quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Pensamento não Sai!

O Pensamento não Sai.

Procuro palavras e não encontro. Procuro paisagens e encontro aquela de ainda menino via e ouvia as ventanias da tarde o murmurar do vento da chuva quando se formava no nascente aquelas nuvens escuras dando um colorido magnífico às tardes invernosas do Ipu.
A chuva copiosamente começa a banhar a Ipu e as ruas começam a receber as águas vindas dos altos caindo majestosamente no leito do Ipuçaba.
No final do “chuvoeiro” a contemplação à Bica, com sua enchente que pelo volume d’água era ouvida a distâncias.
Mas procuro palavras para retratar as mansas tardes quando a passarada fazia a sua orquestração nos benjamins e as cotovias arribavam para outras paragens.
Procuro e não encontro como dizer das brigas dos canários, do Moacir Marinho ainda quando o sol ia se pondo. Os canários eram vistos soltos nas mungubeiras fazendo um cantarolar dos mais belos e suaves até onde as suas siringes podiam executar. Chama-se “tesourinha” esse canário que quando em brigas aplicava golpes fortíssimos aos seus adversários, vencendo todas as pelejas sem ter mesmo o famoso concorrente.
Ainda não encontrei como dizer das bocas de noite nas avenidas, a Iracema, era a principal e não sei como éramos tomados por uma emoção de ser jovem, de poder contemplar a extensão do paredão com os namorados sentados na sua parte superior, o bate-papo nos bancos da avenidinha como era chamado, com o Intelectual José Itamar Mourão, falando e ensinando Esperanto a todos nós, dando aula ao natural falando das coisas bonitas do dia a dia. Do Amauri Paulino declamando os sonetos do Padre Antonio Tomás, do José Maria Gomes falando da vida, da sua Tipografia, da iluminação hidráulica, dos postes de ferro dando aquele ar de nostalgia e pureza, das boninas entreabertas, dos jasmins, das amplificadoras, das músicas, da vida, do amor a terra, do canto mavioso dos apaixonados por tudo e por todos causando um equilíbrio dos mais perfeitos nos nossos ambientes de vida de adolescente, enfim o Belo, o Bom, o agradável acontecia sem as ruínas do mal, apenas falávamos dos benfazejos momentos de uma experiência na vida de cada um.
E cadê as palavras? Estão faltando e eu não sei dizer das noites serenas e calmas que tínhamos no Pé de Serra Ipu. Dos “flertes”, em olhares trocados, mas direcionados a mulher desejada. E onde andam os argumentos de não saber dizer dos lampejos fugazes das meninas da época. Meu Deus! Sabemos dizer tantas coisas, mas às vezes falta dizer o que mais sentimos e não sabemos como dizer, para entendermos o que se passa sempre e sempre, muito forte nos corações que suspiram e andejam procurando um lenitivo para matar a sua saudade e aprender pelo menos dizer, sem saber dizer o que dizer.


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