quarta-feira, 13 de abril de 2011

Apresentação do Livro "Meu Pé de Serra O IPU"


Numa manhã de setembro de 1999, eu ainda convalescia de uma delicada cirurgia que, graças a Deus, fez com eu renascesse para uma nova vida. Aquela circunstância me obrigava a permanecer na cama até um pouco além do costumeiro hábito de acordar cedo para trabalhar, embora eu já festejasse vitória com a euforia de um vencedor. Naquela manhã, mais do que nas anteriores, eu havia acordado me sentindo vigoroso como os raios do sol, que pelas frestas da janela, penetravam no meu quarto, anunciando mais um dia, que para mim, tinha o sabor de uma nova infância. Quase nada eu podia fazer. Televisão, revistas, jornais e para variar, olhar de vez em quando da porta da cozinha minhas vaquinhas pastando ao longe e a rotina do meu cotidiano acontecendo lá fora sem a presença física do seu personagem habitual. Nesse dia, eu mal coloquei os pés no chão quando o telefone tocou, não mais do que duas vezes para que eu atendesse. Não sei porque, mas, um ligeiro pressentimento me induziu pensar que se tratava de uma notícia alvissareira. Talvez pelo bom humor de mais um despertar esperançoso de quem via a vida pela segunda vez. A principio, ainda um pouco assonorentado, tive dificuldade para identificar o meu interlocutor. Apenas alguns segundos e eu, já podia saber de quem se tratava. Um amigo, que por sinal, dificilmente me ligava re por esse motivo eu já podia comemorar aquela ligação como uma boa notícia.Era o diretor de uma emissora local, o escritor e poeta, o músico e seresteiro, boêmio do Ipu, Francisco de Assis Martins ou Professor Francisco Melo ou simplesmente Chico Melo como o chamam na intimidade os seus amigos. Chico Melo me telefonara participando da sua decisão de editar mais um livro, desta vez, sobre reminiscências do Ipu antigo, fatos pitorescos e personagens excêntricas da nossa história. O assunto me fascina profundamente quando ressuscita fatos históricos, coisas do passado, principalmente dos tempos de minha infância e por isso eu já tinha finalmente a boa notícia pressentida, mas, o Chico Melo parecia ainda ter alguma coisa para me dizer. Dito e feito havia deixado por último a verdadeira surpresa. Um honroso convite para prefaciar o seu livro. Não foi fácil conter a emoção pelo convite, assim também não foi difícil externar a alegria e o orgulho pela deferência, para mim inédita.Inicialmente confesso que vacilei, talvez pelo peso da responsabilidade ou pela insignificância de minha participação em um trabalho tão expressivo do Chico Melo sobre nosso Ipu. Mas, porque vacilar? Se pudermos superar nossa timidez, sobretudo, quando falamos de coisas das quais o nosso coração está transbordando? Conhecedor dos sentimentos do autor, da sua vasta cultura sobre a história de nossa terra e de nossos conterrâneos, principalmente por eu ser um admirador e amante compulsivo de nossas memórias, não poderia, jamais, prescindir tão rara oportunidade de enaltecer quem se propôs mergulhar nas profundezas do passado para resgatar lembranças, ressuscitar personagens e cenários vivos que fizeram parte do grande elenco de um espetáculo deslumbrante e colossal; mas que, perdurará enquanto sonharmos e se perpetuará através de autores como o Chico Melo, identificados com o passado, até mesmo com as cenas mais simples e corriqueiras desse espetáculo montado naturalmente no dia-a-dia da nossa vida. O importante, como diz o autor, é registra-las com riqueza de detalhes como memórias para o acervo da nossa história. De lá para cá, quase dois anos se passaram sem que o autor retornasse com o livro. A expectativa aumentava a cada dia que se passava, causando uma certa angústia por não ter logo acesso ao livro que eu queria ver o quanto antes, para degustar o sabor das histórias maravilhosas e me reencontrar com gente que ainda vive na minha lembrança. A demora foi perfeitamente compreensível e por demais compensadora, pois o tempo contribuiu para maturação da obra que finalmente se consolidou no Meu Pé de Serra o Ipu. Um livro de poesias, crônicas e história de figuras inesquecíveis de um passado saudoso do nosso Ipu. Uma verdadeira enciclopédia e fonte de pesquisa para as gerações futuras. Escrito com a sensibilidade inigualável de um ipuense que sabe amar o Ipu, conhece a sua verdadeira história, seus personagens, e, com uma propriedade ímpar, transfere os seus sentimentos para os leitores, estimulando o saudosismo, a preservação dos anos 40/50 do velho e imponente coreto, com a estátua de Iracema que sua história, mas, também, já faz parte do passado. Nas paginas iniciais do Livro, a frase de um grande artista ipuense simboliza o sentimento saudosista do autor e a sua fascinação pelo Ipu: “Ipu em tuas ruas há uma saudade”, do boêmio Wilson Lopes. Num plagio eu diria neste livro “em cada pagina uma lembrança”. Lembranças muito vivas dos saudosos Anos Sessenta; da Estação e das chegadas dos trens; das Festas do Mártir Santo e do Parque do Salvino; da Vila Nova com suas figuras tradicionais; do Cine Moderno e o cinema do Alberto; das animadas Amplificadoras; do Inesquecível Paredão; da Avenida de Iracema e daquele cenário que nos faz lembrar até o perfume dos seus jardins floridos, do saudoso Clube dos Artistas e do aristocrático Grêmio Ipuense de baile tradicionais; do Ten. Clovis e do glorioso TG-2008; do meu querido pai Bitião e suas danças maravilhosas, do Sr. Chico Paz, do Luiz Paulino, do Sr. Antonio Carvalho Martins (meu sogro de saudosa memória); do velho mercado, suas bodegas e seus cafés; dos bares: Cruzeiro, Iracyara e Alabama; do Café da Dª Maria Augusta; das ruas com cadeiras nas calçadas; dos Engenhos e das cheirosas moagens. Tudo neste livro é lembrança do que passou, é saudade com poesia, são versos com melodia, que me transporta de onde estou. A diversificação dos temas é um ingrediente que dá um sabor todo especial ao livro, tornando-o atrativo para consumo imediato. Não dá para ter sono de jeito nenhum. É um misto gostoso de saudade e romantismo, de fatos tristes e histórias jocosas, de vultos hilariantes e curiosidades interessantes, enfim uma obra rara no seu gênero, um livro de um ipuense para todos ipuenses; até mesmo aqueles que não devotam grande amizade a terra, com certeza passarão a admira-la e cultivar as suas gloriosas tradições. Para nós, ficarão sempre as lembranças alimentando os nossos corações saudosistas e para os jovens ficará um bom exemplo de amor ás coisas que fazem história, a história de nossa própria existência. Antonio Tarcísio Aragão (Boris) Ipu (CE) agosto de 2001

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