sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Antiguidades de IPU

Antiguidades de Ipu
Ano 1961


Ipu, como qualquer outro lugar do mundo teve seus homens valentes e êsses, muitas vezes portadores de feitos heróicos em defesa de seus chefes.
Lutas dignas de aplausos pela coragem indômia que empenham à vida e que a história guarda apenas na voz de quem as assistiu.
As famílias cujos valentes fizeram se destacar nesta terra podem ser mencionados: Os Beneditos, no alto do Quatorze; os Massapés, no Curral da Matança; os Ramos no reino de França; os Cebastas nos Canudos; Os Bastos, no Reino de França; Lúcio da Cecy, no Cemitério Velho; Chico Bastiana e João Herculano no Cajueiro; Raimundão, Lagartixa, na rua das cutias; todos homens que davam o que prometiam quando jurrasem de fazer.Suas armas sempre foram o cacête de jucá e a faca do ferreiro da mina Velha, revòlver era uma arma de milionários e êsses eram bem poucos nos tempos da antiguidade. Nunca merece ser alvo de bravura o matador ladrão, traiçoeiro e perverso porque a semelhança das fraquezas, das ocasiões e da desigualdade de fôrças.
Falemos de homens que feridos no seu íntimo pelo desafio ou por qualquer insulto fizeram desabafar o seu valor defendendo direitos seus e de sua família, de faca em punho ou de cacête á mão, nunca matando, mas, abatendo ou desmoralisando o adversário, bem diferente do perverso pistoleiro de hoje contratado pela própria consciência a ser traiçoeiro e miserável apoiado na confiança dalgum político mandão. Nada de valentia, nada d bravura, somente cobardia e perversidade!
Perversos e máus, miseráveis enfim que produziram crimes horrorosos que bem mereciam as galés perpétuas dos tempos antigos onde num calabouço sem lua eram sepultados como se vivos ainda permanecessem num inferno aqui mesmo na terra.

Chico Bastiana

Foi precisamente entre os anos de 1903 a 1906 que isto aconteceu, Chico Bastiana caboclo de pequena estatura, tocador de viola, tratável conversador, morava no lugar Cajueiro, terras do Coronel Porfírio Josoné de Sousa abastado agricultor e chefe político plantava seu roçadinho, criava os bichinhos de terreiro e fazia suas tocadas de viola em casa a noite e nalgumas festas quando chamado e contratado para ser o tocador, só ou acompanhado d’algum colega aliás raro naqueles tempos.
Chico não carregava armas, apenas um quicé para cortar fumo do cigarro, dizia que faca ficava para cabra malvado que andava atrás de matar os outros. Para êle era a bengalinha de jucá, não muito grossa nem curta, a arma de sua confiança.
Perto de si morava o cunhado João Herculano com quem vinha fazer feita nos dias de domingo.
Num dêsses dias, Chico Bastiana, não encontrou logo cêdo a bestinha que peirava na capoeira e então deu lugar a que João Herculano saísse antes um pouco. Êste vinha trazendo uma carguinha de algodão a qual fez entrega saindo para o mercado.
“Chico ao descobrir a praça, notou grande reboliço e aglomeração do povo e foi quando uma criatura lhe falou’’. Corra seu Chico, que os soldados prenderam seu cunhado e vão açoitando para meter na cadeia”. De repente saltou da montada, amarrou a bestinha numa moita de mofumbo e avançou para o local e, tomando o cacête de um caboclo já na calçada do prédio deu formidável pancada no braço do Alferes Reginaldo, quebrando-lhe o braço e tal qual um gato ágil e destemido meteu o cacête a torto e a direito inutilisando nove soldados do quanto se compunha o destacamento, pois, habilmente batia nos braços e nas pernas pondo-os fora de luta com duas pancadas. Também alguns paisanos meteram-se na luta em favor dos soldados e com êsses aconteceu o mesmo. Ou pior.
João Herculano conseguiu tomar o facão d’um soldado o que muito ajudou na briga. Os lutadores tendo vencido os soldados e alguns paisanos ficaram como dois leões no centro da ma arena rodeada do povo em algazarra enorme.
“No momento da confusão Chico ouve” Que é isto cabra?”E, compreendendo ser voz inimiga ia agora desfechando uma paulada quando viu que era o patrão Cel Porfírio, desculpe meu chefe, eu estava tomando o compadre João Herculano das mãos dos soldados que estavam açoitando meu cumpadre”.
___ E onde estão éles?
___ Correram
___ Pois então vão embora.
E, quando estava romper o isolamento feito pelos circunstantes alguém lhe observou “Meu afilhado, quem está em luta, olha para todos os lados”. E’ que um dos intrusos que faziam Parte pelos soldados de Pedra empunhada procurava ocasião para desfechar à perversa arma contra o bravo caboclo.
Sem hesitar jogou uma capoeirada nos quartos de inimigo o qual correu aos gritos “Me acudam, me acudam” e logo foi levado á farmácia para ser medicado.
Chico e Herculano retiraram-se. Quando passaram em casa de José Preá, na ocasião, lembrou que havia pedido uma espora emprestada e era preciso entregá-la. Foi que notou que a rosêta havia caído sem saber como, quis até teimar do caso, mas afinal lembrou-se da capoeirada no cabra que ia lhe jogar a pedra e concluiu que a càra enfiada nos quartos do miserável.
Com efeito, foi necessário que houvesse uma intervenção cirúrgica para arrancar a peça da espora enfiada nos trazeres do cabra. Façanha esta que não cançava de contar.


Ipu em Jornal – 1961.

Um comentário:

  1. Oi, Mello!

    tenho acompanhado os registros da história e personagens do Ipú.
    Muito bom.
    Não sei se você conhece o livreto do meu tio Marrocos - Antonio Marrocos de Araújo - publicado em 1982, "A Coluna Prestes no Interior do Ceará".
    É uma narrativa rica e muito interessante dos fatos acontecidos nesta época.
    Talvez fosse interessante registrar no seu blog.

    Abraço,

    Lúcia

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