quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Antonio Conselheiro

Antônio Conselheiro no Ipu.

A tragédia de conselheiro, na voz da história de Canudos, é considerada por todo mundo, não somente por escritores que se ocuparam do assunto, mas, ainda, na voz do povo e, não obstantes serem decorridos mais de 50 anos, ainda perdura, na lembrança, o prejuízo de 5.000 soldados que morreram nos sertões da Bahia. Essa Tragédia do velho fanático teve início em Ipu, onde morou por algum tempo, talvez, de um a dois anos.
A história é contada por notável ipuense, homem que conheceu bem os Maciéis, que aqui chegaram vindos dos lados de Quixeramobim, acossados pelas secas de 88. O mais conhecido deles foi Antônio Maciel, que se colocou no lugar “VOLTA DO BOM JESUS”, neste município, onde viveu da agricultura e Fabrício de cal e, de sua família, ainda existirem netos, bisnetos e mais parentes, residindo nas proximidades desta cidade.
Antônio Vicente Mendes Maciel chegou depois de seu primo, Antônio Maciel, veio residir na cidade, na antiga “BOLANDEIRA DO ROLDÃO”, cuja casa está hoje coberta pela fábrica de descaroçar, pertencente á família de Gonçalo Soares, que explorou o comércio de algodão. Durante muitos anos, agora, não com a velha bolandeira, mas com maquinismo perfeito, encobrindo, portanto, a antiguidade que vamos tratar.
Residindo Antônio Vicente Mendes Maciel na bolandeira com sua mulherzinha nova, bonita, jamais teve a idéia de que houvesse uma miséria em sua casa. O futuro Conselheiro era um tanto letrado: professor de sertão escrevia cartas comerciais para bodegueiros e se encarregava de cobrar dívidas, o que dava motivo à ausência até de meses. Ora, morava com ele sua progenitora, aqual, como muitas outras, poderia ter despeito da nora, embora fosse incubado.
Um dia, a mãe de Antônio chamou o seu filho em particular e disse que ele estava sendo traído, pois quando se ausentava, ali entrava um homem fardado, ao que respondeu: - Minha mãe, talvez a senhora tenha raiva de Mariazinha e queira, com isto, fazer-lhe algum mal.
- Pois se você não acredita faça assim: despeça-se dela como para uma viagem, ronde a casa e há de ver o sim da história.
- Veja bem, minha mãe, eu vou fazer isso, mas, se não for verdade, não lhe perdoarei; as sogras quase sempre desejam mal às noras.
Então, preparou-se como para viajar no mdo costumeiro e despediu-se da esposa como para 15 dias de ausência. A casa da bolandeira era recuada uns 20 metros; em frente havia um poço e, no alinhamento, cercada de madeira grossa, tendo ao centro uma forte porteira. O pseudo viajante, cêdo da noite, escondido debaixo da pasta de melão - Caetano que cobria toda a extensão das cercas laterais e da frente presenciou a entrada duma criatura que, sem dificuldade, empurrou a porta e, sem dúvida alguma, já estava de posse da realidade do que fora informado quanto ao caso da esposa. Minutos depois, de faca em punho jogou-se à porta do quarto e, antes que o infeliz soldado pegasse das armas, falou:
Não estremeça, que morre, E, com voz emperrada, balbuciou a sentença: - Sempre amei e zelei mariazinha e nunca esperei que fosse tão miserável; vejo que ela já não precisa de mim. Achou outro melhor e, por isso, desde já, deve sair com ele para lugar distante. Não mais quero vê-la. E tu, bandido, vais levá-la já. Vou te deixar na porteira; não te matarei agora e, sim no dia em que souber que a maltrataste. Olha miserável, o que digo. Sumam-se!
O cabo Joelino Souza desapareceu com a mulher do Conselheiro na escuridão da noite, depois de raspar o medo de ser espetado pelo punhal ameaçador que se achava empunhado pelo homem fera que o acompanhou até a porteira.
Antônio Maciel tornou-se triste, perturbado, denunciando desequilíbrio mental e abandonou a cidade, depois de ter sabido que Mariazinha, a espôsa infeliz, jamais quis comer, e, acometida de febre, faleceu na Vila de São Benedito da Serra Grande. “Santo Antônio”, do proprietário e, sem mais notícias, tomou a deliberação de sair errante profestando contra a república, cantando ladainhas e rezando novenas sertão afora, até chegar a Canudos, lugar escolhido para o teàtro de uma guerra impressionou o País inteiro.
Lá pelas baudas de Canudos, arranjaram a história de que o Conselheiro matara a mãe nessa tragédia da mulher, pois, a velha contara ao filho uma história mentirosa e, vestindo-se com roupa de homem, Fôra morar no quarto. Isso, porém, não aconteceu. Não podia ser ocultado. De modo algum, um caso que seria um dos maiores crimes da história do Ipu. A verdade é esta: Foi aqui que começou a tragédia do Conselheiro.


(extraído do Ipu em Jornal – 1958)

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