senhoritas estavam mais privadas dos olhos de seus pais. Muitos deles para se exibir perante as “zinhas”, traziam na cabeça pedras superiores ao peso que podiam transportar. Muitas cenas de exibição eram presenciadas, como a de seu Artur e outros mais, que, para mostrar sua capacidade de força, conduziam enormes pedras, talvez até de mais de cem quilos, com o paletó servindo de rodilha.
Na segunda feira, os montões de pedras davam suficientemente para o trabalho da semana. Assim, a construção de nossa Igreja Matriz foi feita, gratuitamente, por todos os ipuenses. As centenas de milheiros de tijolos foram transportadas em lombos de jumentos. Leilões, quermesses, rifas, tudo isso concorreu em beneficio da construção.
(Fonte: Ipu do meu Xodó)

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